Não adianta ter razão, é preciso saber se explicar. Os dez anos do 11 de Setembro são um grande caso de comunicação global que merece ser estudado para formulação de política externa de nações, de grupos e de indivíduos.
Os atentados abriram o Século 21 com um estrondo e contaminaram o nosso imaginário de imagens tão inesquecíveis quanto inimagináveis, vistas quase sempre ao vivo nas TVs do mundo todo, num reality show de terror, choque e pavor.
Este é, entre muitas coisas, o século da imagem. Elas circulam na velocidade do instantâneo e são parte cada vez mais dominante de nossa comunicação. Quem cria as imagens certas (com uma boa trilha sonora) encontra seu público.
Mas sabedoria estética não é virtude exclusiva do bem, sabemos bem. Assim como outros gênios do mal, Osama bin Laden encontrou as imagens certas para propagar o seu horror.
Aviões comerciais atravessando as Torres Gêmeas no coração de Nova York, o desmoronamento das icônicas gêmeas ao vivo pelas TVs do mundo todo, Manhattan em chamas e sob a névoa espessa dos escombros compuseram o primeiro ato, espetacular, de um script aberto que começou naquele cenário de céu azul do verão nova-iorquino e ainda hoje não acabou.
O 11 de Setembro me abalou em Salvador, indo encontrar mãe Stella. Sou americanófilo confesso. Compartilho da paixão dos Estados Unidos pelo empreendedorismo, pela liberdade, pela vontade de criar riqueza e pela capacidade de resolver problemas de forma pragmática e criativa.
Fiquei abaladíssimo com a dor norte-americana, que foi minha também.
Nunca tínhamos visto uma notícia tão grande: aquele cenário, aquele roteiro, aquela força dramática, aquele golpe no coração do poder e da riqueza. Tudo ao vivo.
Aquilo foi muito forte e detonou muita coisa. Os Estados Unidos, atingidos no auge de seu poder bélico e econômico, buscaram um caminho custoso de reafirmação global que acabou tendo efeito inverso, minando sua liderança no mundo.
Washington pode ter formulado um discurso bonito de busca de justiça e de democracia para combater as causas do terrorismo. Mas Washington não conseguiu criar imagens/mensagens que conseguissem explicar às massas planetárias, especialmente as islâmicas, sua visão e sua missão.
O grande público está muito mais informado hoje do que em qualquer outra época da história. E isto só vai aumentar. Essa troca de informação em grande escala será cada vez mais audiovisual e cada vez mais global. Os países e as empresas precisam se preparar.
Depois de dez anos tão rápidos quanto intensos, o mundo ao qual chegamos neste 11 de setembro de 2011 é um mundo muito diferente. É um mundo que perdeu o centro. O Hemisfério Norte, em crise econômica paralisante, cede poder econômico e político para o novo Sul em ritmo veloz.
A emergência de nações como Brasil, Índia, China e tantas outras mudará definitivamente a cara e o mapa do mundo.
O 11 de Setembro foi como um acelerador de tudo isso, ao desviar os Estados Unidos para guerras tão custosas que hoje seguram seu desenvolvimento.
Precisamos que os Estados Unidos voltem a crescer para crescermos mais e melhor, com eles. O Brasil, gigante fraterno, terá um papel fundamental a desempenhar nesse novo cenário.
Precisamos desde já estimular os nossos líderes a serem mais globais, com visão e discurso que tenham aderência com as plateias globais.
Visão e discurso que serão muito mais aderentes se forem acompanhados de imagens benignas que só o nosso país pode criar: da alegria das grandes festas populares à Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016; dos campos do interior que alimentam o mundo às fábricas de avião e de automóveis; das florestas que preservam nossa ecologia às novas metrópoles que multiplicam riquezas.
Não por coincidência, estarei em Nova York no próximo domingo, dia 11. Comungarei com os nova-iorquinos do mundo todo toda a dor daquele dia.
Com uma forte esperança de que o novo cenário mundial, mais aberto, mais diverso, mais multi do que hiper, será também mais seguro, mais próspero e mais pacífico para se viver.
* Nizan Guanaes é publicitário e presidente do Grupo ABC, escreve às terças, a cada 15 dias, no jornal Folha de S.Paulo.
** Publicado originalmente no site EcoD.