A informação vem da American Chemical: a lavagem de roupas confeccionadas com tecidos que tenham viscose, rayon, acetato, poliéster, nylon e acrílico provoca poluição dos mares e, consequentemente, a morte de “centenas de espécies marinhas”.

Os resíduos de tecidos sintéticos se desprendem das peças durante a lavagem, passam pelos esgotos, vão para o mar, são ingeridos pelos animais marinhos e vão parar nas nossas mesas. Foto: Agência Brasil

A empresa fez uma pesquisa e concluiu que resíduos de tecidos sintéticos se desprendem das peças durante a lavagem e passam pelos esgotos diretamente para o mar. Por serem detritos microscópicos, acabam sendo ingeridos pelos animais marinhos, e, além de tudo, entram na cadeia alimentar de peixes maiores, com grandes possibilidades de acabar chegando à mesa humana.

Os técnicos da instituição lembram que esse estudo confirma outro, feito por cientistas europeus, que coletou, há cerca de 15 anos, partículas em praias onde deságuam dejetos de estações de tratamento. Isso foi feito em 18 regiões dos seis continentes. Conclusão: as partículas eram idênticas às lançadas pelas máquinas de lavar roupa – antes de passarem pelo tratamento para serem jogadas na natureza. E já que é para aterrorizar, quanto maior a cidade, maior é também a quantidade dessas partículas. Para finalizar, a American Chemical divulga que cada peça de roupa pode liberar mais de 1.900 fragmentos por lavagem.

Esse dano todo, claro, não leva em conta os sabões e solventes que usamos.

Para não nos sentirmos assassinos inveterados, ou devemos parar de lavar roupa, ou temos que responsabilizar os confeccionistas. Eles serão os criminosos até que ofereçam roupas feitas com tecidos ecologicamente corretos. Afinal, o consumidor comum jamais vai saber quando um tecido é misto ou sintético. Tudo é roupa!

Ainda bem que os cientistas que apontam mais este apocalipse também apontam soluções: sugerem que os fabricantes de máquinas de lavar criem tecnologia para impedir que as emissões dessas partículas sejam enviadas para o esgoto.

Para afastar mais ainda esta culpa sobre nós, é importante que as autoridades deste e de outros países tomem consciência de mais esta tragédia anunciada e, lá na ponta, cuidem de não deixar passar qualquer partícula de microplástico para os peixinhos.

Funeral corretamente personalizado

Já que estamos falando de roupa, para aumentar a culpa de qualquer mortal em relação à natureza, chega a novidade de uma designer australiana, Pia Interland, que vai lançar, já no ano que vem, uma linha de vestuário biodegradável para enterrar pessoas.

Apesar de ter apenas 26 anos, Interland resolveu, num trabalho de doutoramento, pesquisar na SymbioticA, instituição de arte biológica que abriga estudos conjuntos com artistas e biólogos.

Essa menina resolveu envolver os cadáveres de 21 porcos – “anatomicamente muito semelhantes ao corpo humano” – em diversos tipos de tecidos, para saber qual seria a reação das fibras durante a decomposição dos corpos.

À parte o fato de ser difícil digerir a ideia de que nossos corpos são semelhantes aos dos porcos, a verdade é que Pia Interland, depois de um ano, desenterrou os bichos. E constatou que o cânhamo e a seda não deixaram resíduos. Ela, então, explica que, por ser derivado de uma planta, o tecido é reconhecido pelos insetos e (aghhhh) reconhecem-no “como orgânico e comem-no rapidamente”.

A designer já tem clientela local. Confecciona roupas sob medida, com nome do morto, e borda a árvore genealógica da família ou qualquer outro pedido do cliente – evidentemente amigo ou parente do pobre defunto, que também estará escolhendo a urna funerária… isola, pé de pato, mangalô três vezes…

Assim, vestidos com seus trajes especiais, o morto vai para o céu com a certeza de não estar contaminando os solos dos campos santos.

* Edgard Catoira é jornalista. Foi Chefe de sucursal da Ed. Abril (BA), Secretário de Redação da Veja (SP), Gerente da Abril Press. No Rio de Janeiro, foi editor da revista TV Guia (RJ), das Revistas Femininas da Ed. Abril, Revista Playboy, Revista Amiga, Editor de Projetos Especiais do Jornal do Brasil e O Globo. Trabalhou como Chefe de Comunicação Social da Embratur, Fundação Roberto Marinho, Procuradoria do Estado (RJ), Secretaria de Educação da Prefeitura (RJ), Secretaria da Infância e Juventude e Câmara Municipal. É editor dos livros: Guia do Jardim Botânico, Meio Ambiente e Desenvolvimento – uma experiência brasileira e White Martins.

** Publicado originalmente no site da revista Carta Capital.