África: A crise agrava o círculo vicioso pobreza-desnutrição

Johannesburgo, África do Sul, novembro/2011 – Durante os próximos mil dias, 75 milhões de crianças africanas entrarão no mais crítico período de suas vidas. A ciência demonstrou que a fase mais precoce do desenvolvimento tem um impacto fundamental no futuro de uma criança, de sua comunidade e de sua nação. Se sua mãe estiver bem alimentada, terá muitas melhores oportunidades de sobreviver em seus primeiros meses. Se for criado com leite materno nos primeiros seis meses e depois receber alimentos nutritivos contendo vitaminas e minerais essenciais para a idade de dois anos, é mais provável que possa completar sua educação, ter um coeficiente de inteligência mais alto e 46% mais de expectativa de vida.

De fato, a estatura de uma criança de dois anos é o melhor índice para prever seu capital humano. Incrivelmente, a metade do insuficiente crescimento de uma criança é gerada durante a gravidez. Por esta razão, o 6º Informe das Nações Unidas sobre a Situação da Nutrição Mundial defende a realização de um renovado esforço para investir na nutrição materna para romper o ciclo entre gerações de redução do crescimento.

Está bem documentado que o baixo crescimento é transmitido através das gerações por meio da mãe. É mais provável que as mulheres adultas de baixa estatura tenham bebês com baixo peso ao nascerem. Por sua vez, as meninas nascidas com baixo peso mais provavelmente terão crescimento insuficiente durante a infância e se converterão em adultas de baixa estatura.

O ciclo pode ser rompido se for melhorado o acesso a uma nutrição de qualidade, especialmente se o esforço se concentrar em mulheres em idade reprodutiva. Ao melhorar suas reservas de elementos nutrientes cruciais – como ferro e ácido fólico – na preparação para a gravidez, se reduz o risco de mortalidade da mãe e se protege o bebê contra os debilitantes e frequentemente mortais defeitos de nascimento.

Estamos em uma situação sem precedentes na história na qual a escassez de recursos, o aumento da população e a subida de mercados emergentes se combinarão para criar uma ameaça sistêmica contra as antigas instituições e as relações internacionais que sustentam a segurança global.

O que se necessita para enfrentar esses desafios é de novas vias de colaboração entre os setores, com a sociedade civil na vanguarda, em demanda de uma eficaz liderança dos governos para criar uma sociedade justa, na qual toda mãe e seu filho tenham acesso a uma assistência sanitária de qualidade, nutrição adequada e leis que protejam seus direitos.

Para alcançar essas ambiciosas metas, necessitaremos que os setores público e privado trabalhem juntos para maximizar o impacto de nossos esforços e investimentos, e criar a muito necessária eficiência em nossos modelos de serviço público.

Na verdade, não bastam os fundos públicos para enfrentar os crescentes desafios de nosso sistema de saúde, como os ligados ao HIV/aids, à desnutrição, saúde materna e infantil ou às emergentes epidemias que afetam a saúde pública, o que inclui doenças crônicas como diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares.

Um estudo recente de Harvard demonstra que a estatura alcançada é um determinante indicador do status socioeconômico de uma mulher e da saúde, do bem-estar e do potencial econômico de seus filhos. Dos 54 países incluídos no estudo, a estatura das mulheres diminuiu em 14, todos na África, e se manteve estável em 21. Os pesquisadores atribuem a queda ou a estabilidade à pobre nutrição, à exposição a infecções e outros fatores ambientais que podem impedir ou dificultar o crescimento das crianças.

Quando pensamos em 2030, e nas oportunidades que a África oferecerá às suas próximas gerações, devemos ter em mente as mães de 75 milhões de crianças que agora estão no período dos mil dias críticos para o desenvolvimento. Investir no futuro de nossa juventude com a segurança de que esteja adequadamente nutrida não só pode romper o ciclo da pobreza, como pode aumentar seu potencial para o bem do continente africano. Envolverde/IPS

* Jay Naidoo preside a Aliança Mundial para Melhorar a Nutrição (GAIN).