ODS12

Loja paulistana é exemplo do movimento Desperdício Zero no Brasil

Por Vanessa Brito – 

A batalha pela redução da geração e descarte de resíduos motivou o surgimento do movimento mundial ‘ No Waste ‘ (sem desperdício, em português) e também estimulou a criação de novos modelos de negócios. Empreendedores com este propósito ingressam no mercado visando criar uma economia mais limpa, sem embalagens plásticas e oferecendo produtos naturais ou biodegradáveis para serem consumidos até o fim, sem implicar em descarte.  Tais produtos causam menos impactos em rios e oceanos, como também ao solo, subsolo e lençóis freáticos. E geralmente são elaborados por projetos ou empresas sustentáveis.

‘Sem desperdício’ também significa menos resíduos encaminhados aos aterros sanitários e lixões  – como infelizmente ainda acontece no Brasil. Nos países desenvolvidos, desde 2014, lojas e empresas integrantes do movimento ‘No Waste’ exibem selos nas portas e no interior dos estabelecimentos para que os consumidores possam identificá-las e diferenciá-las em relação aos demais atores do mercado.

Este movimento chegou ao Brasil, no ano passado. Aqui está sendo chamado como ‘Desperdício Zero’.  A busca por soluções para produzir, comercializar e prestar serviços, gerando o mínimo de resíduos para descarte, promete alcançar bons resultados no país.

Há menos de um ano, a loja Mapeei, localizada na Rua Augusta na região da Consolação em São Paulo (SP), se tornou o primeiro empreendimento Desperdício Zero do Brasil. Lívia Humaire, geógrafa, compositora e integrante de uma banda, que mistura folk e MPB (Verso que compramos na estrada), é a empreendedora responsável pela Mapeei.

“Conheci o movimento No Waste durante viagem com a banda a cinco países (EUA, Alemanha, Portugal, França e Suiça), em 2017. Gostei muito da ideia e chegando ao Brasil, comecei a pesquisar o mercado. Minha filha de 11 anos também adorou a ideia e me deu força para montar a loja”, conta Lívia. Crianças e adolescentes são especialmente sensíveis às causas ambiental e social, comenta.

Mapeamento dos produtores

Lívia conta que o primeiro passo foi identificar onde havia produtores de utensílios domésticos, objetos, artigos, produtos de higiene pessoal, etc, que correspondessem ao conceito de Desperdício Zero.

Havia apenas três pessoas que falavam nas redes sociais a respeito do tema no país, na época. Por outro lado, ela percebeu que produtores artesanais já estavam fabricando xampus sólidos (em barra) e panos encerados (para substituir plástico filme na conservação de alimentos na geladeira).

Alguns itens teriam de ser importados, como por exemplo, escovas de dente de bambu, pois a matéria-prima (bambu laminado) não é fabricada no Brasil.

A loja Mapeei foi inaugurada, em 09.09.18, com 200 tipos de produtos de 45 fornecedores de vários Regiões Brasileiras. “O nome da loja é uma referência ao trabalho de mapeamento que fiz com o conhecimento de geógrafa”, explica.

No ano passado, o movimento Desperdício Zero ‘bombou’ no país, segundo Lívia. A Mapeei fez tanto sucesso, que está dobrando seu espaço e vai ocupar a loja vizinha. Mais de 500 produtos de 80 produtores são oferecidos à clientela atualmente.

A grande maioria deles é feita com materiais recicláveis, biodegradáveis ou de matéria-prima virgem. Nas prateleiras da loja há: óleos vegetais e essenciais da Amazônia, xampus sólidos (ou em barra), pastas de dente, sabonetes, repelentes, cosméticos (perfumes, desodorantes, argilas, colônias, etc), linha de hidrolatos (águas termais e perfumadas), pentes de madeira, lingerie de algodão orgânico, canudos de inox e de vidro, copos retráteis, absorventes de algodão, coletor menstrual de silicone cirúrgico, incensos, moringas, bules de chá, potes, compoteiras, coadores de café de tecido, panos encerados, etc

Interesse crescente

Lívia recebe muitos e-mails e mensagens diariamente, pedindo informações sobre Desperdício Zero.  Ela se tornou uma porta-voz do movimento no Brasil. O interesse empresarial é crescente sobre como gerar menos resíduos ou até eliminar totalmente o uso de plástico no dia a dia, informa. Está sendo solicitada por grandes empresas para dar consultorias e coaching.

“Damos suporte aos nossos fornecedores ensinando como enviar os produtos, sem usar plástico. Sugerimos usar papelão e fita craft com goma laca, pois são materiais biodegradáveis”.

Outro aspecto importante é em relação à clientela da Mapeei: é essencialmente feminina (95%). “São mulheres interessadas em vida sustentável”, resume. Dois por cento são homens e 3% gays, acrescenta.

No site da Mapeei (www.umavidasemplastico.com.br ), há várias mensagens que traduzem o que o empreendimento pretende: “Queremos apoiar transições ecológicas e o consumo consciente em todo o país, promovendo a sustentabilidade REAL, economia circular e quebrar o paradigma automático do plástico. Queremos você com a gente nessa”.

Há também uma espécie de questionário para produtores que queiram se tornar fornecedores da Mapeei:

“Seu produto substitui algum produto de uso diário?”

“Sua empresa possui uma produção justa, com práticas responsáveis, sustentáveis e ecológicas?”

“Consegue nos entregar seu produto sem o uso de plástico, isopor, plástico bolha ou que gere resíduos?”

“Seu produto substitui algum outro de uso único/descartável?”

“Se você acha que se enquadra nesses quesitos, mande um email para: [email protected] “

Devido ao sucesso da loja Mapeei, a carreira musical de Lívia está temporariamente interrompida. (www.umavidasemplastico.com.br )