Com a enorme euforia reinante na cidade do Rio de Janeiro por conta dos grandes eventos agendados para acontecer por aqui nos próximos anos, e por toda a parte anúncios de grandes obras feitas pelos nossos governantes de peito estufado, fica muito, muito difícil entender como é que estes mesmos governantes conseguem dar tiros nos próprios pés, às custas de vidas alheias!
O bondinho de Santa Teresa é um cartão postal do Rio de Janeiro – este fato ninguém disputa. Ele está em péssimo estado já há muito tempo, este fato também ninguém disputa. No mês de junho deste ano, faleceu um turista francês que caiu do bondinho nos Arcos da Lapa. Grande alarde! Após acontecer esta fatalidade, ficou mais do que evidente a necessidade de conservação nos trilhos e nos bondinhos do sistema.
Apurados e noticiados os fatos e as providências que seriam tomadas, todos seguimos nossas vidas, certos de que as autoridades competentes, neste caso o governo do Estado, tomariam as devidas providências. Já pagamos uma carga altíssima de impostos, não temos também agora que dedicar nosso tempo a fiscalizar o trabalho que o governo tem que fazer… – ou temos??
Para quem quiser saber com detalhes a cronologia da luta dos cidadãos da Associação de Moradores de Santa Tereza pela conservação do sistema dos bondinhos, acesse http://amast.org.br/, e encontrará tudo documentado lá.
Pagamos o salário de pessoas em órgãos públicos para que garantam o bom funcionamento de serviços à sociedade. Ora, todos nós cidadãos temos que fazer (e pagar para fazer) a vistoria anual de nossos automóveis, e se um pneu estiver careca, somos obrigados a trocá-lo para poder continuar circulando com o automóvel, para que não coloquemos nossas vidas e de outros em perigo. Porque esta mesma lógica não vale para o Sr. secretário de Transportes do Estado do Rio de Janeiro? Desde 2008, foi determinada a recuperação completa do sistema do bondinho, e NADA foi feito, resultando na morte de seis pessoas recentemente, e mais outras muitas feridas gravemente.
Não resta dúvida alguma de que as pessoas responsáveis pela boa manutenção do sistema para que fosse liberado para uso pela população são responsáveis pelos últimos acontecimentos. E não apenas pela boa manutenção, mas também pelo uso correto, respeitando o limite de passageiros. Não dá mais para os governantes ficarem inventando estórias da carochinha para fazerem de conta que não têm nada a ver com estes últimos acontecimentos. Alô, Ministério Público, como vai ficar “esta parada”? E SE……. a responsabilidade pelo crime fosse estabelecida, e os responsáveis punidos civil e criminalmente?
* Alexandra Lichtenberg consultora em Desenvolvimento Sustentável.
** Publicado originalmente no site Plurale.