ODS 16

O jornalismo no século 21

O novo jornalismo, que deverá caminhar com a humanidade neste século hiperconectado, já nasceu e caminha para assumir seu papel civilizatório

O jornalismo no século 21

Por Dal Marcondes , especial para a Envolverde – 

Dia 7 de abril é conhecido como o Dia do Jornalista ou do Jornalismo. Neste dia as redes sociais e muitos veículos verbalizam uma certa nostalgia em relação ao que o jornalismo já foi, e como a profissão de jornalista foi descaracterizada em relação ao que foi na segunda metade do século 20. Esse período é considerado como “A era de ouro” do jornalismo. Isso porque foi um período em que as empresas jornalísticas tinham dinheiro e recursos para bancar o jornalismo profissional e bons jornalistas tinham espaço para suas reportagens e para buscar a fundo pautas que hoje não encontram nem recursos nem espaços disponíveis para se apresentarem ao público.

Muito chegam a decretar a morte do jornalismo por não encontrarem mais suas reportagens nas páginas de jornalões que, no passado, chegaram às centenas de milhares de exemplares em suas edições dominicais. Ou veículos cult como foram o Jornal da Tarde ou a revista Realidade. Poucos se lembram de que mesmo quando os jornalões ocupavam espaços de leitura obrigatória, havia uma mídia que produzia um jornalismo chamado “alternativo”. Um espaço onde jornalistas que não se encaixavam no mainstream criavam novas narrativas e formatos de levar notícias para o público.

Neste século digital muita gente talentosa não tem espaço nos antigos grandes veículos. Principalmente porque eles não são mais “grandes” e não conseguem mais dar vazão a todas as pautas importantes que estão por ai. No entanto, essas mídias acostumadas ao epíteto de “Formadores de Opinião” fazem questão de manter sua fama de mainstream e qualificam tudo o que não são eles como “alternativos”. Isso de forma pejorativa, mas não deveria, uma vez que ser alternativo ao mainstream moribundo significa inovação. Uma nova forma de fazer jornalismo e de levar informação para a sociedade.

O jornalismo não morreu, pelo contrário, renasceu livre das amarras da necessidade de grandes capitais e estruturas industriais, ressurgiu com a agilidade das novas ferramentas digitais, dos smartphones, da internet, das redes sociais e das plataformas. Emergiu com o talento de novos empreendedores que se jogam a criar mídias capazes de aprofundar temas relevantes para a sociedade, com especializações que nenhum jornalão jamais foi capaz de fazer.

O jornalismo digital está em seu nascedouro. A maior parte das mídias on line tem em torno de 10 anos de idade, contra os centenários jornalões. Há muitos problemas a serem resolvidos nesse caminho que se constrói ao caminhar. No entanto, apesar dos tropeços, o olhar aponta o horizonte. Jornalistas que acreditam na importância de oferecer boa informação à sociedade, que acreditam no papel civilizatório do jornalismo, seguem na busca de caminhos que levam ao público.

Durante os anos de chumbo da ditadura militar muitos jornalistas fugiram ou foram expulsos das grandes redações e se entrincheiraram na mídia de resistência. Foram dezenas de veículos que ajudaram a manter viva a chama da democracia. Também formaram um nova geração de profissionais que, por fim, foram absorvidos pelo mainstream, levando para suas páginas e telas as pautas que defendiam nas trincheiras. É famosa a historinha de um diretor de jornalão que vai à polícia política buscar um jornalista preso e brada para o delegado: “dos meus comunistas cuido eu”. A história é mais ou menos assim.

O jornalismo do século 21 está nascendo nas telas dos smartphones, nos podcasts, em sites e redes sociais. É alternativo? Talvez. Mas, sem dúvida, é jornalismo. Está experimentando, está crescendo, se fortalecendo e formando uma nova geração de profissionais para quem o jornalismo do século 20 é apenas história.

O jornalismo não está morrendo. O jornalismo está em mutação, começa a ser o que será e não é mais o que foi um dia. O saudosismo pode servir para nos lembrarmos do que um dia foi a “inteligência coletiva” das grandes redações, mas não serve para entendermos como será pavimentada a estrada da informação daqui para a frente.

É importante compreender que nesta sociedade hiperconectada o jornalismo digital é a vacina capaz de gerar os anticorpos para a evolução necessária e a restauração civilizatória.

Envolverde