Pesquisa do Conselho Internacional de Transporte Limpo e da Universidade de Leicester revela que combustível gerado a partir do óleo de palma de turfeiras pode emitir tanto dióxido de carbono quanto fontes fósseis.
Não é novidade que os biocombustíveis podem não ser tão vantajosos ao meio ambiente quanto se costuma dizer, mas um novo estudo indica que eles podem ser ainda mais prejudiciais do que se pensava. Segundo uma pesquisa, as emissões de carbono de biocombustíveis gerados a partir do óleo de palma de turfeiras são maiores do que se estimava, podendo por vezes ser equiparadas às das fontes fósseis.
De acordo com a análise, desenvolvida pelo Conselho Internacional de Transporte Limpo (ICCT) e da Universidade de Leicester, a liberação de CO2 dos combustíveis do óleo de palma das turfeiras é mais de 50% maior do que se estimava anteriormente, já que os novos cálculos apontam para uma emissão de no mínimo 86 toneladas de dióxido de carbono anuais por hectare de plantação de palma, contra as 50 toneladas projetadas previamente.
“Embora os impactos das mudanças climáticas da produção de óleo de palma em turfeiras tropicais estejam se tornando mais reconhecidos, essa pesquisa mostra que estimativas de emissões foram esboçadas a partir de um número muito limitado de estudos científicos, a maioria dos quais subestimou a verdadeira escala de emissões do óleo e palma”, explicou Ross Morrison, coautor da pesquisa do Departamento de Geografia da Universidade de Leicester.
O problema na produção de biocombustíveis através do uso de óleo de palma é que este tipo de plantação, muito cultivado no sudeste de Ásia, frequentemente substitui as turfeiras – material parcialmente decomposto de origem vegetal – e a vegetação das florestas tropicais, que são grandes estoques de carbono.
“Turfeiras tropicais no Sudeste da Ásia são um armazém globalmente importante de carbono no solo – além da quantidade armazenada na vegetação da floresta tropical. Elas estão sob uma enorme pressão por causa do desenvolvimento de plantações”, alertou Susan Page, coautora também da Universidade de Leicester.
Com isso, além do dióxido de carbono que é emitido no consumo dos biocombustíveis, há também a liberação de CO2 proveniente do corte de árvores da floresta tropical e da eliminação das turfeiras, fazendo com que as emissões de todo esse processo se igualem as liberadas pela queima dos combustíveis fósseis.
“Além das grandes emissões e gases do efeito estufa associadas com as plantações de palma nas turfeiras tropicais, esses agrossistemas implicam na perda de floresta tropical primária e da biodiversidade associada, incluindo espécies raras e ameaçadas como o orangotango e tigre-de-Sumatra”, lembrou Page.
“Esses resultados mostram que os biocombustíveis que causam qualquer expansão significativa da palma na turfa tropical na verdade aumentarão as emissões em relação aos combustíveis do petróleo. Quando produzidos dessa forma, os biocombustíveis não representam uma fonte de combustível sustentável”, enfatizou Morrison.
Mas apesar do sinal de alerta, os cientistas alegaram que o resultado da análise é positivo, pois serve para conscientizar tanto o consumidor quanto os governos. “É importante que o ‘custo’ total de emissões de gases do efeito estufa da produção de biocombustíveis seja deixado claro para o consumidor, que caso contrário pode ser levado a pensar que todos os biocombustíveis têm um impacto ambiental positivo”, ressaltou a coautora.
“Estamos muito entusiasmados pelos resultados de nossa pesquisa – nosso estudo já foi aceito e usado por muitos cientistas, ONGs, economistas e assessores políticos na Europa e nos EUA para representar melhor a escala das emissões de gases do efeito estufa da produção e do consumo do biodiesel de óleo de palma”, acrescentou ela.
Ainda assim, os pesquisadores observam que é necessário não só estar ciente das emissões dos biocombustíveis, mas também buscar mudar a forma como este é produzido. “Projeções indicam um aumento nas plantações de óleo de palma na turfa para uma área total de 2,5 milhões de hectares até o ano de 2020 apenas no oeste da Indonésia – uma área equivalente em tamanho á área de terra do Reino Unido”, advertiu Page.
“Reconhecer que as emissões são maiores do que se pensava anteriormente ajudará os reguladores como a Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA), a Comissão Europeia (EC) e Conselho de Recursos do Ar da Califórnia (CARB) a identificar quais vias de biocombustível provavelmente levarão a reduções sustentáveis das emissões de gases do efeito estufa”, concordou Chris Malins, do ICCT.
* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.