De acordo com especialista, desconhecimento sobre este transtorno de aprendizagem faz que casos sejam confundidos com má alfabetização.
A dislexia é um transtorno de aprendizagem específico e persistente da leitura e da escrita. Tem origem neurofuncional e é caracterizado pelo baixo desempenho na capacidade de ler e escrever, mesmo com adequada instrução formal recebida, normalidade do nível intelectual e ausência de déficits sensoriais.
Estima-se que 4% da população brasileira tenha este transtorno, mas a falta de informação sobre o assunto torna o diagnóstico um desafio. Na realidade, como explica Ana Luiza Navas, presidente do Instituto ABCD e professora do Curso de Fonoaudiologia da Santa Casa de São Paulo, são problemas básicos como a falta de estimulação e a má qualidade do ensino nas escolas públicas que tiram a dislexia de pauta. “Muitas crianças são mal alfabetizadas ou têm perda auditiva, baixa de visão e tudo isso se confunde. Por isso existe tanta falta de informação, pois no meio de tantos problemas pelos quais passa nossa educação, a dislexia é o ‘menor’ deles”, diz.
De 31 de outubro a 6 de novembro é realizada no Reino Unido e em outros países da Europa a semana da divulgação sobre a dislexia, que visa a promover a disseminação de conhecimento sobre o assunto. Por aqui, a semana foi tema de uma palestra durante o 19º Congresso Brasileiro e o 8º Internacional de Fonoaudiologia, nos quais Ana Luiza falou sobre a atuação das organizações não governamentais neste setor e o papel do fonoaudiólogo.
De acordo com ela, em nosso país, o fonoaudiólogo é o profissional que mais tem se apropriado deste assunto. “Não é unânime, mas tradicionalmente a questão da dislexia e alterações de aprendizagem têm sido foco de interesse do fono. Ele tem um importante papel na equipe multidisciplinar que faz o diagnóstico da dislexia, ao lado do psicopedagogo e do neuropediatra. Cada um deles sozinho não consegue fechar o diagnóstico”, completa.
Tratamento é educacional e não há remédio
Com o diagnóstico fechado, tem início o tratamento. Nele, a criança vai desenvolver adaptações pedagógicas, com o apoio de atendimento especializado. “É importante ressaltar que o tratamento não prevê o uso de medicamentos. A dislexia se confunde muito com o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. Quando existe a comorbidade, a criança pode usar o medicamento para melhora do nível de atenção ou hiperatividade, mas só o uso de medicamento não melhora em nada a escrita ou a leitura”, ressalta.
Dislexia existe?
Justamente por se confundir com outros transtornos, alguns profissionais defendem que a dislexia não existe. Mas, para Ana Luiza, a afirmação não tem fundamento. “Não tem como refutar a evidência científica: no mundo inteiro existem legislações específicas para pessoas com dislexia. Há uma base genética importante na herança desse quadro. Pesquisadores estão convergindo para encontrar um grupo de genes comuns responsáveis pela dislexia. Existe um campo vastíssimo de investigação científica nessa área.”
Com base nessas evidências, países como Inglaterra, Finlândia e Estados Unidos investem hoje na intervenção precoce: filhos de pais com dislexia recebem acompanhamento educacional desde o início da alfabetização, mesmo antes de demonstrarem qualquer sinal que indique o transtorno.
“Há um programa nacional na Inglaterra em que as crianças passam por exames visuais, auditivos, entre outros, antes de entrar na alfabetização. E assim que começam a apresentar os primeiros sinais, recebem acompanhamento. Desta forma, a dislexia é identificada muito precocemente.”
Por lá, as empresas são obrigadas por lei a terem programas para recebimento de funcionários com dislexia. “As empresas devem ter recursos tecnológicos para ajudar o adulto com dislexia a se adaptar ao dia a dia da empresa.”
Sobre o Instituto
O Instituto ABCD tem por objetivo o fortalecimento de organizações que trabalham no diagnóstico e tratamento da dislexia no Brasil. “Ele foi idealizado para suprir a necessidade de divulgação da informação científica e ajudar tecnicamente para que as organizações possam atender melhor e ajudar a fazer essa formação – tanto de professores como de profissionais da área da saúde.” Mais informações sobre a semana podem ser obtidas no site da instituição.
* Publicado originalmente no site O que eu tenho.