Endometriose atinge 15% das mulheres "modernas"

Doença é a grande vilã da infertilidade.

Ser uma profissional bem-sucedida, alcançar a autonomia financeira, estar sempre bela e preparada para as reuniões de negócios e encontros de networking são os objetivos de muitas mulheres que, hoje, buscam nas realizações profissionais e financeiras, sobretudo, a felicidade pessoal. Entretanto, o estresse que permeia esses desejos quase intrínsecos deste perfil feminino pode desvendar um grande mal: a endometriose, doença que acomete mais de seis milhões de brasileiras, até 15% das mulheres em idade reprodutiva.

A endometriose é uma doença que faz crescer o endométrio, tecido que reveste o interior do útero, fora da cavidade uterina. De acordo com o Dr. Maurício Simões Abrão, ginecologista do Hospital Sírio-Libanês e responsável pelo setor de Endometriose do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), as causas mais comuns da doença são a menstruação retrógrada, quando a mulher menstrua e o sangue reflui pelas trompas, implantando-se na cavidade abdominal, ou ainda o sistema imunológico, que pode ser permissível ao desenvolvimento dos sintomas.

Todavia, as causas mais comuns encontram respostas nos aspectos sociais e ambientais. O elevado nível de estresse e o adiamento da maternidade estão entre os principais fatores. Segundo o Dr. Maurício Abrão, o estresse cotidiano debilita o sistema imunológico, que acaba levando ao surgimento da endometriose. Ao mesmo tempo, as metas profissionais, principalmente, a serem alcançadas por essas mulheres, as distanciam da maternidade, apresentando gestações cada vez mais tardias. A mulher hoje menstrua mais ao longo da vida, diferente daquelas de outrora, que tinham mais filhos e, portanto, passavam mais períodos da vida sem o ciclo menstrual. Segundo o médico, também presidente da Associação Brasileira de Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva, o período gestacional pode ter efeito protetor sobre a doença, já que a mulher para de menstruar por nove meses. “Durante a gravidez, há o equilíbrio hormonal e a mulher acaba ficando protegida”, salienta.

Em média, o diagnóstico é feito a partir dos 30 anos de idade, percebido por sintomas como cólica severa frequente, e às vezes incapacitante, ao ponto de a dor intensa requerer repouso e impedir a mulher de exercer atividades normais, dor durante a relação sexual e sintomas intestinais e urinários durante a menstruação. No entanto, é a dificuldade em engravidar que apresenta-se como a grande vilã da endometriose, que pode levar à infertilidade, visto que as trompas são atacadas, dificultando a condução do óvulo ao útero.

Embora a enfermidade não apresente cura, já há vários tratamentos avançados que permitem controlá-la. Nos casos mais sérios, a laparoscopia, procedimento cirúrgico, é o mais recomendado. Contudo, são as atitudes cotidianas da mulher que muitas vezes precisam ser revistas. Especialistas já procuram compreender o estilo de vida desse grupo para obter resultados mais efetivos nos tratamentos.

Dedicar mais tempo a si mesma, priorizando sua saúde e bem-estar pode ser um poderoso aliado. Além disso, as questões emocionais devem ser tratadas e dosadas de modo a beneficiar um estilo de vida mais qualitativo. A prática de atividades físicas também pode ajudar. E quanto à maternidade, essas mulheres precisam rever seus conceitos e repensar seus planos, caso queiram, realmente, se tornar mães. Antecipar a gravidez ante a carreira profissional pode não trazer os inconvenientes esperados, pelo contrário, tende apenas a afastar os males acarretados pela doença característica da mulher contemporânea.

* Publicado originalmente no site Saúde em Pauta Online.