Internacional

Áreas tribais recuperam a normalidade

As pessoas deslocadas das áreas tribais do Paquistão regressam às suas casas, depois da exitosa operação militar que expulsou o Talibã da região. Foto: Ashfaq Yusufzai/IPS
As pessoas deslocadas das áreas tribais do Paquistão regressam às suas casas, depois da exitosa operação militar que expulsou o Talibã da região. Foto: Ashfaq Yusufzai/IPS

Por Ashfaq Yusufzai, da IPS – 

Peshawar, Paquistão, 16/2/2016 – Depois da expulsão do Talibã de Cabul pelas forças norte-americanas em 2001, seus combatentes se refugiaram no Paquistão, e em poucos anos passaram a controlar os sete distritos das fronteiriças Áreas Tribais sob Administração Federal (Fata). Mas isso já é história.Uma operação do exército paquistanês foi letal para os talibãs que dominaram vastas zonas das Fata durante uma década, caracterizada por ataques contra escolas, pois se opunham à educação, especialmente das meninas, por considerar que isso vai contra o Islã.

“O Talibã destruiu mais de 750 escolas, a maioria de meninas, nas áreas tribais e na vizinha província de Jiber Pajtunjwa entre 2005 e 2012”, afirmou Jaffar Ahmed, do departamento de educação dasFata.Não houve mais episódios violentos contra escolas depois da campanha lançada no começo de 2015 pelo exército, que acabou expulsando os talibãs das Fata e fez com que perdessem a capacidade que tinham de atuar. A operação militar começou depois do ataque contra uma escola pública do exército, em dezembro de 2014, no qual morreram 150 pessoas, na maioria internos.

A campanha militar faz parte do Plano de Ação Nacional, aprovado por todos os partidos políticos, que eliminou os insurgentes em quase 95% das áreas tribais. “A crueldade do Talibã obrigou as pessoas a fugirem em busca de segurança. Agora, os que foram deslocados começaram a regressar”, afirmou Mahmood Shah, ex-secretário de segurança das Fata. Cerca de três milhões de pessoas se refugiaram de forma temporária na vizinha Jiber Pajtunjwa, uma das quatro províncias do Paquistão, e 500 mil delas regressaram com a volta à normalidade na região.

“Suspiramos aliviados por ter acabado a crueldade do Talibã. Estamos impactados com o anúncio do governo sobre nosso retorno”, confessou Muhammad Shabbir, residente na agência de Jiber, um dos distritos dasFata. “Deixamos nossa terra quando o Talibã destruiu as escolas e proibiu a vacina contra a poliomielite”, acrescentou.O Talibã se opunha à imunização e levou adiante várias campanhas contra os voluntários que aplicavam a vacina nas áreas tribais. Também afirmava que a educação atentava contra o Islã e pretendeu proibi-la.

Shabbir espera que meninas e meninos em breve regressem à escola. Também foram reiniciadas as imunizações para protegê-los de doenças.No dia 5 deste mês, os comerciantes reiniciaram suas atividades em Bara Bazaar na agência Jiber, após sete anos de interrupção. O mercado foi fechado por causa da crescente atividade insurgente, que obrigou as pessoas a fecharem seus negócios e buscar refúgio em outros lugares.

“Limpamos a área de insurgentes e fizemos complexos acordos para garantir a segurança do mercado”, disse à IPS o agente de polícia Shahab Ali Shah.São revistadas todas as pessoas que entram e saem do mercado, que funcionadas8 às 18 horas, para prevenir ataques terroristas, e também foram instaladas câmeras de segurança em seis lugares para controlar o movimento das pessoas, acrescentou o policial.

Os comerciantes estão emocionados com o reinício das atividades. “Sofremos grandes perdas econômicas por causa do terrorismo e queremos uma paz total. Todos os comerciantes se comprometeram com o governo a não fazer doações aos insurgentes”, pontuou o dirigente dos comerciantes, Abdul Jabbar. “Também pedimos ao governo empréstimos a juros baixos para reiniciarmos nossos negócios. É urgente uma ajuda econômica para reparar nossos estabelecimentos e começar de novo. Cerca de 70% das lojas do mercado estão em péssimas condições”, destacou.

As autoridades também começaram os trabalhos de reparação e reconstrução das escolas atacadas pelo Talibã. “Jiber Pajtunjwa reconstruiu 200 das 250 escolas destruídas”, apontou à IPS o ministro da Educação, Atif Jan. Também foram criados comitês comunitários para proteger as escolas. Há cerca de 15 mil guardiões capacitados em segurança para enfrentar a situação”, acrescentou.

Segundo o diretor de Educação dasFata, Muhammad Nadim, “cerca de 400 estudantes perderam aulas, e agora são feitos esforços para que regressem, e não haverá férias de verão nas escolas abertas depois da campanha militar, para que os alunos recuperem o tempo perdido”. Os estudantes não voltam apenas para as salas de aula, mas também praticam diferentes esportes,ressaltou.

“Pedimos ao exército que continue a campanha até erradicar os talibãs e conseguir uma paz duradoura”, enfatizou Jawad Shah, estudante do 10º grau de uma escola do Waziristão do Norte, até agora a base do Talibã nas Fata. Envolverde/IPS