Emissões dos EUA aumentaram 3,9% em 2010

Embora a Administração de Informação de Energia acredite que crescimento na liberação de gases do efeito estufa não assinale tendência, ambientalistas alertam que aumento dificultará o alcance de meta proposta pelo governo de 17% de redução até 2020 com relação aos níveis de 2005.

Algumas cidades norte-americanas já estão se adaptando aos impactos das mudanças climáticas, e a julgar pelas últimas informações a respeito das emissões de CO2, é bom que elas se preparem mesmo. Segundo o governo dos EUA, as emissões de carbono do país aumentaram 3,9% no último ano, devido à recuperação da economia.

De acordo com a Administração de Informação de Energia (EIA), a recuperação da economia norte-americana causou em 2010 um aumento de 213 milhões de toneladas nas emissões de gases do efeito estufa (GEEs), que são tidos como os maiores responsáveis pelas mudanças climáticas.

“Em 2010 as indústrias de manufatura mostraram uma forte recuperação em relação à recessão de 2008-9 e a indústria intensa em energia também experimentou um alto crescimento”, declarou a EIA. Esse crescimento significou um aumento de 3,9% nas emissões, maior alta nas liberações de carbono desde 1988.

Apesar disso, o órgão não vê motivo para muita preocupação. Para a EIA, esse aumento das emissões do último ano “provavelmente não sinaliza uma nova tendência no crescimento das emissões”, já que os índices de liberação de CO2 alcançados em 2010 ainda ficaram abaixo dos níveis atingidos em 2005 e em 2007.

No entanto, ambientalistas e especialistas acreditam que a queda nas emissões em 2008 e 2009 deu a impressão de que o país estava concentrando esforços para reduzir a liberação de GEEs, quando na verdade a diminuição de emissões foi conduzida pelo colapso financeiro que se abateu sobre a economia mundial. Segundo eles, esse novo aumento dificultará ainda mais a redução instituída por Obama de 17% nas emissões até 2020 em relação aos níveis de 2005.

“O fato de que as emissões caíram em 2008 e 2009 deu às pessoas um falso conforto. A realidade é que você não vai alcançar as metas que Obama estabeleceu sem uma política planejada para atingi-las”, alertou Michael Levi, especialista em energia e meio ambiente do Conselho de Relações Exteriores dos EUA (CFR).

Emissões políticas

Essa incerteza a respeito das emissões dos EUA acompanha não só a economia norte-americana, mas também as questões políticas do país. Com a aproximação das eleições presidenciais, em 2012, os pré-candidatos vão definindo suas posições em relação à mitigação das emissões de dióxido de carbono e das mudanças climáticas, e o resultado das urnas também influenciará na posição dos EUA quanto aos assuntos climáticos.

Desde já, os pré-concorrentes à presidência começaram a expor suas opiniões sobre o assunto. Rick Perry, governador do Texas e um dos pré-candidatos do Partido Republicano, segue a linha de seu partido que vêm negando a afirmação dos pesquisadores de que as mudanças climáticas estão sendo causadas pelo ser humano. “Sim, nosso clima tem mudado – vem mudando desde que a Terra nasceu. Mas não creio em um grupo de cientistas que, em alguns casos, manipularam essa informação”, alegou Perry.

“Acho que há um número substancial de cientistas que têm manipulado dados para que eles ganhem dólares para seus projetos. E acho que estamos vendo quase semanalmente, ou mesmo diariamente, cientistas se apresentando e questionando a ideia original de o aquecimento global causado pelo homem está fazendo o clima mudar”, acrescentou o governador texano.

Já Jon Huntsman, outro pré-concorrente presidencial Republicano, se posiciona como uma alternativa moderada a Rick Perry e à Republicana Michelle Bachmann, e afirma acreditar no que dizem a maioria dos pesquisadores em relação às mudanças climáticas. “Para ser exato, acredito na evolução e confio nos cientistas a respeito do aquecimento global. Chamem-me de louco”, escreveu Huntsman em seu Twitter.

Se mesmo dentro do Partido Republicano não há consenso em relação à diminuição das emissões de carbono, entre a indústria dos EUA e a Agência de Proteção Ambiental (EPA) e o Serviço de Pesquisa Congressional norte-americano essa concordância está ainda mais distante.

Rebatendo as críticas da indústria dos EUA – que alega que a redução da poluição das usinas de energia prejudicaria a economia – às regulamentações da EPA, o Serviço de Pesquisa Congressional lançou um relatório que indica que as regras da agência para mitigar os níveis de fumaça beneficiariam a economia norte-americana.

“O custo das regulamentações pode ser grande, mas, na maioria dos casos, os benefícios são maiores – especialmente os benefícios estimados para a saúde pública”, esclarece o documento.

Adaptação

Apesar de ainda não haver consenso sobre as mudanças climáticas em âmbito político, algumas cidades dos EUA decidiram já começar a se preparar para as possíveis consequências dos impactos ambientais.

Municípios como Chicago, Chula Vista, Norfolk, Nova York, São Francisco e Seattle estão adotando ações como a implantação de tambores de chuva, lixeiras de compostagem, plantas nativas, estações de tratamento de águas residuais, entre outros, para combater os efeitos das alterações do clima em suas regiões.

“Estamos principalmente na fase de estudo e planejamento”, explicou Michelle Mehta, co-autora do relatório Sedentos por Resposta, que analisa como doze cidades norte-americanas serão afetadas pelo fenômeno.  “Já estamos vendo consequências das mudanças climáticas, e elas só irão se intensificar”, refletiu Brian Holland, diretor de programas climáticos do ICLEI – Governos Locais pela Sustentabilidade – EUA.

* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.