Apesar do espírito pessimista que tem acompanhado as discussões climáticas, essa aura negativa parece não ter contaminado a organização da COP 17. Na terça-feira (2), representantes da África do Sul anunciaram que os preparativos para a Conferência das Partes de Durban estão dentro do prazo, e os ajustes finais serão feitos em outubro. O que se espera é que esse clima de otimismo ultrapasse a preparação e contagie as decisões da reunião.
A declaração foi dada apenas alguns dias depois que a mídia sul-africana revelou que surgiram atritos entre os setores governamentais encarregados da organização do evento, o Departamento de Assuntos Ambientais e o Departamento de Relações Internacionais.
No entanto, Maite Nkoana-Mashabane, ministra das relações internacionais, declarou que conflitos como este são normais na preparação do encontro. “A recente manifestação de desconforto com o progresso [dos preparativos] na mídia se tornou parte e parcela de um ambiente muito maior de negociação e aconteceu também em COPs anteriores realizadas em outras partes do mundo”.
Aparentemente, a atmosfera de tensão deu lugar a um ambiente mais otimista na preparação do evento, e Nkoana-Mashabane chegou a afirmar que a organização está dentro do prazo. “A África do Sul está dentro do cronograma, se não à frente. Estamos esperando um desenlace equilibrado, um que seja justo, equitativo e inclusivo”.
A ministra das relações internacionais disse ainda que a organização está encerrando os preparativos de acomodação, segurança e de comunicação, e que os arranjos finais, como o documento de lobbying, devem ser terminados em outubro. Esse documento servirá de guia para os negociantes para garantir que a África possua uma posição unificada.
Acredita-se que o país ajudará a conciliar as diferenças entre as nações desenvolvidas e as emergentes na criação de metas para reduzir as emissões de CO2. “O fato de que a África do Sul, um país em desenvolvimento, receberá a COP 17, demonstra que estamos levando a sério nossa responsabilidade de fazer o que podemos para lidar com essa ameaça global”, sugeriu Nkoana-Mashabane.
Segundo Edna Molewa, ministra do meio ambiente, o país está desenvolvendo um plano alternativo para mediar um acordo vinculativo global, embora a ONU já tenha noticiado que é improvável que a conferência termine em consenso. “Gostaríamos de ter algum mecanismo firmado sobre o qual pudéssemos garantir a manutenção da arquitetura do Protocolo de Quioto”.
“Definimos nossos preparativos e achamos que estamos no caminho certo, e não queremos a África do Sul seja a morte do Protocolo de Quioto, mas precisamos de uma voz africana para alcançar tudo isso”, explicou Molewa.
Apesar disso, alguns ambientalistas acusam o país de não tomar atitudes suficientes para liderar as negociações da COP 17. “Estamos preocupados porque há menos de seis meses antes de chegarmos a Durban. Tem que haver uma liderança e uma orientação muito mais fortes sendo oferecidas em termos de estabelecer os níveis de ambição para as negociações”, protestou Kumi Naidoo, diretor do Greenpeace Internacional.
Nkoana-Mashabane argumentou que a África do Sul está tomando todas as medidas possíveis para que as discussões do encontro cheguem a um consenso, mas que não pode haver garantia de que um acordo seja firmado.
“Não podemos sentar aqui no segundo dia de agosto e profetizar qual será o resultado de nove de dezembro. O que podemos garantir é que a conferência deve ser transparente e equilibrada para que possamos ter um resultado satisfatório. Continuamos ouvindo e continuamos nos engajando”, assegurou a ministra.
Além das negociações esperadas, o país criará também uma série de programas sociais para criar nos sul-africanos uma consciência sobre as questões relativas às mudanças climáticas. O governo também está desenvolvendo ações nos setores de transporte, agricultura e energia para reduzir suas emissões de CO2 em 34% até 2020 e em 42% até 2025.
“Se há algo que podemos deixar como um legado para as pessoas da África do Sul após essa conferência é o conhecimento. Em abril apelamos para que o grupo sul-africano conduzisse as negociações para a conferência e podemos dizer que despertamos o interesse dos departamentos do governo, que estão dispostos a tornar essa uma COP 17 africana”, disse Molewa.
*publicado originalmente no site Carbono Brasil.