O conceito de logística reversa representa uma revolução dentro da revolução industrial. Trata-se de um marco nas relações entre o empreendedor e o todo social e ambiental. Mais do que a adoção de uma nova etapa, a finalizar o processo produtivo, o conceito resulta de uma visão de mundo mais ampla a partir de quem produz bens. Por trás dessa mudança pode-se identificar o nascimento de uma nova definição para a palavra indústria, que antes se encerrava no acabamento ou na entrega do produto ao consumidor.
A adoção dos novos paradigmas da sustentabilidade implica acrescentar ao significado o conceito da desconstrução do produto, após sua vida útil, e a reinserção dos materiais básicos no ambiente, de modo a que não venham a se transformar em ônus para a sociedade.
Pode-se esperar que esse processo de desconstrução também gere riqueza, ainda que não diretamente.
A adoção da logística reversa não ocorre simplesmente de um “insight” do empreendedor. Na maioria dos casos, trata-se de um processo imposto pelas circunstâncias em que vive a humanidade, após a comprovação de que a era industrial deu curso a um processo de contaminação e saturação do ambiente planetário que tem como consequências não apenas as mudanças climáticas mas também a definição de limites para o crescimento da chamada atividade produtiva.
Embora ainda não seja uma unanimidade entre os cientistas, tornase cada vez mais popular a tese de que o planeta ingressou no Antropoceno- a era geológica na qual a atividade humana se torna tão impactante que pode alterar características e funções da superfície do planeta, de seus oceanos e da atmosfera. A expressão foi proposta primeiramente pelo cientista Paul Crutzen, que venceu em 1995 o Nobel de Química juntamente com Mario Molina e Sherwood Rowland, por seus estudos sobre a destruição da camada de ozônio.
Também não há uma convergência entre os pesquisadores em torno da teoria segundo a qual o advento do homo industrialis representa o princípio de uma nova era geológica após a Era do Gelo, ou se a civilização humana deve ser considerada como um fato de mínimas dimensões numa história de 4,5 bilhões de anos. Por trás das divergências digladiam-se uma visão geológica, também chamada cósmica, e uma visão humana sobre os eventos que nos cercam. Os que se opõem à ideia do Antropoceno costumam dizer que, se chegarmos ao ponto crítico por causa dos industriosos humanos, o planeta não irá consultar a humanidade para recriar a vida segundo suas próprias conveniências.
Muito aquém desse debate transcendental, no ínfimo espaço de decisão de um executivo, são conhecidos os cálculos que apontam os limites da indústria em muitos setores. É preciso inovar nos processos para ampliar esses limites e criar uma perspectiva de futuro para o negócio. Portanto, toda vez que uma empresa adere ao princípio da logística reversa, isso significa que uma visão de mundo inovadora está definindo sua estratégia.
Estejam esses humanos olhando para as profundezas do cosmos ou simplesmente para a planilha do balanço no final do período.
* Luciano Martins Costa é jornalista e escritor, consultor em estratégia e sustentabilidade.
** Publicado originalmente no jornal Brasil Econômico.