Metade da humanidade vive atualmente nas cidades. A expectativa é que, em 2030, serão 60% e, em 2050, deverão ser 70% das pessoas vivendo em áreas urbanas. O cenário brasileiro segue a tendência mundial e já tem 85% de sua população em cidades que crescem em tamanho e população. O consenso entre os especialistas é que o equilíbrio espacial, social e ambiental nessas áreas urbanas é cada vez mais complexo.
Não por acaso, o tema da última plenária do Encontro Ibero-Americano sobre Desenvolvimento Sustentável (EIMA 8) foi Cidades Sustentáveis. Como tornar nossas cidades desenvolvidas social, ambiental e economicamente de maneira sustentável?
Durante os quatro dias de evento, os participantes e palestrantes navegaram pela temática da sustentabilidade com exemplos concretos de boas práticas. O caso da Capital Verde Europeia 2012, a cidade de Vitoria-Gasteiz, apresentado pelo prefeito Javier Maroto, o Programa Cidades Sustentáveis, apresentado por Paulo Itacarambi, do Instituto Ethos, e tantos outros exemplos mostrados por profissionais de empresas e governos. Boas práticas parecem existir.
Nesta Plenária do dia 20, Fernando Camarero, diretor de Meio Ambiente da Fundação Mapfre demonstrou preocupação com o fato de as cidades serem hoje a maior fonte de danos ambientais. “Nas próximas décadas muitas cidades estarão em crise”. Para ele, a construção de cidades sustentáveis depende de participação, colaboração.
Fernando Prats é assessor do Centro Complutense de Educação e Informação Ambiental para o programa Cambio Global España 2020-2050. É também arquiteto e urbanista e mostrou aos participantes um gráfico sobre o limite de biocapacidade que estamos vivendo: aumento da temperatura média no Hemisfério Norte, aumento da população, aumento da concentração de CO2, perda de florestas, aumento do consumo de papel, de água. Segundo ele, “todos somos responsáveis, mas é claro que os países do norte, cuja pegada ecológica é muito maior, têm mais peso”.
“Como resolver isso tudo?”, questiona Prats, que vê nas cidades um potencial de mudança. “As cidades têm atores fundamentais nessa batalha para a sustentabilidade”. Prats apresentou os oito temas cruciais para a sustentabilidade, que constam no Estatuto da Sustentabilidade Urbana, do documento Cambio Global Espanã 2020-2050. São eles: edificação e solo, energia, mobilidade, ar, resíduos sólidos, água, biodiversidade, pegada ecológica.
A questão não são as dificuldades técnicas e com isso, tanto Prats quanto Ladislau Dowbor, professor titular da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) concordam. Segundo eles, as técnicas estão aí, todas à disposição, existem pesquisas em desenvolvimento, existem tecnologias, dinâmicas de inclusão produtiva, possibilidades de modificar o lógica do transporte, melhorar o saneamento básico. Agora é preciso vontade de mudar.
“Todas essas iniciativas geram emprego e renda, agora é preciso redirecionar os recursos, afinal, as cidades são oportunidade na crise, podem enfrentar os problemas locais e do entorno. Temos no ambiente urbano a oportunidade de gerar alternativas”, afirma Dowbor.
Juan Manuel Patiño, subdiretor de Projetos Metropolitanos de Medellin, Colômbia, mostrou os principais desafios para a construção de cidades sustentáveis. No caso de Medellin, ele cita crescimento urbano desmedido, processos de conurbação, demanda de solo urbanizado, especulação do solo, assentamento em zonas de alto risco, demanda de serviços e infraestrutura, e demanda de bens e serviços ambientais.
Programa Cidades Sustentáveis
“Dado o contexto e o problema, o que podemos fazer?”. Paulo Itacarambi, do Ethos, foi direto ao assunto: incidir sobre os processos e direcionar outras ações; influenciar demandas da sociedade, das empresas e dos setores públicos; difundir visões, conceitos, ideias e criar mecanismos de troca.
Segundo ele, o Programa Cidades Sustentáveis reúne ferramentas para influenciar essas mudanças. “Trata-se de um conjunto de cem indicadores básicos indispensáveis para cidades sustentáveis, inclusive com um banco de boas práticas e uma carta compromisso para os candidatos a cargos públicos”, explica Itacarambi.
O secretário municipal do Verde e Meio Ambiente da Prefeitura de São Paulo, Eduardo Jorge, diz que antes de qualquer ação é preciso diagnóstico. “O Brasil não está acostumado a fazer diagnóstico, mas é preciso. São Paulo tem diagnóstico e por isso está agindo. Estamos fazendo o dever de casa dentro de casa”, aponta.
O preço político de iniciativas mitigatórias e de adaptação é alto, “não é fácil, mas precisamos fazer”. O secretário considera como primeira tarefa brasileira de suma importância fazer um levantamento das áreas de risco dando opção concreta de habitação segura à população. “Este é o problema mais importante que temos que resolver. Eu chamaria de pronto-socorro das mudanças climáticas. Seria como um indicador de quantas pessoas estão em áreas de risco, quantas já morreram por conta das mudanças climáticas, etc.”, conclui Eduardo Jorge.