ODS3

Prefeitas superam prefeitos em proteção à vida na pandemia

Por Insper – 

Municípios brasileiros governados por mulheres registraram melhores resultados na crise sanitária do coronavírus do que localidades lideradas por homens em situação comparável. O fato de ter uma prefeita no Executivo relaciona-se com menos hospitalizações e mortes por covid-19 e com maior adoção de medidas protetivas.

Nas eleições para prefeituras de 2016, um conjunto de 1.222 municípios brasileiros apresentou ou uma mulher e um homem ou um homem e uma mulher nas duas primeiras colocações. Os pesquisadores Raphael Bruce, do Insper, Alexsandros Cavgias, da Universidade de Barcelona, e Luis Meloni e Mário Remígio, da USP, tomaram esse universo para avaliar se a liderança feminina fez diferença na pandemia.

Gráfico de barras horizontais mostrando que , nas cidades comandadas por mulheres, houve 47 menos internações a cada grupo de 100 mil habitantes, na comparação com as lideradas por homens. A taxa de mortes foi 26 a menos por 100 mil habitantes
Selecionando, entre todas essas disputas, aquelas em que a diferença entre o primeiro e o segundo colocado foi relativamente estreita, a análise comparou candidatos que aos olhos do eleitor tinham características parecidas. A vitória e a derrota nessas situações funcionam quase como um sorteio nos experimentos feitos em condições controladas.

Esse evento quase incidental de uma mulher, e não um homem, ter sido eleita levou a resultados palpavelmente diferentes no enfrentamento da epidemia no último ano do mandato desses governantes. Nas cidades comandadas por mulheres houve 47 menos hospitalizações a cada grupo de 100 mil habitantes, na comparação com as lideradas por homens. Sob as prefeitas, a taxa de mortes também foi menor: 26 a menos por 100 mil.

Gráfico de barras horizontais mostrando o aumento de ações protetivas nas cidades administradas por prefeitas mulheres. Na comparação com as cidades governadas por prefeitos homens, houve um aumento de 37% no número de intervenções, de 8% no uso obrigatório de máscaras, de 6% na proibição de aglomerações, de 14% nos bloqueios sanitários e de 13% nas restrições no transporte
Esses indicadores representam quedas de 30% e 44% nas taxas de hospitalizações e mortes, respectivamente, na comparação com as cidades governadas por prefeitos que venceram a segunda colocada por pequena margem em 2016. Reduções em volume similar também se verificaram para internações e mortes por síndrome respiratória aguda grave (SRAG), uma maneira de contornar possíveis subnotificações da covid-19.

Ao investigar os mecanismos pelos quais as prefeitas podem ter protegido melhor a saúde da população, a pesquisa verificou ter havido incremento na adoção de medidas sanitárias de cautela, não farmacêuticas, nas cidades comandadas por mulheres. Na comparação desses municípios com os governados por homens, além de as ações protetivas terem se dado em maior número, sobressaíram o uso obrigatório de máscaras, os vetos a aglomerações, os bloqueios sanitários e as restrições ao transporte coletivo.

Gráficos de barras horizontai mostrando que, nas cidades que tiveram maior apoio à eleição de Jair Bolsonaro para presidente em 2018, as prefeitas mulheres desempenharam um papel ainda mais relevante no enfrentamento da covid-19. Nessas cidades, houve uma redução de 81 internações por 100 mil habitantes, e uma redução de 42 mortes por 100 mil habitantes, na comparação com cidades bolsonaristas administras por prefeitos homens
Outro achado dos pesquisadores foi a conexão entre os resultados melhores das prefeitas na crise sanitária e a preferência eleitoral pelo presidente Jair Bolsonaro demonstrada nas eleições de 2018. A redução de hospitalizações e mortes foi mais forte nas cidades que votaram no então candidato do PSL acima da mediana nacional.

#Envolverde