O setor imobiliário é responsável pelo consumo de 21% da água tratada, 41% da energia elétrica gerada, gera 65% do lixo e 25% do CO2 equivalente e é o maior consumidor de recursos naturais, daí a importância da conscientização sobre a necessidade de se difundir os edifícios verdes.
Na construção civil, a partir dos sistemas de certificações ambientais para empreendimentos, a cadeia da construção começou a dar importância para os chamados Green Buildings, ou seja, os prédios verdes, que são construídos com menos impactos do que um prédio convencional. Dentre os sistemas de certificação praticados no Brasil atualmente, podemos destacar o Leed, Aqua, Procel Edifica e Selo Azul da Caixa.
Os ganhos com um empreendimento certificado são diversos. O consumo de energia, em média, é 30% menor, ao passo que o consumo de água sofre redução de 30% a 50%. Outros ganhos incluem redução da emissão de CO2 em 35% e redução de 50% a 90% na geração de resíduos, incluindo materiais recicláveis. Ainda que o custo da obra seja em média 5% maior do que uma obra convencional, há valorização de 10% a 20% no preço de revenda.
Outras iniciativas no setor da construção civil podem ser observadas no contexto mercadológico, como as premiações existentes, desenvolvimento e elaboração de programas de sustentabilidade por meio da iniciativa privada, além da articulação setorial e formação de ONGs e entidades, conforme mostraremos a seguir.
A certificação é uma organização de alto poder de influência, mas custa dinheiro, demanda de paciência, ao mesmo tempo em que há prédios em São Paulo que não são certificados, mas são altamente sustentáveis. Além disso, um prédio certificado se torna referência no mercado porque é um parque de aplicação de novas tecnologias por parte dos fabricantes da construção civil e, com isso, também impulsiona a produção de produtos e serviços de alta performance e mais sustentáveis, induzindo o setor a uma mudança de cultura. Por exemplo, quando se começou a utilizar elevadores inteligentes, com antecipadores de chamada, etc., isso era muito caro e ninguém usava; hoje qualquer um já pode começar a usar. Nós induzimos e ajudamos no desenvolvimento de tecnologia. Os sustentáveis certificados puxam a ponte do iceberg positivo: traz toda a indústria da construção civil junto.
O abastecimento de água
A questão do abastecimento de água já faz parte das discussões do governo. Após a Conferência Mundial das Nações Unidas sobre a Água, realizada em 1992, na qual se advertiu que a água é um recurso vulnerável e finito, muitos esforços têm sido feitos para preservação e conservação dos recursos hídricos no mundo inteiro. No Brasil, um dos esforços foi a criação da ANA (Agência Nacional das Águas), cuja missão é “implementar e coordenar a gestão compartilhada e integrada dos recursos hídricos e regular o acesso à água, promovendo o seu uso sustentável em benefício da atual e das futuras gerações”.
Na região metropolitana de São Paulo, os recursos hídricos disponíveis para manter os quase 20 milhões de habitantes não são mais suficientes para abastecer a cidade. Neste sentido, a preocupação com este recurso natural tem incentivado – inclusive a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico de São Paulo) – a manutenção de convênio com o Cediplac e ProAcqua para estruturar, desenvolver e elaborar documentação técnica e funcional para o sistema de medição individualizada de água em edifícios.
O objetivo geral do programa será a Garantia da Qualidade dos Serviços nas diversas etapas (projeto, execução e manutenção) dos sistemas, a segurança dos perfis de consumo, a justa cobrança de água dos diversos consumidores, bem como o uso racional de água.
Já a medição individualizada tem sido aplicada por construtoras de São Paulo, e o objetivo principal é fazer com que o consumidor pague apenas pelo que consumiu. Dessa forma, ele terá condições de avaliar o quanto está desperdiçando de água no mês. Este sistema permite a reeducação dos consumidores para um consumo mais racional. A partir dele será possível identificar, por exemplo, a existência de vazamentos. Para a utilização desse sistema é necessária a instalação de um hidrômetro em cada unidade habitacional.
Em Niterói, município do Rio de Janeiro, a Lei nº 2856 obriga os novos edifícios com mais de 500 metros quadrados e que tenham consumo igual ou superior a 20 metros cúbicos de água por dia a terem projetos de sistemas de aproveitamento da água proveniente dos chuveiros, banheiras, tanques, máquinas de lavar e lavatórios de banheiros – conhecida como águas cinzas – e implantarem sistema de reúso de água. A tecnologia, que foi importada da Alemanha e adaptada aos projetos brasileiros, utiliza um processo simples de digestão natural da carga orgânica do esgoto, sem introduzir nenhuma substância ou produto estranho no processo. Os sistemas funcionam automaticamente e não geram odor. A partir dessa lei, Niterói vai se tornar independente no seu abastecimento, pois hoje é abastecida pelos recursos importados de Cachoeiras de Macacu.
Pegada Hídrica
A Pegada Hídrica é uma metodologia utilizada para mensurar o consumo de água nas atividades humanas e na produção de bens e serviços, considerando o consumo de água e sua contaminação. Trata-se de um instrumento de gestão que se baseia na promoção da eficiência no uso da água, na busca do seu uso sustentável e no estímulo ao compartilhamento equitativo da limitada disponibilidade hídrica.
Por que devemos racionalizar o consumo de água?
– O consumo nos últimos anos dobrou, e a expectativa é que dobre novamente, estimulada pelo consumismo.
– A disponibilidade de água per capita já é três vezes menor do que em 1950.
– Alguns estudos de instituições internacionais estimam que até 2025 um terço da população mundial experimentará efeitos extremos de escassez de água.
– Com a preocupação e agravamento da falta de água, as pessoas devem assumir uma nova forma de pensar e agir, mudando seus hábitos e desenvolvendo formas de economizar água.
– Deve-se buscar a cada dia a conscientização para que com isso possamos obter resultados positivos contra o desperdício de água doce.
Eficiência energética
Hoje, 22% da energia elétrica é consumida no uso residencial, por isso o governo federal, em parceria com a Eletrobras e o Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial), lançou algumas iniciativas visando a ajudar os consumidores a diminuir seus gastos com energia elétrica dentro das edificações. O consumidor tem condições de selecionar aparelhos, como televisores, geladeiras e demais eletrodomésticos, por meio do Selo Procel (Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica), que foi lançado em 1993 pela Eletrobras.
O Selo Procel faz parte do Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE), em parceria com o Inmetro. O principal produto é a Etiqueta Nacional de Conservação de Energia: os produtos são submetidos a análise para avaliar seu potencial de economia de energia.
Após vários estudos desenvolvidos pelo programa, foi lançado em junho de 2009 o selo Procel Edifica, cujo objetivo principal é incentivar a conservação e o uso eficiente dos recursos naturais (água, luz, ventilação, etc.) nas edificações, reduzindo os desperdícios e os impactos no meio ambiente.
Conservar energia é importante, pois no Brasil a nossa energia é proveniente de hidrelétricas, ou seja, quanto maior o consumo de energia, mais evidente se torna a necessidade de construção de novas hidrelétricas, o que implica inundação de várias áreas e um desastre ambiental desnecessário, já que o curso natural dos rios é afetado e toda população que vive no seu entorno também sofre com impactos ambientais e sociais.
O setor da construção civil, apesar de apresentar avanços significativos nas tecnologias capazes de transformar os edifícios em ambientes mais eficientes do ponto de vista da economia de recursos naturais, como água e energia, apresenta uma dificuldade de compreender que as edificações são produzidas para as pessoas, portanto elas também deverão aprender como operar as novas tecnologias prediais e utilizá-las na promoção da sustentabilidade.
* Vivian Blaso é relações públicas (CNP), doutoranda e mestre em Ciências Sociais (PUC-SP), diretora da agência de relações públicas Conversa Sustentável, MBA em Gestão Estratégica de Marketing (UFMG), especialista em sustentabilidade (FDC), e professora convidada do curso de pós-graduação em Construções Sustentáveis (FAAP).
** Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.