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Índia olha para a África do Sul buscando ancorar seu envolvimento no continente

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Paul Baloyi, chefe executivo do Banco de Desenvolvimento da África Austral, disse que os governos africanos estão sob pressão para apresentar resultados.
Johannesburgo, África do Sul, 15/6/2011 (IPS) – Alguns indianos e africanos acreditam que a África está no caminho para se tornar uma potência econômica mundial, mas mudanças são necessárias para assegurar que o continente consiga alcançar o seu lugar de direito na economia global. Da perspectiva da Índia, a África do Sul é vital para o seu envolvimento com o continente. Raman Dhawan, diretor da montadora de automóveis Tata Africa Holdings, disse que a política econômica deve focar na criação de empregos. “Porém, os trabalhadores precisam ser mais produtivos para competir com o resto do mundo como iguais. O dinheiro está nas indústrias e serviços, e a África não é competitiva”.

Dhawan falou durante a conferência “Índia, África do Sul e África em um panorama de mudança global”, em Johannesburgo. O Instituto Sul-Africano de Assuntos Internacionais (SAIIA) abrigou a conferência nos dias 9 e 10 de junho. O SAIIA é uma usina de ideias ligada à Universidade de Witwatersrand em Johannesburgo. Dhawan disse que ousadia também é parte importante para ocupar uma posição importante no cenário global. “Portanto, quando você sedia uma bem-sucedida Copa do Mundo, por que permite ao mundo esquecer desse fato um ano depois? Você deve continuar celebrando e divulgando as capacidades do país”, disse o executivo da Tata. “Ser bom é uma coisa, já ser visto é outra bem diferente”.

Eltie Links, membro do conselho nacional do SAIIA, concorda que a África está diante de uma arrancada econômica devido às percepções de que o continente está mudando, para melhor. “O otimismo em volta desse crescimento (econômico) é aparente. Os africanos estão investindo em outros países africanos e isto mostra que os investidores acreditam no próprio futuro. O fato é que os africanos continuarão sendo cruciais no próprio futuro.” Links observou que a Índia pode e deve exercer um papel importante para impulsionar a África para sair da estagnação econômica. “A África e a Índia dividem uma história de colonização comum. Isto dá a eles uma plataforma para se desenvolverem. Agora, no entanto, com as constantes conversas entre os países africanos e a Índia, existe uma nova narrativa que pode mudar a vida dos pobres no continente e na Índia. Para além disso exitem mudanças no mundo desenvolvido que são necessárias, e servirão para facilitar essas mudanças no terceiro mundo”, acrescentou.

Virendra Gupta, o Alto Comissionário da Índia para a África do Sul, reitera “a urgência por ações de trabalho conjunto entre o continente e a Índia para trazer mudanças positivas nas vidas dos pobres. “A relação entre a Índia e a África precisa ser tratada como parte da mudança no contexto global. Países em desenvolvimento têm uma oportunidade única para contribuir com várias organizações internacionais, como a Organização das Nações Unidas e o Fundo Monetário Internacional. Os países em desenvolvimento suportaram bem a tempestade da crise economica mundial, em alguns casos melhor do que no mundo desenvolvido, e isto está sendo destacado pelos seus dados de crescimento”, disse Gupta.

“A voz da África está sendo ouvida e os países que compõem o continente estão cada vez mais assertivos. Eles estão começando a tomar parte das discussões que afetam o seu futuro. Está se tornando mais difícil tomar decisões que afetam o terceiro mundo sem ter as opiniões deles nessas decisões. Novamente, isso está mostrando que todos os países merecem atenção”, completou Gupta, que declara, ainda, que a Índia está olhando para a África do Sul para ancorar o seu envolvimento no continente africano. Um mapa do caminho para o engajamento econômico, subsídios e apoio técnico já existe. A Índia não vê os auxílios como uma prioridade.

“Nós estamos mais interessados na capacitação e desenvolvimento dos recursos humanos na África do Sul”, afirmou Gupta. “A Índia não quer ditar as normas, econômicas ou políticas. Como um país também colonizado ela entende as dinâmicas envolvidas”, destacou. Entretanto, Gupta também acredita que as mudanças são necessárias: “O governo terá que realizar mudanças na política econômica para ajudar mais do que só uns poucos.”

Paul Baloyi, chefe executivo do Banco de Desenvolvimento da África Austral, concorda que o tempo está acabando para se ajudar as pessoas pobres. “Estatísticas mostram que há mais estabilidade no continente africano hoje do que no passado, e as pessoas estão mais otimistas. As melhorias são pequenas, apesar disso, e a pobreza e a redistribuição de renda permanecem sendo assuntos importantes no continente. Na África do Sul, executivos notaram que o tempo está acabando para se apresentar resultados para pessoas antes em desvantagem. Há muito planejamento em andamento, mas, como isso não é muito conhecido, as pessoas estão ficando cada vez mais impacientes”, disse Baloyi.

“O que não é necessário agora é uma mudança de governo, já que isso colocaria a apresentação de resultados de volta para onde estava anos atrás, pois o novo governo começaria tudo do zero. O que o governo precisa é de um período longo de estabilidade para implementar os seus planos”, alertou Baloyi. A África do Sul teve eleições locais em maio, e isto mostrou um crescimento no apoio ao partido de oposição. Ele reconhece que os recursos naturais da África explicam a maior parte do interesse estrangeiro pelo continente.

Baloyi advertiu que os estados africanos deveriam, portanto, tomar cuidado para garantir que os benefícios sejam para ambos os lados. “As relações internacionais são uma oportunidade para ambos os lados; garantindo recursos de um dos lados e competências do outro. “O tamanho da população africana é outra oportunidade. A questão é: como utilizar esse mercado? A classe média africana está crescendo, o que significa que o poder aquisitivo também está crescendo e isso leva ao desenvolvimento econômico”, concluiu.