Os dados do IBGE são explícitos: o dinamismo do Brasil se espalha para o interior, para as cidades de até 500 mil habitantes, para as novas fronteiras.

A migração reflete o mapa das oportunidades econômicas. As pessoas migram basicamente atrás de melhores oportunidades de trabalho, isso eu sei bem.

As regiões mais atraentes para o brasileiro ambicioso e empreendedor, disposto a mudar de cidade para avançar na vida, não são mais apenas os grandes centros urbanos do Sudeste, que, por décadas, dominaram os sonhos de riqueza dos brasileiros e cresceram graças a esse fluxo migratório.

Pelo contrário, centenas de milhares de brasileiros estão saindo dessas regiões e voltando com rica bagagem para seus Estados de origem como Pernambuco, Sergipe e Rio Grande do Norte, ou desbravando novos destinos em Goiás, no Amazonas, no Amapá e em Santa Catarina.

E não é que o Sudeste esteja com dificuldades para crescer ou para atrair migrantes.

A beleza de sermos brasileiros hoje é que o crescimento está por toda parte. Nas cidades grandes, médias e pequenas, nas classes A a E, nos setores A a Z.

Não foi só em Ipanema, no Rio de Janeiro, e nos Jardins, na capital paulista, que o preço do metro quadrado explodiu, mas também na Rocinha e em Paraisópolis.

Não podemos ser Polianas nem ficar desatentos, muito menos ser presunçosos, mas, mesmo com riscos e com dificuldades, o caminho para a prosperidade parece claro.

É um caminho percorrido com maior velocidade em dois tipos de região: as regiões favorecidas pela nova globalização e as que estiveram mais sufocadas pelos nossos problemas históricos.

São regiões que hoje alcançam índices chineses de crescimento, só que numa democracia capitalista ocidental, o que é muito melhor.

Cada vez mais gente percebe como é mais fácil investir no Brasil do que na China.

Brota pelo país uma safra recorde de cidadãos consumidores, às dezenas de milhões, sim, dezenas de milhões, cada qual um diamante bruto para empresas brasileiras (e estrangeiras). Só não se pode fingir que é “business as usual” para lidar com essa enorme novidade.

Nos negócios, preguiça mata. As novidades exigem maneiras novas de pensar, de produzir, de distribuir, de comunicar, de vender.

Fabricar o mesmo produto e falar a mesma linguagem sudestocêntrica do Oiapoque ao Chuí hoje é reduzir sua produção e sua comunicação ao mínimo denominador comum.

Não que esse denominador nacional tenha pouco valor -tem muito. Mas há muito valor a ser adicionado no regional, no local, no paroquial.

Os novos consumidores brasileiros, poderosos, querem ser reconhecidos. Sabemos que o marketing de identidade -aquele que se identifica de alguma forma com o consumidor- eleva as vendas de um produto e estimula a lealdade.

Mas é preciso conhecimento específico: toque um frevo na Bahia ou um axé em Pernambuco para vender seu produto durante o Carnaval e você vai entender o que estou dizendo.

Os novos produtos para os novos consumidores, além de adequados e acessíveis, devem ter qualidade. O grande erro das empresas é produzir coisas que as pessoas não querem consumir.

É preciso conhecer o novo consumidor para vender para o novo consumidor. Ninguém conhece direito este novo Brasil -afinal, ele é novo.Mas suspeito de que sentar-se diante de um computador em São Paulo ou no Rio de Janeiro não seja a melhor forma de conhecê-lo.

Nos anos 1980 e 1990, conglomerados multinacionais criaram processos de “glocalização” para combinar estratégias globais com especificidades locais.

Hoje se criticam esses processos, acusados de serem muito mais um empobrecimento de produtos sofisticados para países de menor renda que de fato uma combinação eficiente de produção global com circunstância local.

É uma lição que serve ao Brasil.

Não basta adaptar. É preciso repensar, recriar, inovar.

A periferia tornou-se central.

* Nizan Guanaes é publicitário e presidente do Grupo ABC, escreve às terças, a cada 15 dias, no jornal Folha de São Paulo.

** Publicado originalmente no site EcoD.