Seminário do Instituto Brasileiro de Formação de Educadores discute tendências e aponta caminhos para ampliar o engajamento dos nativos digitais.
Por Marina Lopes, do Porvir –
O mundo não pode mais se desconectar. Diante do excesso de informações e da velocidade das transformações, a grande pergunta é: como a educação se prepara para isso? Para o português Luís Rasquilha, especialista em futuro, tendências e inovação, o primeiro passo é refletir sobre a própria definição de educação, que já não pode mais ser entendida como apenas um conjunto de normas pedagógicas.
Durante o 1º Seminário de Tendências e Inovação na Educação, realizado nesta quarta (9), pelo IBFE (Instituto Brasileiro de Formação de Educadores), em Campinas (SP), Rasquilha afirmou que o grande desafio da atualidade é tentar manter o foco em um momento de permanente transformação. “É a primeira vez na história da humanidade que as gerações mais novas têm mais informações que as gerações mais velhas. É a primeira vez que o aluno entra na sala de aula e sabe tanto ou até mais sobre o tema do que o professor.”
Com a possiblidade de pesquisar qualquer tipo de informação por meio de um smartphone, o especialista em tendências disse que vivemos em um período no qual a vida se mistura com softwares e hardwares. “Quer a gente goste ou não, o mundo de hoje é o mundo da conexão”, constatou, ao defender que os educadores precisam estar preparados para lidar com essa mudança.
Ao traçar um panorama de algumas das principais tendências para os próximos anos, Rasquilha chamou atenção para a necessidade de tornar a educação mais interessante. E, segundo ele, esse caminho passa pelo empoderamento dos alunos, criação de ambientes propícios para o compartilhamento de ideias, transformação da escola em uma verdadeira experiência engajadora, integração entre diferentes conteúdos e o uso da tecnologia. “Mais do que enfiar goela abaixo o que o aluno vai estudar, temos que trazer ele para perto”, afirmou.
De acordo com Rasquilha, há um descompasso muito grande entre o que as instituições educacionais oferecem e o que os alunos precisam para enfrentar alguns desafios da vida, como ingressar no mercado de trabalho, por exemplo. “As empresas estão pedindo outro tipo de pessoas, que não são aquelas que estão saindo das escolas ou faculdades”, explicou. O especialista português ainda mencionou que se as estruturas não mudarem, o caminho será a substituição das universidades tradicionais por universidades corporativas.
“Nós entramos na escola, aos seis anos, com 98% de índice criativo; saímos da faculdade, aos 23 ou 24 anos, com apenas 2%. Hoje o que as empresas mais procuram são pessoas criativas, inovadoras e com pensamento fora da caixa. E nós, ao longo da formação deles, estamos tirando isso e colocando todo mundo para pensar da mesma forma”, refletiu Rasquilha. Segundo ele, diante de todo cenário apresentado, há cinco recomendações que todos os professores deveriam ter a obrigação de incorporar nas suas vidas: o aprendizado mão na massa, estratégias rápidas de dar informações e promover o engajamento, apresentação de conteúdos relevantes e a quebra de fronteiras entre as matérias.
Para ilustrar a fala do especialista português, o professor Marcelo Veras, iniciou a sua apresentação com uma situação vivenciada na universidade. Enquanto dava aula de marketing para uma turma de MBA, ao falar sobre um autor e mencionar que não tinha certeza se ele ainda estava vivo, um aluno prontamente pesquisou no seu smartphone e levantou a mão para compartilhar as informações encontradas. Além de exemplificar a velocidade que a informação pode chegar até a sala de aula, o caso apresentado serviu para mostrar que conexão não é sinônimo de dispersão.
Autor e organizador do livro “Métodos de Ensino para Nativos Digitais”, Veras reuniu algumas das críticas mais recorrentes entre os professores durante encontros de formação. Entre elas, aparece a reclamação de que esta geração, composta pelos chamados nativos digitais, não sabe escrever corretamente e abrevia tudo. No entanto, segundo ele, a própria palavra “você”, que hoje muitos adolescestes escrevem com a abreviação “vc”, já representa uma redução de “vosmecê” e “vossa mercê” na língua antiga.
“Eu estou vendo uma guerra travada por parte dos profissionais de educação com essa nova geração. As pessoas não estão entendendo o que está acontecendo”, contou. De acordo com ele, para engajar os alunos desta geração, quatro pilares devem direcionar a estratégia pedagógica: a exposição dos projetos desenvolvidos pelos alunos, a competição, desde que realizada de maneira saudável, a participação e a colaboração.
Na tentativa de entender como deveria ser a escola do futuro, Veras participou de um estudo que ouviu alunos, professores e pais de escolas parceiras do grupo Unità Educacional. Durante o seminário, ele apresentou alguns resultados da pesquisa, que traz respostas muito semelhantes entre atores envolvidos: um descontentamento com o currículo, os métodos de ensino, a arquitetura da escola e o sistema de avaliação.
Mas dá para ser inovador dentro de um setor que ainda mantem estruturas muito conservadoras? Segundo ele, a resposta é sim. No entanto, o professor deverá se reinventar para assumir novos papeis, que envolvem a curadoria de conteúdos, o diagnóstico cognitivo do que cada aluno aprende e a liderança de equipes, porque o aprendizado deve se tonar cada vez mais participativo e colaborativo. “O que está precisando mudar é o método”, concluiu, ao mencionar que falta de tecnologia ou dinheiro não podem ser uma desculpa para não inovar dentro da sala de aula.
No final do evento, três professores participantes ainda foram convidados para compartilhar experiências bem-sucedidas de inovação na sala de aula.
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* A repórter esteve em Campinas a convite do IBFE.
** Publicado originalmente no site Porvir.