Bangcoc, Tailândia, 28/9/2011 – Especialistas em veterinária buscam produzir na China e no Vietnã uma vacina capaz de vencer a nova cepa do mortal vírus da gripe aviária. “A cada ano, os produtores de vacina da China avaliam qual cepa da doença deve ser abordada”, disse Wantanee Kalpravidh, coordenadora regional da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) para as enfermidades animais transfronteiriças. “As vacinas existentes usadas na população avícola interna conseguiram cobrir as mudanças no vírus desde 2004 até 2010”, explicou.

Contudo, a detecção de uma “cepa mutante” na China e no Vietnã demonstrou que as vacinas existentes não eram efetivas. Esses medicamentos “não podem proteger as aves da cepa nova, por isso os pesquisadores nesses dois países trabalham em uma nova vacina”, detalhou Kalpravidh à IPS. Segundo a coordenadora, o surgimento de uma variedade mutante “confirma que a cepa do vírus da gripe aviária está mudando, mesclando-se e se reclassificando”. O vírus também está ficando mais maligno, acrescentou.

A nova cepa apareceu apesar dos esforços de inoculação, da matança maciça de aves infectadas e da implementação de medidas de biossegurança em granjas de todo o sudeste asiático, epicentro do mortal vírus que em 2008 experimentou uma queda nos focos da doença. Agora, a culpa recai sobre as autoridades vietnamitas, que nesta primavera suspenderam a vacinação maciça das aves no norte e leste do país, apesar de a gripe ser endêmica nas duas regiões.

O argumento do governo do Vietnã “é que as vacinas atualmente disponíveis não são capazes de proteger adequadamente contra algumas das novas cepas do vírus detectadas nessas duas regiões”, disse o escritório da FAO no Vietnã. “Entretanto, em 2011, esse país usou uma reserva de 50 milhões de doses de vacinas no sul, onde esta nova cepa do vírus ainda não foi detectada”, continua o comunicado. A consequência da brecha vietnamita foi sentida nos estabelecimentos avícolas do norte e oeste do país, onde milhares de frangos morreram devido à “cepa mutante” do vírus H5N1, identificada como H5N1-2.3.2.1.

A suspensão da campanha de vacinação da primavera interrompeu um esforço constante para inocular as aves duas vezes ao ano, desde que em 2005 foi adotada pela primeira vez uma política de imunização nesse sentido. Esta paralisação também separa o Vietnã de outros países onde a gripe aviária é endêmica, como Bangladesh, China, Egito, Índia e Indonésia, sendo que nenhum deles deixou de vacinar. Enquanto cientistas e especialistas em saúde animal trabalham na nova vacina, o Vietnã ainda não anunciou planos de reiniciar a vacinação de suas aves nos próximos meses.

“A opção de reiniciá-la está aberta para o governo vietnamita. No entanto, ainda não foi tomada nenhuma decisão sobre a próxima rodada, que normalmente aconteceria entre outubro e novembro”, segundo a FAO. A China reduziu a importância das preocupações sobre uma cepa mutante do H5N1, declarando que o foco atual foi detectado entre aves silvestres, mas admitiu ter descoberto “algumas mutações do vírus” entre seus frangos. “As autoridades agrícolas e da saúde estão constantemente em alerta para uma potencial epidemia de gripe aviária entre aves e humanos”, disse o veterinário Yu Kangzhen ao jornal China Daily.

Entretanto, a FAO aposta em outra tática, apelando aos países da região para um melhor intercâmbio de informação após o surgimento, no final de agosto, da nova subcepa. “Queremos que os países continuem compartilhando a informação sobre o vírus com a FAO. Países como Camboja e Laos precisam de apoio para controle de suas aves, o que inclui fortalecer os mecanismos de vigilância”, acrescentou. Esta preocupação teve eco nos governos da região. Os chamados para proteger a indústria avícola local fizeram aumentar a vigilância nas Filipinas, país livre de gripe aviária situado em uma região onde o vírus é considerado endêmico.

“As Filipinas estão livres da gripe aviária e queremos que isso continue”, disse aos jornalistas em Manila o diretor do Escritório da Indústria Animal no Departamento de Agricultura, Efren Nuestro, após autorizar, no dia 1º, uma ordem de quarentena e controles nacionais das aves silvestres e importadas. “Todos os envios sem documentos de aves são destruídos imediatamente”, assegurou Nuestro. As Filipinas não tiveram um único caso de infecção humana com o vírus da gripe aviária desde que foi detectada uma cepa mortal em 2003.

Na Indonésia, onde foram registradas 146 das 331 mortes causadas no mundo pelo vírus, o fortalecimento da vigilância interna e das pesquisas para combater a doença voltou à agenda nacional. “Ainda precisamos de mais fundos, especialmente para as pesquisas”, disse o ministro da Saúde, Endang Rahayu Sedyanhingsih, no dia 14, em uma reunião sobre segurança sanitária coorganizada pela organização Mundial da Saúde e pelo governo indonésio. “Devemos estar em alerta”, acrescentou.

Na Tailândia, onde o vírus foi eliminado com o sacrifício de animais e rígidas medidas de segurança, avalia-se agora a existência do remédio Tamiflu, usado para combater a enfermidade. Atualmente, o país conta com reserva de 20 milhões de doses. O Vietnã é o segundo país mais afetado na região, depois da Indonésia, com 59 mortes para cada 119 infecções registradas. O golpe sofrido este ano pela indústria avícola soma-se aos cerca de 63 milhões de frangos sacrificados desde 2004. No Camboja, país pobre com recursos limitados para controlar a enfermidade, há uma triste recordação da fatalidade que envolve o H5N1. Por culpa da doença, este ano morreram oito pessoas. O caso mais recente foi de uma menina de seis anos, em agosto. Desde 2005, foram registradas 15 mortes por esta causa no país. Envolverde/IPS