Por Evelyn Araripe e Luciano Frontelle, da Agência Jovem de Notícias*
A Agência Jovem de Notícias bateu um papo rápido com Pedro Telles, porta-voz do Greenpeace Brasil na COP21. Pedro é um jovem ativista climático, formado em Relações Internacionais, trabalhou no Vitae Civilis antes de ingressar em um mestrado em Desenvolvimento na Inglaterra. De volta para o Brasil, cheio de energia, entrou para o time do Greenpeace, onde é campaigner de ações relacionadas ao tema Mudanças Climáticas. Em nossa conversa ele avaliou a atuação da presidente Dilma e do governo brasileiro na COP e as pautas que a sua organização defende aqui na Conferência. Confira!
Como você avalia a participação da Dilma no primeiro dia da COP21?
Bom, o discurso da Dilma não teve grande surpresas, ela repetiu muito o que já havia sido falado. Foram importantes alguns aspectos que ela trouxe, como reforçar o valor e a demanda pra que as promessas que sejam feitas aqui em Paris sejam renovadas e tenham a ambição elevada a cada 5 anos. Ela também pediu que o acordo seja vinculante, isso também é relevante. Ela lembrou a questão de Mariana, ela destacou o desastre de Mariana que é um tema que mesmo que fuja aqui do contexto de clima, ainda assim é um posicionamento político importante. Ela obviamente colocou muita culpa nas empresas e não mencionou o papel do governo que também teria que ser mencionado. A proposta brasileira é frágil. É fraca em termos de desmatamento, é fraca em relação à questão de expansão de renováveis que fica muito aquém do que poderia ser.
Qual seria então o cenário ideal?
Vemos que há duas prioridades absolutas para a gente considerar essa negociação um sucesso. A primeira é que defina-se uma meta de longo prazo. Então o que a gente está colando aqui na mesa até agora, em Paris principalmente, são metas de 5 e 10 anos que os países já trouxeram. Além dessas metas de curto prazo tem que ter uma de 100% de energias renováveis até 2050. Por que isso? Porque daria um sinal muito claro pro mundo inteiro, pra governos, pra investidores etc. Uma mensagem de que o mundo vai caminhar pra zero emissões ajudaria a movimentar a economia e direcioná-la na direção que ela tem que ir. Se colocar uma meta para 2100 ou uma meta com uma linguagem fraca de longo prazo, a gente não vai colocar a pressão necessária pra que isso aconteça. Um aspecto importante, portanto, garantir uma boa meta de longo prazo.
Um segundo aspecto crucial é que essas metas de curto prazo que estão sendo colocadas sejam mais ambiciosas. O Brasil, por exemplo, se comprometeu a acabar com o desmatamento ilegal na Amazônia até 2030. Então é uma meta que consideramos absurda. O governo está falando: “Eu vou tolerar a ilegalidade por mais 15 anos na Amazônia e por mais um prazo indefinido em outros biomas, em outras florestas”. É inaceitável o governo dizer que vai tolerar a ilegalidade, tinha que dizer que vai acabar com o desmatamento agora e tornar mais ilegal, tornar toda forma de desmatamento ilegal. No novo acordo sobre o clima tem que ter um mecanismo que leve os países a elevarem sua ambição a cada 5 anos. Como a gente já sabe que os compromissos que já estão na mesa e que já foram apresentados não são suficientes, é preciso renová-los a cada 5 anos, torná-los mais ambiciosos. E o novo acordo tem que prever isso.
E quais são os destaques que você pode contar pra gente sobre os primeiros dias da COP que são importantes pra galera ficar sabendo?
No geral, os presidentes demonstraram um compromisso concreto com o novo acordo mas não houve grandes novidades. Teve uma coisa ou outra interessante, como a do presidente do Equador que pediu a criação de uma corte internacional do meio ambiente.
Ademais, tivemos na área de energia solar dois lançamentos de iniciativas que foram muito importantes. Uma da Índia puxando 120 países entorno de uma aliança solar que vai focar principalmente na troca de conhecimentos e no apoio mútuo de países em desenvolvimento para a expansão de energia solar, alocando dinheiro, a criação de uma sede e uma rede que já está constituída pra isso acontecer etc. Eles esperam movimentar 1 trilhão de dólares até 2030 pra fortalecer o solar no mundo especialmente no sul global. E a outra foi a de um grupo de grandes investidores, como Bill Gates, Marck Zuckerberg e [Ratan] Tata, que é um grande empreendedor indiano, se juntando a países pra anunciarem um novo fundo pra energias renováveis. Ele anunciaram que vão investir em pesquisa e em empresas de energias renováveis com grande potencial de expansão.
Mas isso não parece mais uma jogada de marketing?
É interessante ver esses atores fazendo isso. No entanto, eles têm que fazer mais do que isso, porque essas são iniciativas pontuais. E o que vai solucionar mesmo é um compromisso muito concreto, com ações que vão na linha de políticas públicas também pra além de só disponibilizar recursos.
Acho que a principal novidade desses primeiros dias, na verdade, foi ver um grupo de 43 países, entre os mais vulneráveis no mundo, falando que até 2050 eles vão ser 100% renováveis e carbono neutro. Isso ajudou a levantar muito o nível dessa meta de longo prazo que eu falei e ajudar a pressionar outros países a também seguirem esse exemplo. (#Envolverde)
* Evelyn Araripe e Luciano Frontelle, da Agência Jovem de Notícias, faz parte da cobertura especial para Envolverde, em Paris.