Num planeta predominantemente aquático, somos constituídos basicamente desse elemento. Nosso comportamento beira a esquizofrenia: seres mais aquáticos do que terrestres, desprezamos o principal elemento que nos dá forma e permite a vida em 3D. Haverá no cosmos seres tão ingratos e estúpidos quanto nós?
Água é quase sinônimo de vida, basta observar a relação entre ela e os outros elementos presentes em todos os seres vivos. Gulosamente nos preocupamos com a alimentação e pouco ou nenhum valor lhe damos, principalmente os viciados em sabor doce que só bebem sucos e refrigerantes.
Esse distúrbio se deve em parte à ciência médica: introduzir sucos na dieta infantil, com um quase desprezo pela água e sua qualidade – criou um DNA cultural difícil de ser erradicado, que contribui de forma decisiva para a desvalorização dos cuidados em manter saudável o principal elemento do nosso corpo planetário e do próprio organismo físico: a água. As pessoas comuns acham um absurdo que uma garrafa de água custe o mesmo preço que uma de refrigerante ou suco.
Na dúvida entre uma verdade científica da moda e outra, prefiro ficar sempre com a da mãe natureza: fruta é para comer, se fosse para beber já vinha engarrafado na árvore.
É possível sobreviver alguns meses sem comer, mas sem água duramos poucos dias. Para manter um estado de sanidade necessitamos mais de água do que de alimento.
Apenas algumas de suas funções são transportar nutrientes celulares, carrear restos do metabolismo jogando-os fora, excretando-os, regular o equilíbrio ácido – básico, transportar energia vital para as células.
Além disso, é um importante condutor das energias da natureza. Percebemos como “recarregamos as baterias” estando à beira-mar, próximo de cachoeiras ou durante o banho, quando logo desaparece a sensação de cansaço.
Gulosamente, é comum confundirmos a ingestão de líquidos com água, mas suco não é água, chá não é água, refrigerante não é água. Alguém que bebe num dia dois litros de suco ingeriu dois litros de líquido e zero de água.
Fervida ou “tratada” perde suas propriedades vitais.
Mesmo com o problema de transporte, armazenamento e contaminação pelo plástico das embalagens, na relação custo-benefício ainda é interessante fazer uso de água mineral sempre que possível.
Atenção, naturebas de plantão: cuidado com o uso abusivo de chás sem saber qual é a indicação, forma de uso, e por quanto tempo deve ser tomado, pois só devem ser bebidos com conhecimento de sua finalidade terapêutica.
Juízo, “acadêmicos corporais” e atletas da moda: o uso frequente de bebidas enriquecidas de sais minerais pode comprometer a função renal, mas, a todo momento, vemos crianças usando-as como se fossem água, até sem praticar esporte.
Mesmo o consumo de sucos naturais deve ser consciente quanto à quantidade e finalidades, pois tudo que em pequena quantidade cura, em quantidade maior pode fazer mal.
Sob a “isca de marketing” da extremamente oxidável vitamina C, o suco mais consumido é o de laranja, que é danoso à saúde de muitas pessoas. A laranja é fruta de excepcional valor alimentício curativo, e rica em fibras, e certamente consumir laranja é bom para manter a saúde. Mas, o que é “comer” laranja? É mastigar, mastigar bem, engolir o bagaço e, jogar fora apenas o caroço. Ao comermos laranja, conseguimos devorar apenas uma ou duas, já quando se trata de chupar laranja uma só não basta, e só nos satisfazemos com duas ou três. O suco dela contém o sumo de seis ou sete cuja acidez e fermentação é danosa à saúde, certamente, respeitada a tolerância individual, além disso, é uma lavoura muito envenenada por agrotóxicos (quem esfrega e lava a laranja antes de descascá-la ou de espremê-la?).
Sucos artificiais que imitam o sabor das frutas dispensam comentários (como disse o sábio Jesus: “não dê pérolas aos porcos…”).
Preservar a vida implica necessariamente preservar a qualidade da água.
Sem dúvida ao menos algumas das previsões de seleção humana em andamento vão se concretizar – e tudo leva a crer que uma das formas que o planeta vai encontrar para faxinar em larga escala os seres humanos de pouca qualidade que o habitam será a água.
Não se trata apenas de economizar água – mas principalmente de cuidar da sua qualidade. As besteiras que fazemos nos cuidados com a água são as mesmas que fazemos nos cuidados com nossa saúde. Não adianta submeter periodicamente a água a mil exames e tratá-la com remédios e venenos – é preciso cuidar dela com inteligência e amor.
Todo juízo é pouco.
Embora a Justiça Natural seja eminentemente educativa e não punitiva, ela jamais esquece nem perdoa sem reparação.
Quem quiser bancar o filho pródigo esteja à vontade – será bem recebido de volta à Nova Terra, na renovada casa do pai, mas antes vai ter que comer o pão que o diabo amassou em pocilgas cósmicas secas, bem secas.
Nestas bandas do universo, água é sinônimo de vida.
O que está fazendo da sua?
Namastê.
* Américo Canhoto é clínico geral, médico de famílias há 30 anos. É pesquisador de saúde holística, e usa a homeopatia e os florais de Bach. É escritor de assuntos temáticos, como saúde, educação e espiritualidade, e palestrante e condutor de workshops. É coordenador do grupo ecumênico Mãos Estendidas de São Bernardo do Campo, projeto voltado para o atendimento de pessoas vítimas do estresse crônico, portadoras de ansiedade e medo que conduz a depressão, angústia crônica e pânico.
** Publicado originalmente pelo EcoDebate e retirado do site Mercado Ético.