ODS8

Escola surgida como projeto social se transforma em rede de franquias

Empreendimento é liderado por empresária em Campinas, São Paulo, o quarto destino da Expedição #AquiTemSebrae , que está percorrendo o Brasil e contando histórias de sucesso

Sandra Nalli é uma destas pessoas com quem dá gosto conversar. De olhos brilhantes e sorriso sempre nos lábios, ela fala com o entusiasmo e a energia que reconhecemos nos empreendedores que encontram seu propósito e, a partir dele, constroem trajetórias impressionantes. Ela começou seu negócio, a Escola do Mecânico, há pouco mais de sete anos, em uma pequena sala alugada. No início, as aulas eram gratuitas, exclusivas para internos da Fundação Casa. A primeira turma `vendida`, em janeiro de 2011, tinha 8 alunos Ao final de 2018, serão cerca de 12.000 alunos capacitados no ano. O segredo para um crescimento tão rápido? “Trabalhar muito, com prazer e significado”, ela define.

A história da empresa, que tem sede em Campinas, São Paulo, é a quarta mostrada pela Expedição #AquiTemSebrae, que começou em outubro, em comemoração ao aniversário de 46 anos do Sebrae. A jornada passa por cidades das cinco regiões do Brasil, onde são contadas histórias de perseverança e dedicação.  Cada região é representada pelo empreendedor de um estado. Além de Campinas (SP), a expedição já passou por Esperantina (PI), Olhos D`Água (GO), Cachoeira do Arari (PA) e será encerrada em Brusque (SC). A jornada pode ser acompanhada nos canais do Sebrae Nacional nas mídias sociais.

A empresária Sandra Nalli, fundadora da Escola do Mecânico

Mão na graxa e preconceito

Por conta das dificuldades financeiras que sua família enfrentava, Sandra começou a trabalhar como menor aprendiz, aos 14 anos, em uma rede de centros automotivos. Ela fazia tarefas administrativas na empresa, embora se interessasse por carros desde os 12 anos, quando começou a dirigir o velho Fusca do pai. Quando foi registrada como  vendedora na loja, com 17 anos, percebeu que era realmente neste segmento que queria atuar.

Quatro anos depois de começar a vender peças e pneus, Sandra ficou sabendo de uma vaga para ser chefe da oficina. “Eu queria muito aquela oportunidade, mas ouvi que era impossível, porque eu era mulher. Eu insisti e pedi para fazer uma capacitação porque, para assumir, eu precisava saber mais de mecânica, entender o funcionamento dos carros. Eles decidiram me dar uma chance e, quando eu cheguei ao centro de treinamento, o instrutor me disse que eu estava na sala errada, porque a sala de auxiliar administrativo era a do lado”, conta. Formada em Administração, Sandra conta que sempre se preocupou em estudar e aprender muito. “Estas atitudes machistas que eu sofria me faziam querer estudar mais e mais, aprender muito e ser boa no que eu fazia”, diz.

Com este espírito, ela perseverou na capacitação e, aos 23 anos, se tornou a primeira mulher a ser líder de serviços (profissional que coordena os mecânicos e o trabalho técnico) em uma das 136 lojas da rede de centros automotivos onde começou a carreira. “Eu sempre fui baixinha e, 15 anos atrás, tinha a fisionomia muito jovem. Então, os clientes não aceitavam que ia pegar o carro deles para fazer um diagnóstico, tinham muito preconceito, não acreditavam que eu tinha conhecimento. O preconceito não é culpa das pessoas, elas são ensinadas a enxergar desta forma, é uma questão cultural. E eu passava por cima disso porque tinha um propósito, eu queria ser gerente de um centro automotivo. Eu estudava muito, porque não podia errar, tinha que conquistar credibilidade. Queria fazer o diagnóstico perfeito para que os clientes confiassem em mim”, relembra.

Início difícil

Já como uma boa bagagem técnica sobre mecânica, ela decidiu ensinar os menores infratores, internos da Fundação Casa, em uma pequena sala alugada, no centro da cidade. “Paralelo ao trabalho, eu já fazia palestras para estes jovens, contava minha história, falava sobre motivação, mercado de trabalho e empregabilidade. Percebi que muitos tinham potencial para crescer e me propus a capacitá-los em mecânica”, lembra.

Sem muitos recursos, alugou um salinha no centro da cidade e pagou uma caixa de cerveja pra um amigo grafitar `Escola do Mecânico` na parede. E este letreiro fez toda a diferença. Foi ele que chamou a atenção dos trabalhadores que passavam  por ali enquanto ela ensinava mecânica aos jovens. “As pessoas começaram a me perguntar se eu oferecia aulas abertas de mecânica e como faziam para se matricular. Foi então que vi que aquilo poderia ser uma oportunidade de negócio”, explica ela. Na época, ainda como gerente do centro automotivo, ela também começou a perceber uma escassez na mão de obra do segmento.

No início das atividades, ela e outro funcionário trabalhavam durante o dia e ministravam as aulas e vendiam os cursos à noite. “Nós começamos bem na raça mesmo, tínhamos dois cavaletes e uma divisória velha para os alunos apoiarem as ferramentas. Meu salário era quase todo para investir na empresa. Na época, as aulas práticas eram realizadas em 10 vagas alugadas em um estacionamento vizinho”, conta. Em 10 meses, a empresa conseguiu se mudar para um prédio.

Trajetória vencedora

Para estruturar o negócio, Sandra  participou de uma capacitação no Sebrae e, nas férias do trabalho com carteira assinada que ainda mantinha, se empenhou no planejamento do que seria a Escola do Mecânico. Para viabilizar o negócio, vendeu um carro velho e fez um empréstimo com o pai. Com um recurso inicial de R$ 40 mil (metade para a estrutura e metade para o capital de giro), ela comprou ferramentas, melhorou a estrutura e, em 2011, abriu o CNPJ e criou a empresa.

Na primeira turma da Escola do Mecânico, havia oito alunos matriculados, que estudavam em uma salinha de 40 metros quadrados. Hoje, pouco mais de sete anos depois, a empresa é uma rede com 21 unidades, sendo três próprias e 18 franqueadas, distribuídas em quatro estados. Nos próximos 90 dias, devem ser inauguradas outras seis unidades. As metas para 2019 são ousadas: chegar a 50 escolas e 30 mil alunos.

Negócio de impacto social

Além dos cursos de capacitação, Sandra também foi atendida, durante um ano, pelo programa Agentes Locais de Inovação (ALI). “Foi quando redesenhamos todos os processos da empresa e melhoramos muito o nosso trabalho”. Para crescer de forma estruturada, a empresária contratou uma consultoria especializada na expansão de redes e formatou a escola para atuar no modelo de franquia. Porém, sem nunca esquecer as origens do negócio. Sandra passou a se dedicar integralmente a Escola do Mecânico em 2014 e sempre fez questão de preservar a identidade da empresa, ligada ao impacto social. “Muito mais do que capacitar pessoas, percebi que o nosso negócio estava proporcionando a geração de emprego e renda para a população de baixa renda”, explica.

Com foco em aproximar os alunos das vagas disponíveis no mercado, a empresária criou o Programa Emprega Mecânico, que, entre outras iniciativas, disponibiliza um aplicativo para que os egressos dos cursos possam se candidatar a vagas de trabalho. Além deste programa, como parte do contrato de franquia, as franqueadas são obrigadas a fornecer bolsas para jovens em situação de vulnerabilidade social. “Minha missão vai muito além de promover a capacitação técnica dos alunos. Vender cursos não é o nosso principal propósito. Nosso foco é inserir nossos egressos no mercado de trabalho. É isso que nos fazer trabalhar, todo dia, com prazer e significado”, se entusiasma. (#Envolverde)