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Estudantes lideram ativismo gay na Índia

Kolkata, Índia, 21/9/2011 – Nivvedan, estudante do Instituto Indiano de Tecnologia, em Mumbai, ajudou, com certo temor, a criar a organização Saathi (companheiro) para atender as necessidades das pessoas com diferentes orientações sexuais no campus. Contudo, quando em julho a Saathi realizou sua primeira reunião, compareceram não apenas estudantes, mas ex-alunos e inclusive alguns outros membros desse centro de estudos. “Em nossa sociedade há muita confusão em torno da sexualidade, e a encontramos também em nosso campus”, disse Nivvedan à IPS.

Ele espera que a Saathi cresça na medida em que “estudantes que precisam de apoio ganhem maior confiança nas sessões. A maioria deles preferiria debater de maneira informal com outros estudantes”, afirmou Nivvedan. “Creio que se deveria discutir e conscientizar sobre a orientação e a homossexualidade desde a vida estudantil”, acrescentou este jovem que está certo de que a iniciativa é a primeira de seu tipo em um instituto universitário indiano.

Ketan Tanna, ativista da organização informal Gay-Bombay, disse que “nenhuma das faculdades de Mumbai (ex-Bombaim) tem um ativismo de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros ou nenhuma divisão de orientação” nesse sentido, “por isso, este é o primeiro”, ressaltou. A iniciativa do Instituto sugere que os direitos dos gays começam a ser aceitos pela conservadora sociedade da Índia, e que sua despenalização por determinação da Alta Corte de Nova Délhi em 2009 começa a ter efeito.

Em 2009, esse tribunal anulou uma lei colonial britânica de mais de 150 anos pela qual as relações entre pessoas do mesmo sexo são “antinaturais”. A medida obedeceu a reclamações de mudanças por parte de ativistas pelos direitos dos gays e de outros membros da sociedade civil. “Após a decisão da Alta Corte começou a haver diálogo em torno da sexualidade”, disse à IPS Magdalene Jeyarathnam, fundadora-diretora do Centre for Counselling, na cidade de Chennai. “Nos últimos dois anos aumentou a quantidade de jovens que saíram do armário. Vejo que cada dia que passa este movimento ganha força, poder e impulso”, acrescentou.

Pawan Dhall é diretor da organização não governamental Solidarity and Action Against the HIV Infection in India (solidariedade e ação contra a infecção com HIV na Índia), com sede em Kolkata, que no final da década de 1990 foi pioneira em matéria de sensibilização sobre os direitos dos gays. Para ele, as principais universidades do país lideram o ativismo pelos direitos dos homossexuais.

Em Kolkata, um organização chamada Students Against Campus Homophobia (estudantes contra a homofobia no campus) atua na Universidade de Jadavpur, conhecida por seu ambiente liberal além de sua excelência acadêmica. Esse centro de ensino já oferece “Estudos em diversidade sexual” como matéria opcional para pós-graduados em seu Departamento de Inglês.

“Aprendemos a reexaminar o texto subjacente da sexualidade por uma perspectiva mais ampla, tanto na literatura indiana como na inglesa”, disse à IPS Parjanya Sen, ex-aluno desse centro que fez esse curso. Segundo contou, tais estudos o ajudaram em sua tarefa de professor universitário. “Quando explico matizes, por exemplo na obra de Oscar Wilde ou em alguns sonetos de Shakespeare, encontro muita curiosidade sobre o assunto e um desejo de aprender sobre sexualidade, e estou muito cômodo neste sentido”, afirmou.

“Minha própria orientação sexual tampouco é um segredo”, acrescentou Sen. Entretanto, admitiu que fora da sala de aula não se sente tão cômodo, porque a existência da homofobia nas instituições acadêmicas é um fato irrefutável. “Mas a geração mais jovem aceita muito melhor o outro”, afirmou. Em Kolkota também aconteceu o primeiro desfile gay do país, em 2003. Agora, a Marcha do Arco-Íris é realizada anualmente nessa e em outras cidades, como Nova Délhi e Mumbai.

O ativismo pelos direitos dos gays ganhou força após as campanhas de conscientização sobre aids lançadas na década de 1990 na Índia, e rapidamente aguçou a imaginação dos vibrantes meios de comunicação do país. Desde então, “lutamos por um enfoque centrado nos direitos e na inclusão”, disse Malobika, integrante e fundadora da Sappho, um fórum para lésbicas em Kolkata.

“Atualmente, é animador ver algumas mudanças”, acrescentou Malobika. Nos anos 1990 ela precisou fugir da cidade com sua companheira devido à pressão familiar. “A ajuda legal e uma maior sensibilização do governo nos ajudam a ir inclusive às aldeias para divulgar uma mensagem de tolerância e compreensão com os casais de lésbicas”, afirmou. Tanna observa uma mudança gradual nas atitudes dos pais. “Em Mumbai, agora existe um grupo de pais e familiares de jovens lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros que se reúnem e interagem com outros pais que acabam de saber sobre a sexualidade de seus filhos. Este é um sinal certo de mudança”, ressaltou. Envolverde/IPS