Todo futuro economista aprende na faculdade que o consumo é essencial para movimentar o capital de uma nação e, portanto, ele deve ser promovido para que os países cresçam. A lógica está correta. O que não se ensina, porém, é que nem sempre o crescimento de uma economia e, consequentemente, do país é a opção mais saudável para a nossa sociedade.
Cada item que consumimos diariamente, seja alimento, roupa, combustível, entre outros, possui um rastro de impacto socioambiental atrelado a sua produção e transporte. Esta trilha é denominada pelo mercado como pegada, que pode ser de carbono, recursos hídricos e ecológicos ou de outros temas que ainda vão surgir. Resta essas informações chegarem aos consumidores finais. O objetivo é que antes de pegar um produto na prateleira, o comprador conheça os impactos sociais e ambientais que foram necessários para que aquele item chegasse até as lojas. É uma forma de definir os valores que deseja incluir ao próprio rastro.
Além da cultura histórica de consumo, a sociedade de hoje tem acesso a uma infinidade de opções nas lojas, graças ao advento da globalização. A popularização da internet ainda rompeu as barreiras continentais e colocou todos os produtos de qualquer canto do mundo na porta da casa de quem quiser.
O consumismo nas classes sociais mais altas não é nenhuma novidade. O que mudou nos últimos anos é que as empresas e governos passaram a dirigir seus esforços para a população de baixa renda, ampliando o acesso ao crédito. Por um lado, trabalhadores conseguiram comprar a casa própria, um carro, etc. O problema está em muitas famílias estarem se endividando por um televisor mais moderno, um celular de última geração, viagens ou outros itens que não são realmente essenciais em suas vidas. O resultado é que trocamos a política do consumo pela cultura do endividamento.
O brasileiro se acostumou a avaliar o valor da prestação e não do bem que está adquirindo. Não importa mais o preço final que se vai pagar pelo carro, mas sim o quanto as parcelas vão pesar no orçamento mensal. Essa cultura criou nos cidadãos uma falsa sensação de prosperidade, que pode ser facilmente abalada a qualquer sinal de redução ou encarecimento do crédito. Um exemplo claro é o caso da economia norte-americana, que por ter crescido baseada no consumo e no endividamento da população, desmoronou em 2008 e até agora não apresenta sinais saudáveis de recuperação.
Olhando de forma simplificada, o incentivo desordenado ao crédito gera um consumo de bens de serviço que não aconteceria apenas considerando a renda real dos trabalhadores. Se avaliarmos esses gastos extras como sendo, em grande parte, com produtos que não são de primeira necessidade, podemos concluir que o excesso de crédito está financiando um consumo nada sustentável e uma pegada individual cada vez maior.
Isto não significa que as pessoas não devem mais gastar. O que se espera dos compradores é que antes se adquirir um bem ou serviço se reflita sobre a real necessidade dele, se o dinheiro não fará falta em outros itens mais essenciais e, por fim, se o motivo do endividamento é realmente necessário à sua sobrevivência.
* Marcela Paranhos é formada em ciências econômicas e atua como consultora na área de sustentabilidade da WayCarbon.