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Mudanças de opinião dez anos após os atentados

Washington, Estados Unidos, 5/9/2011 – Os norte-americanos começam a duvidar e muitos olham a política externa de seu país em busca das razões dos ataques contra Nova York e Washington em 11 de setembro de 2011, segundo estudo feito pelo Centro de Pesquisa Pew. Os entrevistados se mostraram mais dispostos do que há dez anos a acreditar que as políticas dos Estados Unidos no Oriente Médio podem ter motivado os ataques da Al Qaeda, ao serem perguntados “por que nos odeiam?”.

Muito diferente do que aconteceu logo após os atentados, quando 55% dos entrevistados na época rechaçaram essa possibilidade e somente um em cada três concordava com a afirmação. Dez anos depois, as opiniões são mais parelhas, com 43% considerando que os ataques de 2011 poderiam ter sido motivados por algo que “os Estados Unidos fizeram errado ao se relacionarem com outros países”, enquanto 45% rejeitaram essa possibilidade.

A mudança de opinião aconteceu entre os consultados que disseram ser independentes ou simpatizantes do governante Partido Democrata. Metade deles acredita que as políticas dos Estados Unidos motivaram o atentado. No entanto, os seguidores do opositor Partido Republicano mantêm sua visão de que os Estados Unidos nada fizeram que motivasse os ataques. O estudo também revela diferenças de opinião em função da idade dos entrevistados. Mais da metade dos menores de 30 anos disseram que as ações de Washington podem ter incidido nos responsáveis, enquanto apenas 20% dos maiores de 65 anos compartilham dessa opinião.

Outra mudança ocorrida na última década tem a ver com a opinião dos entrevistados sobre a necessidade de restringir as liberdades civis para frear o terrorismo. Dos consultados imediatamente após o 11 de setembro, 55% consideraram certo sacrificar as liberdades civis, proporção que agora caiu para 40%. Além disso, o índice de pessoas contra as medidas aumentou de 35% para 54%, segundo o estudo. Porém, a opinião pública mudou em sentido contrário com relação à tortura.

Ao ser perguntado se “é justificado o uso da tortura para obter informação importante de supostos terroristas”, 43% dos entrevistados em julho de 2004 responderam “frequentemente” ou “às vezes”. Sete anos depois, as pessoas favoráveis à tortura aumentaram para 53% dos entrevistados. Por outro lado, as que disseram que não se justifica “nunca” caíram de 32% em 2004 para 24% atualmente.

Uma grande maioria dos entrevistados disse que os atentados marcaram o “começo de um grande conflito entre cidadãos da Europa e dos Estados Unidos e os que professam o Islã” e não “um conflito com um pequeno grupo radical”. As pessoas que acreditam no início de um “grande conflito” aumentaram, passando de 28% em outubro de 2001 para 35% atuais. Dos que se definiram como republicanos, 40% compartilharam particularmente essa explicação, 10% a mais do que dez anos atrás.

O estudo foi baseado em entrevistas com 1.500 adultos realizadas entre 17 e 21 de agosto. Dos entrevistados que tinham mais de oito anos em 2001, 97% recordam exatamente onde estavam naquele momento. Mais do que os 95% que se lembravam do que faziam em 1963, quando foi assassinado o presidente John F. Kennedy, do que os 80% que lembraram quando o primeiro homem pisou na Lua em 1969 e do que os 58% que se recordam de quando foi derrubado o Muro de Berlim, em 1989.

Dos adultos maiores de 30 anos, 81% disseram que foram “muito” afetados emocionalmente pelo ataque de 2001, bem mais do que os 55% dos entrevistados que disseram ter se sentido dessa formal. Seis em cada dez entrevistados afirmaram que esses atentados mudaram a vida dos Estados Unidos de forma significativa, enquanto apenas um em cada dez acredita que, basicamente, tudo segue igual.

Com o tempo, também mudou a opinião sobre a gestão da crise do então presidente George W. Bush. Pouco depois do ataque, 86% dos entrevistados disseram que aprovavam seu trabalho, entre os quais havia 81% de democratas e 96% de republicanos. No entanto, este ano, 56% disseram aprovar sua gestão. Dos republicanos, 84% se mantiveram fiéis à sua opinião, ao contrário dos democratas, cujo apoio caiu 39% em dez anos.

A idade também incidiu na apreciação da gestão de Bush. Os entrevistados com mais idade que disseram estar “preocupados pelo aumento do extremismo islâmico nos Estados Unidos” também se mostraram a favor das “revistas adicionais nos aeroportos em passageiros com supostas origens no Oriente Médio”, bem como não lhes parece mal que os muçulmanos deste país sejam vigiados. Os entrevistados mais jovens tendem mais a crer que as operações militares dos Estados Unidos no Afeganistão e Iraque aumentam as possibilidades de haver um atentado terrorista neste país, conclui a pesquisa Pew, publicada dia 1º deste mês. Envolverde/IPS