Um dia, eu cansei de teorias. As que dizem que você atrai o que está no seu entorno, que o Universo não entende palavras negativas, que nós materializamos aquilo em que acreditamos. Com tantas possibilidades fica até difícil saber o que procede, até que ponto funciona e como colocar isso em prática. Pensando assim, resolvi começar pela que pareceu mais simples: parar de usar palavras negativas.
É dito que o Universo não entende palavras, como “não”, “nunca”, “jamais”, “nenhum”, etc. Ou seja, se você pensa: “Não estou correndo perigo andando aqui a essa hora da noite”, o Cosmos vai entender: “Estou correndo perigo andando aqui a essa hora da noite” porque o “não” não é lido, visto, é como se não existisse e você acaba emanando essa energia de perigo.
Seguindo essa teoria, propus a mim não usar palavras negativas na fala nem em pensamentos a partir de segunda-feira. Comecei bem. Num jogo comigo mesma, estava pensando apenas no positivo e falando apenas na afirmativa, quando comecei a realizar uma atividade muito chata no trabalho e pensei: “Trabalhinho de corno esse aqui”. Não eram nem dez da manhã. “Ops! Quebrei o ritmo da semana positiva!”, pensei desanimada. Logo depois, voltei atrás. “‘Corno’ é negativo? Não, não é… Ou pelo menos não é a negação de nada. Mas não é o tipo de expressão que combina com uma semana que proclamei positiva.”
Ligeiramente confusa, dei andamento à minha proposta, torcendo para que a dificuldade de trocar “impossível” por “desafiador” e “nem em um milhão de anos” por “improvável” fosse amainando até domingo, quando decidi que voltaria ao normal. Mas ao contrário das minhas expectativas, o vício de usar o negativo até para falar de coisas boas era incomodamente constante. “Não tem importância”, “não preocupa não”, “não tem problema”, “não tem pressa”, “não vou me estressar com isso”… Como pode?
Apesar de reformular minhas frases várias vezes, ainda que mentalmente, ainda não me dei por satisfeita: havia várias outras palavras e expressões ruins que estavam no meu vocabulário “difícil”, “tenso”, “cansada”, “tédio”, “mala”… De que adiantava eliminar algumas palavras e manter outras que o Universo até lê com facilidade, mas que não atraem, em teoria (mais uma vez, em teoria!) nada de bom?
Achei que meu jogo estava ficando complicado demais, mas continuei até domingo para verificar os resultados que, claro, viria postar aqui. Minhas conclusões foram as seguintes:
1- Minha semana não foi melhor porque eu tentei alterar meu jeito de falar e de pensar;
2- Isso provavelmente aconteceu porque em apenas uma semana é difícil nos reprogramarmos e colocarmos em prática qualquer coisa que faça diferença efetiva;
3- Não adianta muito parar de falar palavras negativas se a carga negativa continua lá. Não sei qual é a diferença de trocar “esse trabalho não ficou bom” por “esse trabalho está um lixo”;
4- Foi um superexercício de autoconhecimento. A gente usa as negativas o tempo to-di-nho!;
5- Em uma semana não dá para concluir muita coisa. Por isso sugiro, de verdade, que você faça o meu jogo consigo. Eu vou continuar tentando, mas dessa vez, para a vida. Quem sabe assim as teorias mostrem a que vieram?
* A Revista Tato aborda o feminino com respeito à individualidade e escolhas de cada mulher, e é realizada pelas jornalistas Manoella Oliveira e Thays Prado e a designer Vanessa Siqueira. E-mail: [email protected].
** Publicado originalmente no site EcoD.