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Cresce a evidência de crimes de guerra no Sudão do Sul

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Ataque a Abyei.
Nova York, Estados Unidos, 22/8/2011 – Testemunhas garantem que continuam os ataques contra populações civis no Sudão do sul, mesmo depois de a Organização das Nações Unidas (ONU) denunciar em junho crimes de guerra. “Quero chamar a atenção do Conselho de Segurança das Nações Unidas para que forneça imediata proteção aos civis em Kordofã do Sul e nas montanhas Nuba. As pessoas precisam fugir diariamente dos ataques aéreos do governo” do Sudão, disse na semana passada a uma rádio local o sobrevivente de um ataque da Força Aérea Sudanesa.

Aviões de Cartum bombardearam algumas aldeias de Kordofã do Sul, parte do nascente Estado do Sudão do Sul. Isto, sendo comprovado, equivale a crimes contra a humanidade ou crimes de guerra, segundo um informe preliminar divulgado no dia 15 pelo Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos e a Missão da ONU no Sudão (UNMIS). O trabalho descreve um grande número de supostas violações ao direito internacional na localidade de Kadugli, bem como nas próximas montanhas Nuba, depois que ressurgiram os combates, no dia 5 de junho, entre as forças de Cartum e o Exército de Libertação do Povo do Sudão-Norte (SPLA-N).

As supostas violações incluem “execuções extrajudiciais, detenções arbitrárias e prisões ilegais, desaparecimentos forçados, ataques contra civis, saques de residências, destruição de propriedade e deslocamento em massa”. O informe preliminar cobre apenas o mês de junho, mas há evidência de que ainda há civis em perigo. O SPLA-N denunciou no começo deste mês que havia constantes bombardeios de Cartum sobre Kordofã do Sul. O governo do Sudão ignorou o informe da ONU um dia após sua divulgação, qualificando-o de “malicioso” e “infundado”. Contudo, o ministro da Justiça, Mohamed Bushara Dosa, anunciou que seria criado um comitê especial para avaliar a situação dos direitos humanos na região de conflito.

Segundo Matt Chancey, diretor da Fundação do Projeto Perseguição, grupo cristão de ajuda humanitária, a ONU deveria declarar uma crise humanitária no Sudão do Sul e reiniciar os voos de ajuda. Para ele, não há dúvidas de que os atuais bombardeios no Sudão do Sul são crimes de guerra. “Já há evidência suficiente fornecida por muitos testemunhos confiáveis e trabalhadores humanitários de crimes de guerra nas montanhas Nuba. Há fotos, vídeos e testemunhos pessoais”, disse à IPS.

O ativista exortou a comunidade internacional a criar uma zona de exclusão aérea e reiniciar os voos humanitários para ajudar os refugiados. “Quanto mais isto demorar, maior será a crise humanitária no futuro, já que os campos continuam sem serem cultivados devido à ameaça de bombardeios”, acrescentou. Mais de 400 mil civis tiveram que abandonar suas casas e terras. Dados oficiais da ONU são menores, mas não incluem as várias milhares de pessoas expulsas de suas casas para abrigos ou colinas rochosas próximas devido aos bombardeios, informou a Fundação.

Uma das consequências é que os agricultores não poderão plantar em suas terras na próxima e crucial temporada de chuva. Observadores inclusive preveem que a situação vai se deteriorar ainda mais porque Cartum impede o acesso a todas as organizações de ajuda. “Isto significa que um desastre humanitário se aproxima nos próximos meses, com milhares de famílias sofrendo escassez de alimentos”, disse Chancey.

No dia 17, o Projeto Sentinel via satélite, liderado por um grupo com sede nos Estados Unidos, divulgou imagens do que pareciam ser duas pilhas de cadáveres envoltos em sacos na região montanhosa de Kadugli, capital de Kordofã do Sul, informou a rádio Voz da América. Especialistas disseram que uma trégua deve ser declarada rapidamente. O SPLA-N aceitou o fim das hostilidades em um documento também assinado pelo governo sudanês no final de junho. Porém, em 1º de julho, o presidente do Sudão, Omar Al Bashir, rejeitou o acordo e disse que a “limpeza” das montanhas Nuba continuaria.

“A única maneira de deter um genocídio em Kordofã do Sul é com uma forte e concertada pressão internacional sobre o regime de Cartum”, disse à IPS o analista Eric Reeves, especialista em assuntos do Sudão e autor de várias publicações. No entanto, ressaltou que não há indícios de que a comunidade internacional esteja preparada para exercer esse tipo de pressão. “Os combates continuarão enquanto Cartum acreditar que pode conseguir suas metas pelas armas. Creio que Cartum quer aniquilar a população nuba”, acrescentou Reeves. Envolverde/IPS