Por Dal Marcondes, especial para a Synergia* –
No dia dedicado à alimentação na COP28, um debate com especialistas na área mostra que a produção de alimentos é um ponto essencial para a segurança alimentar dos povos e para a redução de emissões por meio da adoção de princípios da Agricultura de Baixo Carbono e da diminuição do consumo de carne em todo o mundo. No Brasil, um dos principais produtores mundiais de alimentos, a agropecuária é responsável por 70% das emissões de gases estufa e, também, por um índice semelhante de uso da água disponível para consumo.
Estimativas mostram que a adoção de modos de produção mais sustentáveis podem ter um impacto positivo de redução de até 75% das emissões. Para Juliana Tângari, diretora do Instituto Comida do Amanhã, que participou do painel sobre Transição dos Sistema Alimentares nesta quarta-feira, 6, em Dubai, as escolhas das pessoas pode ajudar a melhorar o perfil de emissões dos alimentos. Ela explica que há uma enorme monotonia na forma com que a alimentação é produzida e consumida. “Em quase todo o mundo, a comida tem como base um número muito pequeno de cereais e plantas”, explica. E diz que a regionalização e a inclusão de maior variedade de produtos pode ser um fator de segurança alimentar, saúde e cuidado com o clima.
Também participaram desse painel Puyr Tembé, secretária de Povos Indígenas do Estado do Pará, e Raquel Santiago, professora da Universidade Federal de Goiás e colaboradora do Lancet Coutdown América do Sul, organização dedicada ao estudo sobre saúde e mudanças climáticas na América do Sul.
Para Raquel Santiago, os altos níveis de desnutrição nos países do Sul Global, o que inclui o Brasil, têm uma relação direta com a falta de diversidade de fontes de alimentos. “Nós temos em torno de cinco produtos que são a base da alimentação diária da grande maioria da população, isso quando tem acesso aos alimentos”, explicou a professora. Ela alertou que essa falta de diversidade também impacta na biodiversidade dos países, porque provoca grandes extensões de monoculturas sem precauções em relação aos animais e às comunidades.
Essa diversidade de alimentos disponíveis na biodiversidade foi, segundo Puyr Tembé, a grande responsável por garantir a segurança alimentar e a saúde para os povos da floresta no Brasil durante a pandemia de Covid19. Segundo ela, essa biodiversidade não fornece apenas alimentos, mas também os medicamentos que os indígenas utilizaram para combater a doença e que garantiram baixos índices de mortalidade entre seu povo.
Os diálogos, mediados por Maurício Alcântara, co-fundador do Instituto Regenera, uma organização que atua para fortalecer sistemas alimentares regenerativos e participativos, deixaram claro a relação simbiótica entre a boa alimentação e a saúde das populações. Assim como os impactos negativos da atual modelagem de produção agropecuária e de alimentos processados em todo o mundo. Alimentos, saúde e clima são parte da mesma equação.
O vídeo do painel pode ser visto AQUI.
*Synergia Socioambiental e Envolverde na cobertura da COP28.