Saint Augustine, Estados Unidos, outubro/2011 – “Nós reconhecemos as finanças como parte dos bens comuns globais”, afirma a organização Transforming Finance em uma declaração assinada por financistas profissionais de todo o mundo que criticam o atual “cassino” dos mercados de capitais. O “financialização” produziu a bolha global da dívida. É necessário agora reduções para os donos de bônus e acionistas bancários e um freio aos especuladores, bem como o imposto de 1% sobre as transações financeiras para limitar a volatilidade e o comércio de “alta frequência” por meio dos computadores, que agora representam 60% das transações.
Entretanto, o poder das grandes finanças ainda domina os governos, força os contribuintes a pagarem os resgates, eleva os déficits públicos e exige “austeridade”, reduções nas redes de segurança, nos serviços públicos e nos postos de trabalho. A profissão econômica (nunca uma ciência) levou obcecadamente as finanças, os bancos e os mercados à confusão, ao utilizar arrevesadas matemáticas e desnecessárias complexidades para esconder a verdade: que a economia é política disfarçada.
Em meu livro Politics of the Solar Age (1981) descrevo os economistas como “apologistas que dão cobertura aos poderosos, justificam o privilégio, as estruturas e as políticas patriarcais”. Além disso, joguei por terra seus mitos: “os financistas não fornecem capital, são meros intermediários, porque o dinheiro não é riqueza mas um sistema de informação pensado para seguir o curso e levar a conta das transações humanas e o capital social e ambiental. Hoje em dia as misteriosas políticas da criação de dinheiro e de destinação do crédito dos bancos centrais e de seus comparsas nos mercados financeiros são as que manipulam a impressão de dinheiro. Estas bolhas globais de dinheiro de curso forçado, de crédito e de dívida fazem sofrer as economias reais do mundo”.
A série de reuniões internacionais que conduzem à cúpula Rio+20, que acontecerá em junho de 2012, se ocupa, finalmente, do cassino financeiro mundial. Os ministérios de questões sociais, saúde e ambientais, junto com organizações da sociedade civil estão enfrentando firmemente os bastiões das finanças, os bancos centrais e os ministérios de economia e seus acadêmicos.
Estamos vendo como os banqueiros lutam ferozmente para enfraquecer as reformas previstas na lei Dodd-Frank de 2010. Semelhantes jogos de poder são utilizados para atacar a Comissão Vickers do Reino Unido, que propôs reformas fundamentais no sistema bancário. As regras do Banco de Pagamentos Internacionais – chamadas Basileia III – exigem o aumento das reservas dos bancos para que possam se manter em caso de perdas também são atacadas, particularmente por Jamie Dimon, presidente do JPMorgan Chase, que as qualificou de “antinorte-americanas”. Um novo informe, denominado Treasure Islands, documenta como as operações bancárias em paraísos fiscais são utilizadas para evadir os impostos, não só naqueles citados pela lista negra da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos (OCDE), como também, por exemplo, na cidade de Londres e nos Estados de Delaware, Dakota do Sul e Oregon, nos Estados Unidos, onde milhares de corporações fixaram seu domicílio para evitar impostos, regulações e a divulgação de suas finanças.
A limpeza desta fossa negra financeira global é uma gigantesca tarefa que exige coragem e ampla cooperação. Contudo, investidores privados colocaram US$ 2,4 trilhões em setores verdes em todo o mundo desde 2007. A eliminação progressiva das escapatórias aos impostos e dos subsídios aos combustíveis de origem fóssil, à energia nuclear, ao etanol e aos que apoiam os bancos “muito grandes para quebrarem”, assim com seus resgates “pela porta dos fundos” por parte dos bancos centrais e sua impressão de dinheiro, agora está na agenda global.
Indicadores baseados em defeituosos coeficientes econômicos e monetários, como o produto interno bruto, estão sendo desafiados pelos mais amplos e multidisciplinares novos indicadores de qualidade de vida e bem-estar humano nos “tabuleiros de instrumentos”, que evitam os errôneos métodos macroeconômicos, como, por exemplo, o Better Life Index da OCDE, o Index of Wellbeing no Canadá, o PIB de Qualidade de Vida na China, e os Calvert-Henderson Quality of Life Indicators nos Estados Unidos.
Os livros de textos econômicos apoiam suas teorias apenas na atividade dos circuitos monetários e financeiros tradicionais e descartam a troca como “primitiva”. Porém, o truque eletrônico agora é um florescente e essencial elemento do comércio e da atividade bancária pela internet desde os telefones celulares na África, Ásia e América Latina, até sites de troca B2B como o Baidu na China, Prosper.com, Kabbaghe e outros sites de financiamento popular como o www.startupexemption.com nos Estados Unidos, Zopa na Grã-Bretanha e Craigslist, Freecycle e muitos outros ao longo de todo o mundo.
Aplaudimos todos esses esforços para reformar e evitar o cassino do capitalismo. Todas aquelas organizações preocupadas em manter o crescimento de economias sustentáveis, mais justas e verdes convergirão na Rio+20 em junho de 2012. Elas levarão consigo as esperanças de milhões de cidadãos de todo o mundo de conseguir um futuro comum melhor. Envolverde/IPS
* Hazel Henderson é economista norte-americana autora de Ethical Markets: Growing the Green Economy (www.EthicalMarkets.com) e coautora do índice sobre qualidade de vida Calvert-Henderson (www.Calvert-Henderson.com).