China, o verdadeiro big brother

Não é nenhuma novidade que a China vigia constantemente sua população, principalmente na internet. Para quem mora por lá, os olhos digitais já fazem parte do cotidiano. Como se não bastassem as câmeras que já existem em diversas áreas públicas, os locais privados como shoppings e supermercados também são obrigados a vigiar seus clientes. De acordo com reportagem do site do jornal britânico The Guardian, a polícia de Pequim está obrigando esses estabelecimentos a instalarem câmeras de segurança de alta definição, dando sequência a sua expansão na tecnologia de monitoramento.

O país tem colocado milhões de câmeras de vigilância em diversas cidades nos últimos cinco anos, como parte de um amplo aumento de gastos com segurança interna. Em maio, Xangai anunciou a contratação de uma equipe de 4 mil monitores de segurança 24 horas. O município Chongqing, ao sudoeste da China, anunciou planos de adicionar 200 mil câmeras em 2014 porque “os 310 mil olhos digitais não são suficientes”.

Urumqi, cidade que registrou vários casos de violência étnica em 2009, instalou 17 mil câmeras de alta definição à prova de choque no ano passado para garantir a vigilância “sem cortes”. Na cidade de Changsha, no distrito Furong, são contabilizadas 40 mil câmaras, uma para cada 10 habitantes. Há câmeras nas ruas, nas lojas e até nas salas de aula da universidade.

Em março, Pequim despertou irritação no mundo das artes quando anunciou o plano de instalação de câmeras para monitorar performances em locais como cinemas e teatros.

A IMS, uma consultoria da área de eletrônicos, prevê crescimento anual no uso de câmeras de monitoramento de mais de 20% na China entre o ano passado e 2014. Estima-se que mais de 10 milhões de câmeras foram instaladas no país em 2010.

Parte da população não vê nada de errado com a rápida expansão em câmeras de vigilância, sobretudo se levadas em conta reivindicações oficiais para redução da criminalidade. Xangai disse a polícia de monitoramento de vídeo ajudou a capturar 6 mil suspeitos no ano passado.

Para Wang Songlian, da Rede Defensora dos Direitos Humanos chineses, os que estão na lista negra do governo sofrem vigilância. “Quando os dissidentes são libertados da prisão ou do campo de trabalho eles sempre veem câmeras de vigilância apontando para suas casas”, disse ao site.

Wang disse que a segurança do Estado usam câmeras para rastrear indivíduos em momentos sensíveis, e que provavelmente esse é um artifício de dissuasão. “Acho que o efeito é mais para intimidar ativistas – para que eles sintam que tudo o que fazem está sob vigilância – ao invés de reunir provas”, disse ela.

* Publicado originalmente no site da revista Carta Capital.