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Indignados e sindicalistas encontram causa comum

A ativista Mary Clinton pensa na próxima etapa do movimento Ocupe Wall Street. Foto: Sandra Siagian/IPS.

Nova York, Estados Unidos, 10/11/2011 – Quando Mary Clinton, de 25 anos, organizou junto com outros ativistas norte-americanos a mobilização Ocupe Wall Steet, no dia 17 de setembro, nunca imaginou que a iniciativa se transformaria em um “movimento popular de esquerda do Século 21”. “O revolucionário do movimento é que permitiu novas formas de organização que não haviam sido testadas antes nos Estados Unidos. É realmente um momento novo”, disse Mary no fórum “Jovens trabalhadores e organizadores: confrontando uma economia fracassada”, convocado pelo Instituto Murhy de Estudos Trabalhistas e Educação para os Trabalhadores.

A jovem procurou incentivar estudantes, acadêmicos e ativistas a ajudar a criar uma estratégia para a fase seguinte do movimento: recriar a economia e melhorar a vida das pessoas. Mary teve um papel importante em conseguir o apoio da central sindical Federação Americana do Trabalho-Congresso de Organizações Industriais (AFL-CIO) ao movimento Ocupe Wall Street em setembro. Não é um fenômeno dos últimos 60 dias, mas uma luta de várias décadas, explicou a ativista no fórum realizado no dia 5 em Nova York.

“Fazemos isto há tempos. Existe um movimento para resolver seus problemas e é o dos trabalhadores”, afirmou. “De nosso lugar, contamos com uma ferramenta particular ao podermos trabalhar com capacidades internas das organizações, mobilizar e construir um movimento de trabalhadores melhor dentro do contexto da luta social”, explicou Mary. Seu companheiro Alvin Ramnarain, diretor de atividades de campo do sindicato RWDSU Local 1102, que reúne trabalhadores de diferentes setores, concordou que o Ocupe Wall Steet não é novo, mas suas táticas e a rapidez com que ocorrem os acontecimentos são.

“Os jovens procuram promover uma mudança, e creio que é a primeira vez que uma ação coletiva concentra tanto interesse em vários lugares do país. Também creio que coincidiu de as coisas estarem tão mal que realçaram o que estava equivocado, e nesse sentido também é novo”, disse Alvin. Julia Getzel, carpinteira com experiência e integrante da Irmandade Unida de Carpinteiros, participaria das ações de 17 de setembro que levaram à criação do movimento, mas precisou se ausentar algumas semanas antes por ter conseguido trabalho que não podia rejeitar porque estava desempregada há 18 meses.

Os Estados Unidos têm a pior distribuição da riqueza em um século, disse Julia no fórum. “O Ocupe Wall Street faz um amálgama entre o que deu mais resultado e escolhe o que funciona para as dificuldades atuais”, afirmou à IPS. “Há uma grande desigualdade na distribuição da riqueza. Antes havia uma oligarquia, mas a diferença é que agora temos a tecnologia para difundir a mensagem e iremos à raiz do problema, não apenas à sua manifestação”, ressaltou.

Um movimento sem líderes

Uma das questões apresentadas pelos estudantes e sindicalistas no fórum foi a credibilidade de um movimento sem líderes. Um deles disse que teme o conceito por não acreditar que “o fato de declarar não ter líderes não significa que não os tem”. Julia declarou pensar “que deve ser assim porque o movimento está nas fraldas e existe há apenas seis semanas”. “Se houvesse um líder, essa pessoa teria seu próprio ponto de vista e não representaria 99% dos participantes. A liderança não funcionou nos últimos 30 anos para outros modelos, muitos sindicatos enfraqueceram, e é óbvio que esse modelo tem um problema”, acrescentou.

A participação de vários setores, desde trabalhadores da saúde até empregados administrativos, faz com que cada um tenha preocupações particulares, o que poderia ser problemático para conseguir um resultado comum, reconheceu Julia. “Agora estamos na fase de compartilhar ideias, e as ações são contra a disparidade da riqueza”, esclareceu. “No momento, não deve haver líderes para ser possível construir o movimento. Se alguém puder me explicar qual é a raiz do problema, então teremos um, mas até lá todos compartilhamos o mesmo problema”, ressaltou.

Futuras estratégias

Outro assunto que preocupa os jovens atualmente é a insegurança econômica, que pode ter forma de desemprego ou subemprego, bem como o peso do endividamento, disse à IPS David Pedulla, de 29 anos, estudante de sociologia e políticas sociais da Universidade de Princeton. “É fundamental melhorar as oportunidades de trabalho e a segurança econômica dos jovens”, afirmou. Para ele, “foi muito inspirador ouvir a complexidade e a honestidade com que as pessoas pensavam e falavam sobre estratégias para uma mudança social. Não parto com respostas concretas, mas com a esperança e a confiança de que estas virão se continuarmos fazendo as perguntas corretas”, ressaltou.

Com a incorporação de trabalhadores jovens, o movimento sindical poderá se revitalizar e ser mais representativo, afirmou Julia. “O movimento pode ser catalisador para renovar e validar a energia necessária para fortalecer o sindicalismo, assim este pode refletir as necessidades e os direitos de suas bases, e sobreviver para as futuras gerações”, disse à IPS.

O Ocupe Wall Street tem plena consciência de seus vínculos com outras lutas, afirmou, por sua vez, Frances Fox Piven, professora de sociologia e ciências políticas na estatal Universidade da Cidade de Nova York. É o primeiro movimento juvenil que viu se relacionar com o sindicalismo. “Não creio que o Ocupe Wall Street peque por acreditar que representa todos, mas trouxe muito entusiasmo à luta atual. Temos que reforçar as ações e aumentar o trabalho do movimento para que as pessoas não se deixem estagnar”, afirmou Frances. Envolverde/IPS