Por Ashutosh Pandey, Deutsche Welle –
Fórum Econômico Mundial aponta que as consequências econômicas e sociais da covid-19 estão entre as ameaças mais iminentes do mundo. Pandemia deixará cicatrizes profundas nos jovens, já afetados por crise ambiental.
As cicatrizes da pandemia de covid-19 ficarão visíveis por anos, com muitas delas se manifestando em algumas das ameaças mais críticas para o mundo, afirmou um novo relatório do Fórum Econômico Mundial (FEM).
Uma pesquisa que serve de base para o Relatório de Riscos Globais deste ano apontou desemprego em massa, desigualdade digital e estagnação econômica prolongada como alguns dos riscos que podem representar uma ameaça ao longo dos próximos dois anos.
A pandemia de coronavírus, que ceifou mais de 2 milhões de vidas em todo o mundo, empurrou a economia global para sua pior recessão desde a Segunda Guerra Mundial, deixando milhões de pessoas desempregadas e empurrando muitas outras para baixo da linha da pobreza.
“Perda de empregos, um abismo digital cada vez maior, interações sociais interrompidas e mudanças abruptas nos mercados podem levar a consequências terríveis e oportunidades perdidas para grande parte da população global”, diz o relatório.
“As ramificações – na forma de agitação social, fragmentação política e tensões geopolíticas – irão moldar a eficácia de nossas respostas às outras ameaças-chave da próxima década: ciberataques, armas de destruição em massa e, principalmente, mudanças climáticas.”
Disparidades sociais em expansão
A pandemia levou a uma das transformações organizacionais mais rápidas da história, à medida em que governos e empresas migraram para a internet para minimizar a interrupção causada pelo confinamento. As restrições estimularam uma adoção sem precedentes de tecnologias digitais, já que muitas pessoas foram recomendadas a trabalhar em casa, escolas e universidades passaram a oferecer suas aulas on-line, médicos e pacientes recorreram a consultas virtuais, e líderes políticos trocaram suas reuniões por teleconferências.
Mas a crescente dependência da internet expôs a profunda divisão entre quem tem e quem não tem acesso à tecnologia, tanto dentro dos países quanto entre eles, com muitas crianças impossibilitadas de assistir a aulas virtuais devido a conexão ruim ou à ausência dela, e empresas fechando por causa de sua incapacidade de migrar para o serviço digital.
“A geração mais antiga dos millennials, que está agora na casa dos 30 anos, viveu basicamente duas crises: eles viram a crise financeira global de 2008 e 2009, quando ingressavam no mercado de trabalho, e agora estão vendo a recessão atual. Para eles, portanto, a vida profissional foi ditada por essas duas crises”, disse à DW Saadia Zahidi, diretora-gerente do FEM.
“Para os representantes mais jovens da geração dos millennials e da Geração Z, existe ainda a crise ambiental. Eles viram a catástrofe ambiental se desdobrar diante deles, e hoje enfrentam, portanto, essa dupla ruptura”, completa. “Eles precisariam de apoio adicional, pois esta é a geração que será marcada pela atual crise e eles continuarão a votar e moldar nossas economias e sociedades pelos próximos 30, 40 anos.”
A pesquisa com mais de 650 membros do FEM, oriundos da área de negócios, governos e universidades, descobriu que o risco de “desilusão da juventude” vinha sendo amplamente negligenciado pela comunidade global, apesar de constituir uma ameaça crítica para o mundo no curto prazo.
“As duras vitórias da sociedade podem ser destruídas se a geração atual não encontrar caminhos adequados para oportunidades futuras – e perder a fé nas instituições econômicas e políticas de hoje”, adverte o relatório.
Destaque para os riscos ambientais
A mudança climática emergiu mais uma vez como um risco catastrófico no relatório anual, com “falhas na ação climática” e “clima extremo” identificados como riscos mais prováveis de longo prazo pelo terceiro ano consecutivo.
Apesar de as medidas de lockdown devido à pandemia terem levado a uma queda nas emissões globais no ano passado, elas não puderam evitar que 2020 fosse considerado o ano mais quente já registrado. Uma forte recuperação econômica e uma redução das restrições no final deste ano podem levar a uma aceleração das emissões.
“O maior risco de longo prazo continua sendo a falha em agir na questão do aquecimento global. Não há vacina contra os riscos climáticos e, portanto, os planos de recuperação pós-pandemia devem se concentrar no crescimento alinhado com as agendas de sustentabilidade para reconstruir de maneira melhor”, disse Peter Giger, da seguradora Zurich.
O relatório observou que as respostas à atual pandemia, que causou novas “tensões domésticas e geopolíticas que ameaçam a estabilidade”, podem minar a luta global contra as mudanças climáticas. Os entrevistados classificaram o “colapso do multilateralismo” como uma ameaça crítica de longo prazo.
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