Projeto da USP cria alternativas para o lixo eletrônico

O Cedir recebe lixo eletrônico para reutilizar e reciclar. Foto: msilvaonline

Implementar as práticas de reúso e descarte sustentável de lixo eletrônico, que inclui bens de informática e telecomunicações, é a principal função do projeto pioneiro no setor público intitulado Cedir (Centro de Descarte e Reúso de Resíduos de Informática). Criado pela USP (Universidade de São Paulo) em 2009, a iniciativa já é considerada referência nacional no tratamento adequado de resíduos eletrônicos.

Somente entre janeiro e junho deste ano, o Cedir recebeu quase 42 toneladas de equipamentos considerados lixo eletrônico. Neste período, foram descartados 1.439 monitores, 1.202 CPUs e 511 impressoras.

Em meio ao desenvolvimento do mundo atual, a grande velocidade dos avanços tecnológicos provoca uma exigência do consumidor em adquirir o modelo mais novo e acaba que por gerar um grande número de descartes. Nesse contexto, o Cedir oferece alternativas para o lixo eletrônico da comunidade uspiana e pessoas físicas da cidade de São Paulo, e pode servir de exemplo para toda a sociedade.

Em entrevista para o portal da USP, a professora e coordenadora do Centro, Tereza Cristina Carvalho, explicou a importância do projeto. “A principal contribuição do Cedir para a sociedade é garantir que os equipamentos eletro-eletrônicos da USP tenham destinação correta e que a maioria do material descartado possa retornar para a cadeia produtiva. Isto evita, por exemplo, que mais metais sejam extraídos da natureza”.

O Cedir implantou no campus da Cidade Universitária, em São Paulo, um galpão de cerca de 400 metros quadrados, onde recebe CPUs, monitores, mouses, teclados, no-breaks, estabilizadores, impressoras, telefones, celulares, fios e cabos, CDs, DVDs e pequenos objetos como câmeras fotográficas, pilhas, baterias e cartuchos descartados pela comunidade. Dessa forma, o lixo eletrônico não é enviado para lixos comuns, o que evita a contaminação de seres vivos pelas dezenas de substâncias tóxicas presentes nas sucatas.

Por satisfazer requisitos ambientais, sociais e econômicos, o projeto foi considerado sustentável pelas diretrizes da ONU.

De acordo com o relatório Recycling – from e-waste to resources (Reciclando – do lixo eletrônico aos recursos) publicado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), a geração global de lixo eletrônico cresce cerca de 40 milhões de toneladas por ano, e no Brasil são descartadas anualmente 96,8 mil toneladas de computadores.

Reaproveitamento e Reciclagem

Os equipamentos que possuem possibilidades de reaproveitamento passam por reformas e são encaminhados para projetos sociais cadastrados sob forma de empréstimo, ou seja, no final de sua vida útil deverão ser devolvidos ao Cedir.

Uma das entidades que recebem estes equipamentos reformados é o Clube de Mães Novo Recreio, que fica na periferia de Guarulhos, região metropolitana de São Paulo. Desde 2010, crianças, jovens e adultos da comunidade recebem aulas de informática graças aos 20 computadores emprestados pelo Cedir.

Em 2010, o Cedir e o Instituto Gea Ética e Meio Ambiente foram contemplados por um projeto da Petrobras que possibilitou a catadores de material reciclado receberem curso de capacitação para lidarem com o lixo eletrônico sem prejudicar a si mesmos e a natureza. Muitos dos equipamentos que não podem ser reaproveitados são desmontados e suas peças encaminhadas para estes recicladores.

Desde a sua inauguração, mais de 600 equipamentos, entre computadores e impressoras, já foram cedidos tanto para unidades da USP como também para entidades sociais cadastradas. Tereza aponta que o Cedir foi concebido para receber 500 computadores por mês (cerca de cinco toneladas). Mas, em alguns meses, são recebidas de dez a 12 toneladas de descarte. O número mensal de computadores reaproveitados varia entre 40 e 60 máquinas, mas ainda existe uma demanda reprimida dentro da USP.

* Publicado originalmente no site EcoD.