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Prepara-se um levante maciço

Beit Ummar, Palestina, 2/8/2011 – Figuras destacadas dos Comitês Populares da Cisjordânia planejam uma mobilização e desobediência civil contra as autoridades israelenses para setembro, quando a Organização das Nações Unidas (ONU) discutirá a criação do Estado palestino. “Prevemos realizar manifestações maciças”, disse Musa Abu Maria, integrante do Comitê Popular de Beit Ummarm, povoado a 11 quilômetros de Hebron, no sul da Cisjordânia.

“Interromperemos o tráfego nas estradas que levam aos assentamentos ilegais de Israel e marcharemos rumo a eles. Será um protesto não violento e pacífico”, disse Musa à IPS. “Pensamos estratégias criativas para chamar a atenção da comunidade internacional e dos meios de comunicação sobre a ocupação. Coordenaremos com os europeus e norte-americanos apoio para que se reconheça o sofrimento palestino agora que o bolo volta para nós”, acrescentou.

O governo, as agências de inteligência e as forças de segurança israelenses se preparam para uma eclosão de manifestações palestinas em setembro, para quando está previsto que a Assembleia Geral da ONU aprove por ampla maioria o chamado à independência do território palestino ocupado. As forças de segurança de Israel realizam treinamentos em preparação a duros enfrentamentos.

Por seu lado, os dirigentes políticos fazem uma viagem relâmpago pela Europa para tentar conseguir o apoio dos “países europeus de qualidade”, como disse um porta-voz de Israel, para que votem contra a criação do Estado palestino. O governo israelense espera que os membros da ONU com poder econômico o apoiem, pois se prevê que cerca de 140 países em desenvolvimento, entre outros, apoiarão a Palestina.

A preocupação do governo de Israel levou o país a ameaçar, no dia 25 de julho, com a revogação dos Acordos de Oslo de 1993 em resposta à decisão da Autoridade Nacional Palestina (ANP) de apresentar o assunto na ONU. Esta é apenas uma das alternativas previstas pelos dirigentes israelenses em resposta à iniciativa palestina, segundo fontes oficiais.

Enquanto isso, os palestinos seguem em frente com sua estratégia. Em uma iniciativa inovadora e independente da ANP e do Hamas (Movimento de Resistência Islâmica), mais de mil ativistas e líderes de todo espectro político participaram de uma reunião na semana passada para planejar uma estratégia que ponha fim à ocupação israelense. O Hamas controla o território palestino de Gaza desde 2007, quando expulsou pela força seu rival secular, o Fatah, do presidente da ANP, Mahmoud Abbas.

A reunião de três dias aconteceu em três povoados diferentes onde, no dia 22, foram realizados os protestos mais fortes contra a expropriação de terras para os assentamentos judeus ilegais. Representantes do Hamas, do Fatah, da Frente Popular para a Libertação da Palestina e da Frente Democrática para a Libertação da Palestina, entre outros, acordaram convocar seus partidários para uma campanha maciça de desobediência civil em setembro na Cisjordânia.

“Dissemos a todos os dirigentes que não eram bem-vindos se pensavam em colocar seus próprios interesses partidários à frente da libertação. E que, se estivessem decididos a trabalhar por ela e pela unificação política e geográfica da Faixa de Gaza e da Cisjordânia, então teriam nosso apoio”, disse Musa à IPS.

Todos os dirigentes políticos confirmaram seu apoio, afirmou Yunis Arrar, integrante do Fatah, do Comitê Popular da Cisjordânia e funcionário da ANP. “Dirão aos seus partidários que ocupem maciçamente as ruas. Não falamos de protestos pontuais em alguns povoados da Cisjordânia, mas de cidadãos em cidades, povoados e aldeias dos territórios ocupados que responderão ao chamado”, disse Arrar.

“Os israelenses temem mais que tudo um protesto civil maciço e pacífico. Esperam que recorramos à força para poderem fazer uso de sua força militar superior e nos sufocar, como fazem sempre. Contudo, manteremos uma resistência desarmada”, disse Arrar. “Os israelenses farão algumas vítimas disparando gás lacrimogêneo em alta velocidade diretamente na cabeça ou abrindo fogo com munições, reais, como é habitual”, ressaltou.

Entre as iniciativas previstas na Cisjordânia, há uma manifestação de bicicleta e outras sob diferentes lemas políticos. A população da aldeia de Nabi Saleh armou barracas de campanha, como na revolução egípcia, para denunciar o contínuo roubo de suas terras para o vizinho assentamento israelense de Halamish. Além de marchas e protestos, os Comitês Populares trabalham com várias organizações europeias, como a Boicote, Desinvestimento e Sanções, que realizarão atividades paralelas e pedirão boicote aos produtos israelenses.

Se os dirigentes palestinos não assumem o papel de guias em um futuro próximo, a sociedade civil organizará sua própria revolução, disse Musa. Isso aconteceu na primeira intifada, quando a exilada Organização para a Libertação da Palestina (OLP) teve de seguir a mobilização de rua após eclodir o levante popular em 1987. “Tenho atividade política desde os 15 anos e fui detido pelos israelenses. Conheço as bases, tenho muitos contatos e sei como as pessoas pensam. Não nos deteremos até conseguirmos nossa liberdade e a independência”, disse Musa à IPS. Envolverde/IPS