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Moda: uma força para o bem

Produção de algodão orgânico, combate ao trabalho forçado e infantil e melhores condições de trabalho na indústria da moda são as bandeiras do Instituto C&A. 

Por Katherine Rivas, da Envolverde –

Em comemoração aos seus 25 anos, o Instituto C&A realizou um debate sobre a sustentabilidade na indústria da moda. Organização de investimento social privado, o Instituto C&A já realizou mais de 2000 projetos com foco na melhoria da qualidade da educação de crianças e adolescentes no Brasil. Hoje o seu objetivo é direcionar a moda para o bem comum. Enquanto que a empresa C&A tem a meta de que todos seus produtos sejam fabricados com algodão orgânico até 2020.

Giuliana Ortega, diretora-executiva do Instituto apresentou ao público os objetivos para os próximos três anos: Incentivo ao Algodão Sustentável, Combate ao Trabalho forçado e trabalho infantil e Melhores condições de trabalho na indústria da moda.

O plano de trabalho do Instituto C&A conta com três pilares: Incentivo ao Algodão Sustentável, Combate ao Trabalho forçado e trabalho infantil e Melhores condições de trabalho. Em todos os programas, a organização vai olhar para as questões de gênero. Dados de pesquisa encomendada pela organização revelam que a indústria da moda envolve 1,5 milhões de trabalhadores no Brasil, 75% destes são mulheres. No entanto, as condições laborais delas nem sempre são as melhores.

O evento aconteceu no auditório da Unibes Cultural e contou com a participação das instituições parceiras dos projetos educativos. Entre os debatedores que apresentaram as novas diretrizes da iniciativa estavam a consultora de moda sustentável Chiara Gadaleta, o pesquisador da Embrapa, Fabio Aquino, a socióloga Mércia Silva e o jornalista Marques Casara.

 Chiara Gadaleta debate com os convidados a importância da era da moda sustentável no Brasil. Foto: Katherine Rivas

Chiara Gadaleta debate com os convidados a importância da era da moda sustentável no Brasil. Foto: Katherine Rivas

Com um investimento em 2016 de 33 milhões de reais, o foco serão todos os programas do Instituto C&A. Na área de algodão orgânico, o Nordeste será uma das principais regiões por concentrar a produção deste material.

O Instituto C&A considera que a produção de algodão tradicional provoca graves desordens no meio ambiente como o uso inadequado da água e excesso dos pesticidas químicos que produzem danos à saúde dos produtores.  A empresa tem como objetivo gerar uma transformação social que conecte o consumidor ao uso positivo da moda. “A moda precisa ser uma força para o bem. No âmbito pessoal isso já acontece, ao se sentir bonita experimentamos uma sensação de bem-estar, mas essa sensação precisa existir também em quem produz a roupa. Um consumidor consciente vai trazer demandas para criar uma moda mais sustentável. As empresas, fábricas de costura e o poder público precisam participar disso”, afirma Giuliana Ortega.

Para Giuliana Ortega é prioridade fortalecer os produtores e a autonomia do seu trabalho. Foto: Paulo Leite
Para Giuliana Ortega é prioridade fortalecer os produtores e a autonomia do seu trabalho. Foto: Paulo Leite

Coordenadora do projeto EcoEra e consultora de moda sustentável, Chiara Gadaleta, acredita que hoje é impossível falar de moda sem integrar esta a políticas ambientais. “A moda é uma fotografia do nosso tempo. Com o virar dos anos 2000 o planeta gritava urgências sociais e ambientais. Então o que a moda representaria? O planeta não consegue mais consumir, produzir e descartar. Moda por ser um retrato do tempo precisa estar aliada a tudo isso”, explica.  Chiaria comenta que hoje o ciclo está fechado e que o consumidor contribui ativamente com o surgimento de uma nova era na indústria.

 

Algodão orgânico e agricultura familiar

O jornalista Marcos Casara considera que o benefício de plantar algodão orgânico no Brasil será o impacto, de forma direta, na saúde das famílias dos produtores. Já o pesquisador da Embrapa, Fabio Aquino vê no projeto a oportunidade de fortalecer profissionalmente os pequenos agricultores e a indústria familiar. Para Aquino, o algodão precisa estar inserido nas condições ambientais corretas, preparando as gerações futuras para assumir novas iniciativas com outra visão. “Com o plantio de algodão orgânico vamos diminuir a necessidade hídrica e empregar mais famílias”, expõe.

Na visão de Aquino e Casara esta será uma forma de registrar práticas sustentáveis reais. No entanto, eles acreditam na necessidade de estabelecer um modelo de Certificação Participativa, onde se acompanhe de perto cada etapa da produção verificando que sejam respeitados os três pilares relacionados a trabalho, direitos humanos e sustentabilidade.

O Instituto C&A estabeleceu três etapas até o ano 2018 para o andamento do projeto: mapear as organizações que parceiras, criar projetos e colher os primeiros resultados de experiências piloto.

Paulo Correia presidente da C&A Brasil: “Até 2020 pretendemos que 100% do nosso algodão seja orgânico”. Foto: Arquivo C&A
Paulo Correia presidente da C&A Brasil: “Até 2020 pretendemos que 100% do nosso algodão seja orgânico”. Foto: Arquivo C&A

Trabalho escravo e Igualdade de Gênero

De acordo com estudos do Instituto o projeto beneficiaria três grupos que conformam a indústria têxtil: mulheres, crianças e imigrantes.

Segundo uma pesquisa sobre condições de trabalho, elaborada por Marques Casara, as mulheres são hoje a peça chave da mudança no sistema da confecção. “Percebemos que na indústria têxtil as mulheres estão silenciadas, e precisamos encorajá-las para que sejam instrumento de mudança”, afirma.

No Brasil, milhares de mulheres são submetidas a jornadas de 17h em oficinas de costura.  Assim como o trabalho irregular de crianças nos plantios e exploração trabalhista para os imigrantes.

A socióloga Mércia Silva, coordenadora do projeto “Inpacto” na erradicação do trabalho escravo, considera que mudanças reais nascem de um trabalho conjunto entre as empresas e os produtores. Para ela muitas mulheres entram nestas jornadas por necessidade. Elas desconhecem o que é trabalho escravo e não conseguem diferençar as responsabilidades do lar do trabalho profissional. “É preciso que as mulheres que trabalham na costura entendam que não é uma atividade de casa e sim uma profissão que deve ser regulamentada”, diz.

Para Marques Casara a informalidade no trabalho sustenta duas situações: quando não é possível diminuir o risco da cadeia produtiva e quando é necessário mostrar quem está por trás da produção.

Com essa perspectiva, a socióloga Mércia aponta que o desafio principal nos próximos anos será que as empresas parem de fornecer renda às fabricas que não valorizam o trabalho dos seus produtores. “É melhor seguir o exemplo daquelas empresas que vendo que seus fornecedores usavam formas de trabalho duvidosas decidiram não comprar mais nada deles. Requer coragem, mas esse é o impacto que gera mudanças”

Durante o evento a instituição reforçou seu compromisso com seu programa de voluntariado (atualmente cerca 4.000 colaboradores são voluntários) e com as organizações sociais. Com uma equipe formada por mais de 4000 pessoas o Instituto procurará também parcerias com o poder público. (#Envolverde)