Nações como Mali, Namíbia e Uganda investem em ações para mitigar e se adequar às alterações ambientais através da conscientização sobre importância do reflorestamento, da preservação, da adaptação agrícola e da eficiência energética
Em um mundo onde as mudanças climáticas estão cada vez mais presentes, parece óbvio que a adaptação e o combate às mudanças climáticas sejam atitudes essenciais a qualquer país, mas não é isso que vemos atualmente. Felizmente, a iniciativa de algumas nações africanas sugere que pelo menos alguns – geralmente os mais afetados pelas alterações ambientais – estão agindo para minimizar esse problema. Que essas ações possam servir de exemplo aos grandes causadores do fenômeno, que ainda têm muito trabalho pela frente.
Países como Mali, Namíbia e Uganda, que já sentem as consequências das mudanças climáticas em seus territórios, estão investindo em ações e mecanismos para se adequarem às mudanças climáticas e combatê-las, através da conscientização sobre questões como o reflorestamento e a preservação de ecossistemas, a adaptação agrícola com a criação de novas espécies, a economia de energia e a eficiência energética.
Em Mali, grande parte da cobertura florestal foi perdida nas últimas duas décadas, e segundo especialistas, isso ocorreu devido às mudanças climáticas. Esse processo alterou as condições ambientais e da vida de diversas espécies nativas que migravam para a região, afetando a agricultura, a pesca e o turismo no país.
“Uma constante escassez de chuva desde o final dos anos 1980 está secando as várias lagoas e reduzindo a zona de inundação onde ficam as florestas. Alguns pássaros migratórios europeus não vêm mais ao delta (do Rio Níger). As cegonhas brancas, por exemplo – que não acham mais árvores grandes nas quais fazem o ninho – passam o inverno na Espanha, em Marrocos ou na Mauritânia”, lamentou Mory Diallo, pesquisador da ONG Wetlands International.
Por isso, os malineses, com o apoio da ONG, decidiram replantar as florestas perdidas, visando recuperar a fauna e a flora locais. “Sete florestas antigas foram refeitas no interior do delta do Níger. E quatro delas são abrigos para animais aquáticos ameaçados, incluindo os hipopótamos, peixes-boi e alguns pássaros migratórios”, declarou Hassane Kaya, agente da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN).
Com isso, além de restaurar parte da vida selvagem nativa, os malineses também beneficiam suas atividades econômicas e de subsistência. “Estamos ajudando os agricultores a recriar muitas florestas nesta região, onde as escassezes de chuvas estão afetando o sustento de milhões de agricultores que dependem das florestas inundadas”, explicou Mamby Fofana, especialista em mudanças climáticas da embaixada suíça em Bamako, capital de Mali.
O replantio já começou a gerar renda para os fazendeiros locais, além de fornecer emprego permanente para alguns deles. “Todos os anos eu ganho cerca de seis mil francos (cerca de US$ 10) por dia enchendo os potes”, afirmou Amadou Cissé, participante do projeto, se referindo à atividade de plantar mudas de árvores em recipientes.
As novas árvores também ajudarão a reduzir as emissões de gases do efeito estufa (GEEs) do país, capturando 100 mil toneladas de CO2 até 2012 e 500 mil toneladas até 2017. Com isso, o projeto pretende ser qualificado no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), para ganhar créditos de carbono por limitar suas emissões de GEEs e vendê-los a países que precisem atingir metas de redução de CO2 ou a investidores.
Na Namíbia, as mudanças climáticas vêm causando enchentes e secas cada vez mais severas, o que não deixa outra escolha aos habitantes a não ser se adaptarem à nova situação. De acordo com pesquisas, os impactos das alterações ambientais poderiam reduzir o PIB do país em até 6%, ou US$ 30 milhões, nos próximos 20 anos.
“A diminuição das chuvas e o aumento da evaporação podem levar à redução da água da superfície e do reabastecimento das águas subterrâneas. Do jeito que está, a Namíbia deve enfrentar uma escassez de água absoluta até 2020. Essa é uma situação na qual os namíbios precisarão de mais água do que o país pode fornecer”, disse Johnson Ndokosho, assessor técnico do Projeto de Adaptação da África (AAP) na Namíbia.
No entanto, Ndokosho enfatizou que “o governo da Namíbia está comprometido com o desenvolvimento de sua base de evidências para gerar ações para a adaptação e mitigação das mudanças climáticas e autorizou estudos sobre proteção climática para aprender mais sobre os efeitos das mudanças climáticas”.
Assim, um dos programas criados para se adequar à nova realidade foi o Projeto Aves Urbanas Nativas, desenvolvido pelo AAP. O projeto gerou uma nova raça de ave doméstica, a Galinha Boschveld, cruza de três raças de galinhas africanas (Venda, Matabele e Ovambo), que é mais resistente a condições climáticas mais severas.
“É a única raça artificial de galinha nativa na África. É uma raça sem problemas que pode sobreviver em condições rigorosas. Para que a Namíbia atinja a segurança alimentar em termos de aves domésticas, devemos usar raças de alta qualidade que possam se adaptar às diferentes condições climáticas da Namíbia”, afirmou Nelson Haulamba, fazendeiro que faz parte do projeto.
Além desse programa, a Namíbia também está aplicando um projeto de proteção às zonas úmidas e à vegetação que cresce perto de córregos e rios. “Zonas úmidas são como esponjas. Elas absorvem água, agem como amortecedores contra as tempestades e são fontes de água fresca”, esclareceu Ndokosho.
Já na Uganda, o governo está preparando uma campanha de educação sobre energia e clima, que consiste em um tour, que passará principalmente por escolas, que visa aumentar a conscientização da população ugandesa sobre a questão. Segundo Simon D’Ujanga, ministro da energia, em outras campanhas, seu ministério percebeu que muitas pessoas no país não sabiam sobre energia e sobre os efeitos das mudanças climáticas.
“O nível de conscientização em assuntos sobre energia está tão baixo que pouquíssimas pessoas entendem o significado do termo ‘energia’. A maioria delas pensa que ‘energia’ significa ‘eletricidade’. Essa situação demonstra a necessidade de desmistificar a energia e educar o público sobre seu significado na vida diária, por isso é necessário criar uma população com cultura de eficiência energética”.
A iniciativa pretende tornar os conceitos de energia e mudanças climáticas mais fáceis para as gerações mais jovens e promover o uso de práticas e tecnologias de eficiência energética para a conservação ambiental e de energia. “Acreditamos que as crianças são o futuro e é por isso que educá-las é muito importante. Queremos começar nos níveis de base, já que a falta de conscientização é um problema que precisa ser enfrentado desde a raiz”, ressaltou D’Ujanga.
*publicado originalmento no site CarbonoBrasil.