Internacional

Mais esforços contra a mudança climática

O mundo deve redobrar esforços para reduzir em mais 25% os gases contaminantes que se prevê serão liberados na atmosfera até 2030. Foto: Pnuma
O mundo deve redobrar esforços para reduzir em mais 25% os gases contaminantes que se prevê serão liberados na atmosfera até 2030. Foto: Pnuma

por Baher Kamal, da IPS –

Roma, Itália, 7/11/2016 – Com a entrada em vigor do Acordo de Paris sobre mudança climática, no dia 4, a Organização das Nações Unidas (ONU) pediu que o mundo redobre, com urgência, os esforços para reduzir mais ainda as emissões de gases-estufa. Em seu informe Brecha de Emissões 2016, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) alerta que o planeta deve se apressar para reduzir em 25% os gases contaminantes que serão liberados até 2030, “para cumprir a meta mais exigente e segura de evitar que a elevação da temperatura global supere 1,5 grau Celsius”.

“O mundo ainda caminha para um aumento de temperatura entre 2,9 e 3,4 graus neste século, mesmo com as promessas feitas em dezembro pelos Estados parte da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática (CMNUCC)”, afirma o Pnuma. “Significa que temos de tirar mais um grau de algum lugar para ter alguma chance de minimizar a perigosa mudança climática”, acrescenta.

O Pnuma fez o anúncio em Londres durante a apresentação do informe anual Brecha de Emissões, segundo o qual as emissões até 2030 poderão atingir de 54 a 56 gigatoneladas equivalentes de dióxido de carbono. Mas, para evitar que o aquecimento do planeta supere os dois graus, não se deveria liberar mais de 42 gigatoneladas de gases contaminantes, segundo as projeções.

No começo de outubro, o Acordo de Paris atingiu o mínimo previsto de 55 países, os quais concentram 55% das emissões contaminantes globais, necessários para sua entrada em vigor no dia 4 de novembro. A 22ª Conferência das Partes (COP 22) da CMNUCC, que começa hoje na cidade marroquina de Marrakesh, é a primeira com o novo marco para conter o aquecimento global.

Numerosos cientistas concordam que limitar o aumento da temperatura global a dois graus neste século (em relação aos níveis pré-industriais) reduziria a probabilidade de ocorrência de tempestades severas, secas prolongadas, elevação do nível do mar e outros eventos climáticos devastadores, segundo o informe. “Mas alertam que, mesmo com um objetivo inferior a 1,5 grau, as consequências seriam reduzidas, não eliminadas”, acrescenta o documento.

O diretor executivo do Pnuma, Erik Solheim, disse que o Acordo de Paris e a última Emenda de Kigali ao Protocolo de Montreal para reduzir os hidrofluorocarbonetos (HFC) são medidas na direção correta, mas esses grandes compromissos ainda não são suficientes.

Desde 2010, o Pnuma produz informes anuais sobre a Brecha de Emissões a pedido dos países para contar com uma avaliação científica independente sobre como as ações e os compromissos dos Estados afetam a tendência das emissões contaminantes, e como isso se compara com as trajetórias de emissões consistentes com o objetivo de longo prazo da CMNUCC.

“Se não começarmos a falar agora de medidas adicionais, a começar pela cúpula de Marrakesh, sofreremos pela tragédia humana evitável”, alertou Solheim. “O crescente número de refugiados climáticos atingidos por doenças, fome, pobreza e conflitos será uma constante recordação de nossa falta de resposta”, acrescentou, destacando que “nada disso será consequência do clima. Será o resultado de más decisões de governos, do setor privado e de cidadãos individuais, porque há opções. A ciência mostra que devemos avançar muito mais rápido”.

O ano passado foi o mais quente de que se tem registro e os primeiros seis meses de 2016 já romperam todas as marcas. E, no entanto, o informe do Pnuma conclui que as emissões contaminantes continuam aumentando. No mês passado, a Emenda de Kigali ao Protocolo de Montreal acordou reduzir de forma drástica o uso de HFC e, segundo estudos preliminares, isso poderá levar a uma redução de 0,5 grau no aumento da temperatura global, se for implantada em sua totalidade, embora sem registro de reduções significativas até 2025.

Os membros do Grupo dos 20 (G20) países mais industrializados estão prestes a cumprir o Acordo de Cancún para 2020, mas esses compromissos estão muito abaixo do ponto de partida que os aproximaria do Acordo de Paris, segundo o Pnuma. O informe apresenta suas conclusões com uma nota positiva, afirmando que, mediante avaliações oportunas e tecnologia, os atores estatais e não estatais têm muitas formas de realizar maiores cortes nas emissões contaminantes para que se aproximem das metas, como acelerar as medidas para conseguir a eficiência energética, e vinculá-los aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Atores como o setor privado, os governos municipais e organizações da sociedade civil podem contribuir para reduzir várias gigatoneladas até 2030, por exemplo, nos setores da agricultura e do transporte. Outra alternativa é aprimorar a eficiência energética. O aumento de 6% (cerca de US$ 221 bilhões) nos investimentos de 2015 no setor industrial é um indício de que já está em andamento, acrescenta o Pnuma.

“Além disso, numerosos estudos mostram que um investimento entre US$ 20 e US$ 100 por tonelada de dióxido de carbono levaria a uma redução de 5,9 toneladas na construção, 4,1 na indústria e 2,1 no transporte até 2030”, afirma o documento.

A Coalizão 1 Tonelada, criada pelo Pnuma com apoio do governo da Noruega em 2014, concluiu que, mediante a implantação nos países em desenvolvimento de projetos de eficiência energética e energias renováveis entre 2005 e 2015, se reduzirá meia gigatonelada de gases contaminantes até 2020. Isso inclui ações em países sem compromissos formais com Cancún. Envolverde/IPS