Tóquio, Japão, 3/11/2011 – Inspirados pelo movimento Ocupe Wall Street nos Estados Unidos, milhares de estudantes e trabalhadores japoneses, descontentes com o crescente desemprego e as duras condições de trabalho, vão às ruas exigir reformas. Há duas semanas, uma manifestação em Tóquio reuniu quase cinco mil pessoas no maior protesto na capital japonesa nos últimos anos, segundo os organizadores.
Trabalhadores e estudantes de todo o país se reuniram nesta cidade erguendo os punhos e gritando palavras de ordem enquanto bandas de rap interpretavam canções referentes à ansiedade e à desesperança que sofre grande parte do país. A taxa oficial de desemprego é de 5% da população economicamente ativa, mas entre os jovens aumentou para quase 9%.
Mais de 45% dos trabalhadores com idades entre 15 e 24 anos têm empregos irregulares, e somente 56% dos que possuem diploma universitário recebem ofertas de trabalho. Trata-se da pior situação trabalhista para os jovens desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Ichie Kumagai, de 28 anos, funcionária em uma creche que viajou mais de 360 quilômetros vinda de Osaka, a segunda cidade do país, para falar na manifestação em Tóquio, afirmou: “Estou descontente, frustrada e preocupada com o futuro. Os jovens como eu enfrentam uma situação desesperada porque as autoridades e a sociedade não se preocupam conosco”.
Uma intensa pressão de milhões de funcionários de creches, no começo deste ano, conseguiu aumento no salário mínimo para US$ 9 por hora, US$ 0,50 a mais do que em 2010. Mais de 30 mil empresas foram visitadas no bairro de Saita, em Osaka, para uma petição destinada a deter a prevista reforma que pretende aumentar para um máximo de 30 o número de crianças por educador nas creches, bem como para contratar empregados em tempo parcial.
Kumagai disse à IPS que seu salário estava congelado há mais de seis anos, enquanto o trabalho se torna cada vez mais exigente. Ele trabalha pelo menos 12 horas por dia e não recebe hora extra. Economizar dinheiro é vital para se proteger de um futuro instável. O alto déficit fiscal, provocado por duas décadas de recessão, mais o envelhecimento geral da população motivaram novas disposições para diminuir o gasto público com seguridade social. “O governo justifica essas medidas dizendo que os fundos públicos diminuíram. Entretanto, não concordamos com esse argumento”, destacou Kumagai à IPS.
Os manifestantes japoneses se inspiram no discurso do movimento de protestos nos Estados Unidos contra o resgate oficial dos bancos e das grandes companhias, bem como contra as medidas de austeridade que afetam a classe média e reduzem o gasto público, gerando desemprego cíclico.
“Estamos influenciados pelos protestos nos Estados Unidos, mas queremos desenvolver nossa própria forma de conseguir um futuro estável”, disse à IPS Makoto Kawazoe, representante do Sindicato Juvenil Kanto, importante organização de defesa dos direitos trabalhistas neste país.
Para este mês está previsto o reinício dos protestos e que estes incluam um amplo espectro de organizações, desde ativistas antinucleares e grupos juvenis pela energia limpa até históricas agrupações como a Federação Nacional de Sindicatos, por anos na vanguarda da luta pelo direito dos trabalhadores.
A sociedade japonesa deve assumir a responsabilidade de conseguir estabilidade para os jovens, pois o emprego nesse setor é fundamental para o progresso econômico do país no cenário mundial, disse Kawazoe. “As pessoas veem os jovens desempregados como irresponsáveis ou preguiçosos, e não atendem suas necessidades. Essa atitude deve mudar”, acrescentou.
A Federação Nacional de Sindicatos identificou vários pontos que considera necessários atacar para garantir certo grau de estabilidade para os jovens que ingressam no mercado de trabalho. O governo deveria dar apoio financeiro aos que estão capacitados até que encontrem trabalho, acabar com a prática de exigir pelo menos três anos de estudos universitários para quem busca emprego antes de se diplomar e adotar regulações para garantir que as companhias ofereçam postos de trabalho estáveis, disse a entidade. No entanto, alguns discordam do enfoque dessas demandas.
Daiji Kawaguchi, professor de economia na Universidade de Hitotsubashi, em Tóquio, disse que, apesar de ser solidário com os protestos, acredita que deveriam ser mais realistas. “Um tema prioritário que o mercado de trabalho japonês enfrenta é como se tornar mais internacional. Os jovens devem desenvolver capacidade para enfrentar um mercado cada vez mais globalizado e participar do debate sobre aceitar mais mão de obra estrangeira”, disse à IPS. “Com o enfoque simples de expandir a rede de segurança, o movimento liderado pelos jovens é frágil”, afirmou.
Entretanto, economistas afirmam que há mudanças drásticas no mundo dos negócios no Japão, como realocação de fábricas em lugares mais baratos no exterior e esforços de cada vez mais empresas locais para reduzir custos e enfrentar a competição de produtos de outras nações asiáticas, como a Coreia do Sul.
Masao Fukunaga, que pesquisa a felicidade nacional bruta (indicador que mede a qualidade de vida), disse que o sonho dos jovens de um futuro estável se inspira na memória do antigo Japão, no qual a economia crescia e ainda estavam em vigor medidas para garantir empregos para toda vida. “Mas essa era está chegando ao fim. O futuro é difícil, e espero que os jovens que tomam as ruas pedindo apoio enfrentem essa realidade”, disse à IPS. Envolverde/IPS