São sempre questionáveis definições generalizantes sobre a juventude. De qual juventude estamos falando: a da cidade grande ou da zona rural? A dos bairros centrais ou da periferia? A dos países ricos ou pobres? Mas, hoje, há, de fato, um traço comum a grande maioria das pessoas do mundo com menos de 25 anos de idade: elas compõem o que alguns chamam “geração net”, aquela que está conectada continuamente, usando a rede mundial para desenvolver amizades, pesquisar assuntos de seu interesse, expressar-se em diversas mídias, criar e realizar tarefas diversas. É assim no mundo árabe e nos países do ocidente, nas nações ricas e nas que estão em desenvolvimento, no centro e na periferia, na cidade e no campo.
Esta geração está em profundo descompasso com a escola. Os jovens de hoje usam as novas tecnologias intensamente, mas, sobretudo fora da escola: baixando livros eletrônicos, aprendendo idiomas, participando de redes sociais, chats e grupos em que exploram assuntos de seu interesse de forma colaborativa. Em contraposição, a escola é marcada pela desmotivação provocada por exames e notas, pela rotina maçante, pela ausência de novidades.
Os estudantes que não têm seu potencial reconhecido ficam ainda mais desmotivados, não se sentem inteligentes e, aos poucos vão perdendo a capacidade de acompanhar as aulas. Claro que a inadequação do modelo escolar para a educação é muito anterior a estas novas tecnologias, mas, com elas, o descompasso se acentuou fortemente e agora, mais do nunca, precisamos superar o modelo atual por escolas que possibilitem o aprender para a vida, não para responder a exames; escolas diversas, qualificadas, que promovam o comportamento ativo e o aprendizado de longa duração.
Talvez não esperássemos desta geração que parece ensimesmada com seus aparelhos digitais que ela valorizasse o envolvimento com a comunidade e a capacidade de pensar no coletivo para superar o comodismo individual. Mas é isso que estamos testemunhando desde que se iniciaram os movimentos que vem derrubando as ditaduras no mundo árabe, a ocupação das praças nos países que naufragaram pela a crise causada pelo capital financeiro e também no movimento cultural da periferia de grandes cidades como São Paulo (SP).
Neste último contexto, o da periferia de São Paulo, está acontecendo uma movimentação cultural não apenas dos jovens, mas principalmente deles, em coletivos de audiovisual, design gráfico, literatura, música, teatro, grafite, rádio. É uma juventude em movimento, com garra e desejo de transformação da periferia, da cidade, do país, do mundo. Assim como na primavera árabe e nas praças ocupadas pelos indignados dos países ricos, o ambiente é de conexão, troca, solidariedade. Diferente do que dizem as definições generalizantes que de tempos em tempos ocupam as capas de revistas, os jovens de hoje não estão acomodados, alienados, despolitizados. Eles estão reinventando a política para derrubar ditadores, desafiar os mais ricos e inverter a lógica do mercado cultural.
E assim o desafio para a escola ficou ainda maior. Para se tornar relevante junto a esta nova geração, a escola precisa valorizar a sua curiosidade, orientar os estudos pelas perguntas que eles fazem, possibilitar-lhes explorar sua curiosidade escolhendo os temas a serem estudados, auxiliá-los a construir objetivos na vida e visualizar a conexão entre os aprendizados de hoje com estes objetivos. O educador será um exemplo a ser seguido quando estiver mais próximo de seus estudantes, tiver altas expectativas em relação a eles, os desafiar a construir novos conhecimentos e demonstrar sua criatividade e paixão pelo que ensina. Talvez agora seja o momento de os educadores seguirem o exemplo dos jovens.
*publicado originalmente no Portal Aprendiz.