Debate sobre nova escola deve ser com menos polícia e mais conversas francas entre especialistas, professores, pais e jovens
Por Thiago Mourão*
Um dos pontos altos do musical “Matilda”, da Broadway, é a cena em que as crianças cantam “Revolting Children”. Na emocionante cena, eles se declaram como as crianças em revolta e, coreograficamente, mudam a configuração da sala, riscam no quadro e assumem a frente das carteiras.
Esta cena foi transportada para a realidade de São Paulo desde o dia 10 de novembro. Rebelando-se contra a decisão de cima para baixo do governador Alckmin de fechar 93 escolas, os adolescentes ocuparam cerca de 200 prédios e criaram algo que pode revolucionar nossa forma de olhar para o espaço de aprendizado: a #DoeUmaAula. É uma campanha para que as ocupações mantenham atividades culturais e aulas de matérias formais. Mutirões foram feitos para a pintura e conservação dos prédios.
Os alunos, pais e professores envolvidos no movimento criaram um formulário onde o voluntário informa as oficinas que ministra, em quais escolas pode ir, contato e material de que precisa.
Se o Estado brasileiro fosse comandado por estadistas e líderes, perceberia que este momento é essencial para a Educação do país. Mais do que um pedido por mais debate e menos fechamento de escolas, é a demonstração do que deve ser um espaço de desenvolvimento intelectual e social. Ele deve ser diversificado, tanto em conteúdo quanto em perfis de estudantes. E a escola dos alunos deve criar, refletir e ter ensino mais direcionado, ressaltando a multiplicidade de expressões.
A ocupação das escolas paulistas e o projeto #DoeUmaAula são o primeiro passo para uma nova escola, muito mais flexível e menos imbecilizadora e que sirva à comunidade, como um ponto de cultura.
Geraldo Alckmin recuou da ideia de jerico de fechar 93 escolas, sem qualquer conversa e via decreto, depois que viu sua popularidade despencar. Seu desafio agora é ampliar e aprofundar o debate diante da necessidade de uma nova escola; isso deve ser feito com menos polícia e mais conversas francas entre especialistas, pais e os mais interessados: professores e jovens.
O Ministério da Educação precisa mostrar serventia e se pronunciar, colocar-se no debate que os estudantes tornaram nacional. E os políticos precisam ser menos eficientes em fuzilar jovens negros e em bombardear manifestantes e entender que estamos na era da informação rápida. Plataformas digitais podem ser essenciais para esta comunicação.
Os estudantes que gozaram da democracia e do direito às ruas nos mostraram que o Brasil não pode entrar no século XXI pensando educação como no século XX. É uma sinalização ao governador Pezão de que ele não deve pôr em risco as Bibliotecas Parque e a Uerj.
Viva a rebeldia!
* Thiago Mourão é escritor.
** Publicado originalmente no site O Globo.