Foto: Divulgação
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Por Liliane Rocha* 

Assistir ao filme “As Sufragistas” gera um impacto profundo em qualquer mulher, não importa a idade, orientação sexual, se é de esquerda ou direita ou o que pensa do mundo. E mais, certamente, impacta também qualquer homem que assista. Não há como ficar indiferente à realidade de luta e violência pelas quais as mulheres Sufragistas, não só as do filme, mas em todo o mundo vivenciaram para conseguir igualdade de um direito que hoje, já em muitas partes do mundo parece tão básico.

Para mim, o grande ponto de catarse ocorreu devido ao fato de durante toda a sessão e não conseguir tirar da minha cabeça dois pensamentos. O primeiro pensamento sobre a importância genuína e fundamental na nossa sociedade daquelas pessoas que não aceitam o status quo. Que se recusam a acreditar que assim é porque assim sempre foi. E ao contrário, lutam por mudanças importantes e essenciais com toda a sua verdade, ainda que para isso precisem dar as suas próprias vidas. E realmente almejam a toda esperada mudança, que para sempre transformará a sociedade ainda que estas pessoas estejam esquecidas.

O segundo pensamento foi um pergunta. “O que mudou?”. Sim, eu sei que muito mudou, mas quanto mais os minutos transcorriam mais eu lembra-me de alguns dados da sociedade brasileira.  Entre 189 países o Brasil ocupa 62ª posição no ranking de desigualdade de gênero do Fórum Econômico Mundial. As mulheres representam 60% do contingente que sai das graduações. Ainda em ranking mundial, quando analisados 142 países para o critério de igualdade salarial entre homens e mulheres o Brasil ocupa a 124ª posição. Os últimos estudos do IBGE mostraram que as brasileiras ganham, em média, 76% da renda dos homens, e se esta desigualdade permanecer, a tal almejada igualdade chegará somente em 2095. Na política, entre 189 países, o Brasil ocupa 129º lugar em participação feminina. Mulheres brasileiras ocupam 8,6% da Câmara dos Deputados. No Senado 16%. Nas 500 maiores empresas brasileiras, no quadro funcional 33% são mulheres, em cargos de liderança 13% ou 14%. Quando miramos o mais alto patamar das empresas, a posição de CEO, poucas são as mulheres brasileiras nesta posição.

Em 2014, foram cerca de 480 mil denuncias feitas por mulheres que estão sofrendo violência doméstica por agressões físicas, violência psicológica, moral, cárcere privado e violência sexual. Os números assustam por serem altos, mas por outro lado, podem estar mostrando que as mulheres estão vencendo o medo. A legislação em geral tem avançado, no âmbito da proteção e do direito integral temos, por exemplo, a lei Maria da Penha. Estudos do Fórum Brasileiro de Segurança Pública apontam que no Brasil em 2014 tivemos 1 estupro de mulher a cada 11 minutos.

No campo do mundo corporativo a legislação do Brasil, a exemplo do que tem sido feito em países da Europa e Estados Unidos, já começa a avançar. Temos o Projeto de lei que prevê o estabelecimento de cotas gradativas para mulheres nos Conselhos Administrativos das empresas até 2022. Pelo projeto, as empresas teriam de atingir a participação feminina de 10% em 2016, 20% em 2018, 30% em 2020 e 40% em 2022. E uma proposta de emenda constitucional tramitando no senado que estipula percentual mínimo de representação nas três próximas legislaturas: 10% das cadeiras na primeira legislatura, 12% na segunda legislatura e 16% na terceira. A medida atinge Câmara dos Deputados, assembleias legislativas, Câmara Legislativa do Distrito Federal e câmaras municipais.

Uma recente pesquisa da Bain Company, tentou encontrar respostas para essa questão. “Apesar da abundância de mulheres qualificadas e ambiciosas, apenas 4% dos principais executivos entre as 250 maiores empresas brasileiras são do sexo feminino. As mulheres estão particularmente subrepresentadas em posições de gerência executiva, primeiro passo para promoções a níveis hierárquicos mais elevados. Como apenas 14% desses cargos são ocupados por mulheres, não surpreende que, neste ranking de importantes companhias do país, encontremos somente nove CEOs do sexo feminino”.

Assim é, mas não porque assim sempre foi ou porque assim sempre será. Assim é, mas o que a história e o filme nos mostram é que avanços são possíveis. Exige esforço, exige dedicação, exige pessoas com um grau de inconformidade com a realidade tal qual ela está posta. Não é possível parar, filosofar e desenhar a sociedade ideal para prosseguirmos. A mudança é feita a cada dia por cada um de nós. . Portanto avancemos, pois ainda há muito o que mudar. (#Envolverde)

* Liliane Rocha é diretora Executiva da empresa Gestão Kairós (www.gestaokairos.com.br), mestranda em Políticas Públicas pela Fundação Getúlio Vargas, MBA Executivo em Gestão da Sustentabilidade na FGV, Extensão de Gestão Responsável para Sustentabilidade pela Fundação Dom Cabral, graduada em Relações Públicas na Cásper Líbero. Gestora com 11 anos de experiência na área de Responsabilidade Social tendo trabalhado em empresas de grande porte – tais como Philips, Banco Real-Santander, Walmart e Grupo Votorantim. Escreve mensalmente para a Envolverde sobre Diversidade.