Comunidades africanas reaproveitam água de neblina

Sistemas de captação da água da neblina estão sendo desenvolvidos em boa parte do mundo. Foto: water mister

A África do Sul tem um índice pluviométrico anual de 490 milímetros, a metade da média mundial, segundo dados do Conselho para a Pesquisa Industrial e Científica. Mesmo sem considerar os efeitos das mudanças climáticas, espera-se que o país enfrente escassez hídrica em 2025. Para tentar mitigar esse cenário pouco animador, comunidades que sofrem com a falta do recurso estão utilizando uma técnica inovadora no sentido de obter água potável para o consumo: aproveitam a neblina.

Em paisagens montanhosas e com clima úmido, como na cidade Tshiavha, a água da neblina é coletada por um sistema usado nos Andes e no Himalaia. Uma malha é esticada e canos são colocados logo abaixo para que as gotas caiam em um reservatório.

Na cidade sul-africana, as redes foram montadas em escolas e levam um pouco de alívio à região. Com a previsão dos especialistas de que a África Austral ficará mais seca e mais quente nas próximas quatro décadas, estratégias como esta têm atraído novos olhares, enquanto a África do Sul se prepara para sediar a 17ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre o Clima (COP-17), entre os dias 28 de novembro e 9 de dezembro, em Durban.

Redes coletoras de neblina

Instaladas em 2007, com a ajuda de uma universidade local, as redes coletoras de neblina garantem até 2.500 litros de água em um dia bom. “A água é limpa e segura, e não contém produtos químicos”, destacou à France Presse Lutanyani Malumedzha, diretor da escola fundamental de Tshiavha.

Segundo ele, o acesso a água limpa melhorou significativamente a saúde das crianças da escola e reduziu o surto de doenças hídricas. “As crianças costumavam levar suas próprias garrafas d’água, durante os meses secos e quentes. A água, retirada de poços lamacentos, era inadequada para consumo humano”, lembrou Malumedzha.

“Nenhuma gota é desperdiçada. Parte dela vai para lá”, acrescentou o diretor, apontando para uma horta que abastece a escola com alimentos. “Uma alternativa com boa relação custo-benefício”, ressaltou Malumedza, ao observar que o sistema dispensa equipamentos eletrônicos e requer pouca manutenção.

Para Liesl Dyson, pesquisadora da Universidade de Pretória, “esta é uma alternativa com boa relação custo-benefício, que pode ser explorada de forma eficiente, em vista dos desafios hídricos que o país enfrenta”.

A província de Limpopo, no Norte, na fronteira com Botsuana, Zimbábue e Moçambique, onde fica o famoso Parque Nacional Kruger, é uma das regiões mais quentes do país. Mas este é um dos poucos lugares da África do Sul dotados de um clima propício para a coleta de neblina. “A neblina apenas não é suficiente, também é necessário vento para soprá-la”, explicou Dyson.

“Não ajuda muito se a neblina apenas se concentrar nas montanhas, sem se mover”, acrescentou. Segundo ela, o sistema foi usado em algumas áreas na costa Oeste e no Transkei, província do Leste do Cabo.

Direito da humanidade

A Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou, em 28 de julho de 2010, a resolução que reconhece o acesso a água potável e saneamento básico como um direito de todo ser humano. Segundo o documento votado pelos países-membros na Assembleia Geral, o fato de 884 milhões de pessoas não terem acesso ao recurso é de “extrema preocupação”.

O número dos que não recebem serviços de saneamento básico é quase três vezes maior, chegando a 2,6 bilhões de pessoas. Estudos analisados pela ONU revelam que pelo menos 1,5 milhão de crianças morrem, anualmente, antes de completar cinco anos por falta de água potável. O acesso a água limpa e a saneamento básico faz parte dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), uma agenda para erradicar e/ou reduzir males sociais até 2015.

* Publicado originalmente no site EcoD.