Internacional

Coleta de água de chuva alivia escassez

Técnicos do Banco de Água da África dão os últimos retoques a um tanque de armazenamento na área de DukaMoja, no condado de Narok, no Quênia. Foto: Justus Wanzala/IPS
Técnicos do Banco de Água da África dão os últimos retoques a um tanque de armazenamento na área de DukaMoja, no condado de Narok, no Quênia. Foto: Justus Wanzala/IPS

Por Justus Wanzala, da IPS

Narok, Quênia, 5/8/2016 – No Quênia, como em outros lugares, não é novidade guardar água de chuva. Mas neste país caracterizado pelo déficit hídrico e onde dois terços de seu território são áridos e semiáridos, a busca por uma solução duradoura para a escassez permitiu inovar nessa prática antiquíssima.O não governamental Banco de Água da África (AWB) se comprometeu a fornecer água potável mediante um método muito mais eficiente.

O eixo da tecnologia é coletar e armazenar grandes quantidades de água por meios como uma área de coleta melhorada, um sistema de condutores e de armazenamento, além de filtros, medidores do nível da água e aparelhos para descarregá-la.

Um sistema de coleta típico armazena entre 400 mil e 450 mil litros de água em duas a três horas de chuva intensa. Tem um teto artificial de 900 a 1.600 metros quarados e tanques de armazenamento. O maior tanque construído neste condado queniano de Narok tem capacidade para 600 mil litros. Todas as unidades podem ser ampliadas segundo as necessidades de seus proprietários.

Com esse volume cobre-se as necessidades de uma comunidade de aproximadamente 400 pessoas por cerca de 24 meses sem chuvas adicionais. Pode-se aumentar sua capacidade em cerca de 220 mil litros ao ano. O sistema é de baixo custo e se mantém totalmente com insumos locais. Também usa capacidades, trabalho, materiais e tecnologia locais.

O sistema “equivale a ganhar dinheiro e guardá-lo em um banco, por isso levamos o nome de Banco de Água.O tamanho instalado em cada casa depende das necessidades da família”,explicou o diretor executivo do AWB,Chip Morgan, que trabalhou durante décadas em questões de desenvolvimento em sua Austrália natal, onde a escassez hídrica é um grande desafio para muitas comunidades das zonas áridas.

O AWB trabalha atualmente nesse condado da região do Vale do Rift, habitado principalmente pala comunidade de pastores maasai. Mas a tecnologia também foi instalada nos condados semiáridos de Pokot, Machakos, Samburu e Kajiado, no Quênia, bem como no distrito de Chavuma, em Zâmbia. Em sua maioria os clientes são domicílios particulares e instituições como hospitais e escolas.

A construção dos tanques é financiada com fundos das comunidades, doadores e indivíduos que cobrem 50% do custo antes do início das obras. Há uma grande demanda, segundo Morgan, mas ainda estão na fase em que as pessoas se inteiram de seus enormes benefícios “Este ano estamos totalmente ocupados. Nosso objetivo é construir 50 unidades por ano”, destacou.

Segundo um informe do Programa de Monitoramento Conjunto de 2012, o acesso seguro a fontes de água potável no Quênia era de 50%, enquanto a sistemas de saneamento de 32%. A situação pode ter melhorado desde então, mas o desafio de facilitar a disponibilidade de água continua sendo grande, tanto no campo como nas cidades.

A falta de sistemas adequados de água e saneamento propicia as doenças derivadas das más condições de higiene em menores de cinco anos. Além disso, um tanque pequeno permite regar uma estufa de aproximadamente 1.300 metros quadrados e assim melhorar a segurança alimentar.E, ainda, as melhores condições de água e saneamento ajudam a aliviar a carga de trabalho das mulheres, encarregadas de buscá-la, o que permite que dediquem esse tempo a outras atividades.

Morgan afirmou que empregam trabalhadores locais capacitados e não capacitados e continuamente melhoram a formação de seus técnicos. Isto é fundamental porque o surgimento dos tanques de plástico eliminou a demanda por operários, reduzindo o número de especialista na matéria. Esses tanques podem durar toda a vida, acrescentou.

O AWB conta com dois engenheiros que formam técnicos que vêm do estrangeiro para se capacitar. Quatro organizações de Uganda aproveitaram seu programa de transferência de capacidades e enviaram seus empregados para se formar na tecnologia de coleta de água de chuva.

Wataka Stephen, procedente de Mbale, em Uganda, deseja completar o curso e aplicar o conhecimento em seu país. Por sua vez, SwagaJaberi disse que no leste ugandense as pessoas dependem de poços de água que secam e que cavar novos é muito caro. De fato, ele quer aplicar o sistema do AWB em hospitais, escolas e centros comunitários.

A coleta de água permite salvar o gado durante as secas prolongadas, e também melhorar a educação. O diretor da escola primária mista IlkeekAare, com turnos diurno e internato, não esconde sua satisfação. Desde o término da construção do tanque de 600 mil litros, em março deste ano, há água suficiente para atender todas as necessidades da instituição, que conta com 410 alunos, 180 dos quais vivem ali, além de aguentar entre uma estação chuvosa e outra.

A construção do teto para coletar água, cerca de 400 metros quadrados, chegou a US$ 43 mil, financiados pelo Rotary Clube do Quênia e o AWB. Além disso, os pais tiveram que contribui com US$ 50 por família, “para garantirem a propriedade do projeto para sua sustentabilidade”.Inclusive, a matrícula aumentou de 106 alunos, em 2013, para os 410 atuais, pontuouAare.

Além disso, a disponibilidade de água permitiu melhorar o programa de alimentação, o que beneficiou o rendimento escolar e facilitou as práticas de higiene, afirmou OleTempa.De fato, há vários estudos do Ministério da Educação e de outros órgãos independentes que revelam que a falta de água e de boas condições de saneamento elevam o absenteísmo escolar das adolescentes quando estão menstruadas. Isso prejudica seu rendimento e inclusive leva algumas a abandonar os estudos.

Segundo Tempa, antes de contar com o tanque de água, gastavam cerca de US$ 480 a cada três meses para comprar água. Além disso, já planejam criar uma horta e conseguir duas vacas leiteiras para gastar menos com leite.O governo também reconheceu o impacto positivo na educação que as tecnologias têm para coletar água, especialmente em zonas áridas e semiáridas.

Essa coleta não garante apenas sua disponibilidade, mas contribui para conservação da água, bem como para minimizar a superexploração das bacias, além de reduzir aágua que escorre quando as precipitações são fortes, o que, certamente, ajuda a evitar inundações e erosão do solo.

Morgan enfatizou que o AWB está disposto a superar os desafios, em especial os econômicos, associando-se com instituições financeiras. É uma forma de não depender dos doadores e de aliviar a carga sobre as comunidades, que carecem de fundos para construir grandes unidades de armazenamento. Envolverde/IPS