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Prêmio Nobel de Economia 2018: O peso da inovação e do clima no crescimento sustentável

Por Fabrício Marques | Editor de Política Científica e Tecnológica da Pesquisa Fapesp, Revista ECO21

Dois pesquisadores norte-americanos foram agraciados com o Prêmio Nobel de Economia por suas contribuições para integrar parâmetros como políticas de inovação e mudanças climáticas na análise do crescimento econômico de longo prazo. A Real Academia de Ciências da Suécia, que seleciona os ganhadores, destacou os esforços de William Nordhaus, 77 anos, professor na Universidade de Yale, e de Paul Romer, 62 anos, professor na Universidade de Nova York e economista-chefe do Banco Mundial entre 2016 e 2018, na construção de metodologias “que explicam como a economia de mercado interage com a natureza e o conhecimento”.

O trabalho de Paul Romer evidenciou a influência de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) no crescimento sustentável. Se já era reconhecida a importância do progresso tecnológico no aumento da produção, Romer deu um passo adiante ao mostrar como políticas públicas e condições de mercado determinam o surgimento de novas tecnologias – e como as forças econômicas incentivam a disposição das empresas de gerar novas ideias e produtos inovadores. Ele criou bases do que se tornou conhecido como Teoria do Crescimento Endógeno, que explica como as ideias exigem condições específicas para prosperar em um mercado, com a combinação de políticas públicas à ação de agentes privados, e abriu um campo de investigações sobre políticas e regulamentos para estimular o surgimento de inovações e o desenvolvimento de longo prazo.

“Nos anos 1950, os economistas Robert Solow e Trevor Swan haviam mostrado que o crescimento da economia não dependia apenas do capital e do trabalho e que a mudança tecnológica também desempenhava um papel importante. Mas esse papel da inovação foi visto por muito tempo como uma espécie de resíduo que os economistas não eram capazes de mensurar”, diz João Carlos Ferraz, professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

“Romer criou modelos matemáticos mostrando que a mudança tecnológica, longe de ser um resíduo, é resultado de investimentos em P&D, e que existem espaços para rendimentos crescentes na economia, vinculados à criação de ideias. Uma das chaves de sua teoria é que os seres humanos têm uma capacidade infinita de reconfigurar objetos físicos, podendo criar sempre novas aplicações para seu uso, como o microprocessador que ganhou aplicações que hoje vão do uso de sensores à inteligência artificial”.

Já William Nordhaus criou, nos anos 1990, em parceria com outros pesquisadores, o Modelo Dinâmico Integrado de Economia Climática (DICE), um esforço pioneiro para estimar os custos das mudanças climáticas. O modelo passou a ser utilizado em análises do Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas (IPCC) e da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA). Esse modelo reúne conhecimentos e parâmetros da física, da economia e da química, para simular como economia e clima evoluem combinadamente. O pesquisador foi um dos principais proponentes da taxação do carbono para reduzir as emissões – seu modelo é usado para verificar as consequências de políticas climáticas como a tributação de emissões.

O anúncio do prêmio aconteceu um dia após a divulgação, em Incheon, na Coreia do Sul, de um relatório do IPCC que enfatiza as consequências deletérias das mudanças climáticas e convoca governos a agirem com urgência para limitar o aumento da temperatura do planeta em 1,5 grau nos próximos anos. O relatório menciona os trabalhos de Nordhaus. (#Envolverde)