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Nem excesso, nem escassez

Estocolmo, Suécia, 24/8/2011 – A comunidade internacional corre o risco de perder a batalha pela água e pelo saneamento em muitas cidades do mundo. “Não podemos nos permitir perder essa luta”, alertou Anders Berntell, diretor-executivo do Instituto Internacional da Água de Estocolmo. Cidades da Ásia, África, Europa e América Latina sofreram duas condições climáticas extremas paradoxais, inundações e secas, disse Berntell na conferência internacional sobre a água iniciada no dia 22, em Estocolmo.

O Paquistão sofreu no ano passado as piores inundações de sua história, que deixaram mais de dois mil mortos e 11 milhões de pessoas desabrigadas. As inundações no Brasil, na Austrália, Filipinas e França, consideradas as “piores em 200 anos” neste último país, deixaram vidas e infraestrutura destruídas. No Chifre da África, a atual seca que afeta a Etiópia e a Somália – a pior em 60 anos neste último país – derivou em uma fome que matou mais de 30 mil crianças.

O denominador comum dessas tragédias é a água. A mudança climática representa novos desafios, disse Berntell, para 2.500 delegados, uma participação sem precedentes na 21ª conferência de uma semana que este ano leva o nome de “Respondendo à Mudança Climática: Água em um Mundo que se Urbaniza”. Segundo este especialista, “ao aumentar a ocorrência de inundações e eventos climáticos extremos, é claro que o excesso de água pode ser tão perigoso quanto a escassez”, afirmou.

Melhorar o acesso a água e saneamento é um importante catalisador para o desenvolvimento, disse a ministra sueca da Cooperação para o Desenvolvimento Internacional, Gunilla Carlsson. “Os custos de não agir superam de longe os do bom funcionamento e da gestão sustentável da água”, afirmou.

A conferência da Organização das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), que acontecerá no Rio de Janeiro em junho de 2012, 20 anos após a Cúpula da Terra, deverá destacar a necessidade de se fazer um uso eficiente do recurso e conseguir um acesso equitativo a água e saneamento nas cidades, acrescentou Carlsson. Um dos maiores problemas para conseguir o fornecimento universal de água é que a crescente população das cidades supera um recurso escasso.

Mais da metade da humanidade vive em centros urbanos, disse Berntell, com a perspectiva de que essa tendência se mantenha e a população aumente mais de 70 milhões de pessoas por ano num futuro próximo. A população mundial duplicará em 2030, com relação a 2000. Uma em cada quatro pessoas, cerca de 794 milhões de cidadãos, carece de instalações sanitárias adequadas e 141 milhões não têm acesso a água potável.

Além disso, “mais de 800 milhões de pessoas vivem em assentamentos precários, onde há grande incidência de doenças, como diarreia, malária e epidemias de cólera, com consequências devastadoras para as famílias e graves efeitos nas economias nacionais”, disse Berntell. As cidades crescem, mas o mesmo não ocorre com o volume de água disponível, acrescentou.

Conseguir novas fontes para extrair água costuma ser difícil e caro. As cidades obtêm água em lugares cada vez mais distantes e competem com o campo por esse recurso, explicou Berntell. Há uma crescente necessidade de adaptar a infraestrutura de fornecimento de água para cobrir as necessidades. Contudo, os investimentos no setor não acompanham a urbanização. É um recurso subavaliado e, em muitas partes do mundo, a má governança e as operações financeiras inviáveis colocam em risco a distribuição.

Entretanto, a urbanização também oferece uma oportunidade para melhorar a gestão. A solução está na natureza dos centros urbanos. São lugares de grande densidade populacional, centros de crescimento econômico e incubadoras da criatividade. Estima-se que 70% do produto interno bruto é gerado nas cidades. Estas geram economias de escala e oferecem excelentes oportunidades para o desenvolvimento efetivo de infraestrutura, para reutilizar a água, reciclar desperdícios e para se ter um uso mais eficiente desse recurso e da energia.

Mas as estratégias de gestão da água não podem ficar limitadas às cidades. Para que as soluções sejam sustentáveis, as cidades devem planejar seu crescimento considerando toda a bacia a fim de não aumentar as tensões entre os meios rural e urbano, evitando a contaminação e a degradação ambiental.

No ano passado, foi felicitada a Autoridade de Fornecimento de Água de Phnom Penh, em Estocolmo, por realizar um trabalho melhor do que em muitas cidades do mundo. Pequim, Manila, São Paulo e Londres são outros exemplos de melhorias significativas. Envolverde/IPS