A sessão de trabalho final do EIMA 8 reuniu vertentes da discussão do tema Propostas da Sociedade para a Rio+20, sob moderação de André Urani, presidente do Instituto de Estudos de Trabalho e Sociedade (Iets). Com vontade de transformação, cada vez mais presente na sociedade em aldeia global, participantes observaram desafios e sugeriram novos caminhos que deverão amadurecer até o ano que vem.
Paulo Itacarambi, diretor e vice-presidente do Instituto Ethos, expôs a proposta do Ethos para a Rio+20, que foi encaminhada diretamente para o governo brasileiro e para a Organização das Nações Unidas (ONU). “Todas as organizações estão de acordo que é preciso distribuir uma agenda mínima comum, provocar este surgimento. Precisamos conseguir colocar neste momento a discussão da crise global. Somente se for um evento de saídas para a crise será relevante”, advertiu.
Para Itacarambi, “é preciso desenvolver mecanismos concretos de internalização na política e na economia real, sob um conjunto de critérios. A ideia é ter um fundo internacional que seja administrado pela ONU e alimentado pela Taxa Tobin, que direcione 1% da economia mundial, ou seja, cerca de U$ 400 bilhões. Foram gastos na crise, entre 2008 e 2009, US$ 18 trilhões. Se pensarmos que é uma saída para o desenvolvimento, estes valores parecem pouco”. Sobre a questão da governança, Itacarambi acrescentou que “é possível criar um Conselho de Desenvolvimento Sustentável na ONU, com status igual ao do Conselho de Segurança, que incorpore a palavra inclusiva ou responsável. A dimensão ética é a questão central do problema global”, concluiu.
Segundo Victor Viñuales, diretor da Fundação Ecodes e sócio do Carbon Disclosure Project (CDP), “nunca como agora estivemos tão perto de mudanças que antes eram improváveis, como uma taxa internacional sobre transações financeiras. Faz tempo que temos esta ideia, temos que aproveitar a oportunidade”. Viñuales acrescentou que, sobretudo, “governantes tendem a dar muita importância a competições político-partidárias. A governança global tem que ter discussões mais amplas”.
Percy B. Soares Neto, analista de políticas e indústria da rede de recursos hídricos da Confederação Nacional da Indústria (CNI), deu ênfase à questão do consumo. “A referência programática para a Rio+20 precisa incluir padrões de consumo sustentável. Temos que promover crescimento, definir quais padrões vão sustentar este consumo, com mecanismos de transferência tecnológica e financiamento. Neste quesito a cooperação Sul-Sul tem um papel estratégico, de oferecer soluções adequadas às especificidades dos países, rebuscando características regionais”. Além disto, “temos que ter cuidado para fazer a transformação sem rupturas drásticas, pois houve um avanço e ele deve ser considerado”, observou Soares Neto.
O Projeto Piloto de Cidade Sustentável, que será aplicado no Rio de Janeiro, foi comentado por Sheila Guebara, assessora da presidência e coordenadora das atividades do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável na Rio+20 (CBDES). “Aproveitando a Rio+20, uma ação coordenada do setor empresarial vai intervir em duas comunidades da cidade. Mas, este projeto-piloto não é paternalista. Pretendemos oferecer condições para que as pessoas possam melhorar de vida, de forma coordenada, trabalhando com crédito, entre outros recursos”, definiu Guebara.
Para Pedro Telles, consultor do Instituto Vitae Civilis, “a Rio+20 será um enorme ponto de convergência, principalmente para a mobilização dos jovens. O que será construído após a Conferência poderá adquirir muita importância, esta data ficará marcada”, acredita. Sobre as propostas da sociedade para a Conferência, Telles comentou: “um produto importante que esperamos que saia é o projeto Metas para o Desenvolvimento Sustentável. Nele, pretende-se substituir os oito Objetivos do Milênio, com soluções mais abrangentes para uma economia verde, mesmo que os Objetivos sejam também renovados”.
Na conclusão do debate, uma observação de Paulo Itacarambi chamou atenção para as prioridades da Rio+20: “o relatório Stern 2007 foi o marco da transformação que fez as empresas pensarem e investirem para a necessária inovação de ruptura. Mesmo assim, é muito pouco o que foi feito. Se olharmos para governos, o brasileiro, em especial, tem feito esforços. Mas se você olha para a política real, não se vê muito. No PAC, no Minha Casa Minha Vida, em decisões de políticas macroeconômicas, também foi feito muito pouco. Ainda estamos por fazer em empresas e governos. A sociedade quer mudança e vai ter. Mas é preciso ver se estamos buscando saídas para o sistema financeiro ou para o sistema produtivo”.