Nova York, Estados Unidos, 11/11/2011 – A Palestina não renunciará à sua intenção de se converter em membro pleno da Organização das Nações Unidas (ONU), apesar das previsões de que não conseguirá os nove votos necessários no Conselho de Segurança.
“Não somos o primeiro nem seremos o último país a não conseguir na primeira tentativa”, disse Riyad Mansour, representante da Palestina nas Nações Unidas, na semana passada em entrevista coletiva. “Se não conseguirmos os votos necessários para o Conselho recomendar a admissão do Estado palestino à ONU, a Palestina voltará a tentar porque “é seu destino”, acrescentou.
Os palestinos venceram um grande obstáculo na semana passada quando conseguiram a incorporação à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), o que levou os Estados Unidos a suspenderem sua contribuição a essa agência da ONU.
“Não foi certo os Estados Unidos deixarem de financiar a Unesco”, lamentou Mansour. “Procuramos ser como outros ao nos unirmos a essa importante agência da ONU como membro pleno e participarmos de um processo coletivo com toda a humanidade. Para nós, não é uma atitude ofensiva nem prejudicial contra ninguém”, acrescentou.
“Castigar a Unesco economicamente por esse ato inofensivo e legal dos palestinos excede toda compreensão”, insistiu Mansour, acrescentando esperar que Washington reverta a decisão de alguma forma. “Desejamos ser admitidos e contar com a recomendação do Conselho de Segurança”, afirmou.
“Esperamos prevalecer no Conselho de Segurança, esta é a realidade e queremos que este exercício termine”, afirmou o representante palestino. Contudo, reconheceu que “este poderoso país votará contra nossa solicitação, tenhamos a favor 14 votos ou um”, acrescentou se referindo à decisão norte-americana de vetar a petição.
Após a votação da Unesco na semana passada, Israel decidiu reter milhões de dólares de impostos para a Autoridade Nacional Palestina (ANP), criada no contexto dos acordos de Oslo, assinados em 1993 entre a Organização para a Libertação da Palestina e Israel. Rashid Khalidi, professor da cátedra Edward Said de estudos árabes da Universidade de Colúmbia, afirmou que a decisão israelense de confiscar impostos é mais uma prova da futura bancarrota da ANP.
A atitude “revela que é um elemento a mais da ocupação, que esses territórios estão totalmente controlados por Israel e que a ilusão da autonomia já não é uma ilusão”, disse Khalidi, aberto defensor dos direitos palestinos. A violenta reação do Congresso dos Estados Unidos foi outro exemplo da exagerada “resposta histérica” de funcionários eleitos que “não têm nem ideia do que está ocorrendo, salvo pela mão de propagandistas israelenses que lhes dão de comer”, ressaltou.
“A incorporação da Palestina à ONU deve ser considerada como um avanço para a resolução do conflito, para colocar as partes sobre uma base de maior igualdade e superar os 20 anos e incontáveis fracassos do chamado processo de paz para realmente tratar de instaurá-la”, disse à IPS. “Qualquer um que realmente queira resolver o conflito deve saudar a ideia de os palestinos abandonarem esse caminho que os levou à ruína”, acrescentou.
O professor de direito internacional e comparado John Quigley, da Universidade de Ohio, afirmou que a resposta dos Estados Unidos foi infeliz. Também lhe preocupa a possibilidade de a Palestina pedir sua incorporação a outra agência da ONU, como a Organização Mundial da Saúde, onde a contribuição dos Estados Unidos é muito maior do que a da Unesco, com repercussões novamente negativas.
“Um dos resultados positivos da votação na Unesco é que foi substancial a França votar a favor”, disse Quigley à IPS. “Estabelece o fato de a Palestina ser aceita como Estado pela comunidade internacional e que sua existência como tal é um requisito para integrar-se à Unesco”, explicou.
A decisão israelense de confiscar os impostos viola suas obrigações como potência ocupante, “pois o dinheiro que cabe ao governo palestino, e a única razão pela qual Israel o tem é porque sua força militar controla as fronteiras”, afirmou Quigley,. “É uma violação grave das leis de uma potência ocupante. O Conselho de Segurança deveria punir Israel por isso”, ressaltou.
O presidente da ANP, Mahmoud Abbas, apresentou no dia 23 de setembro a petição para incorporar a Palestina à ONU como membro pleno, apesar da pressão de funcionários norte-americanos para primeiro começarem as conversações diretas de paz com Israel.
“Já se passaram 50 dias desde a apresentação e nove reuniões”, disse Mansour se referindo à votação de hoje. “Cremos que já houve reuniões suficientes para examinar nosso pedido e é hora de o Conselho de Segurança agir”, afirmou. “É um assunto sério e queremos que o Conselho tome uma decisão, uma vez analisadas todas as áreas”, acrescentou.
“A julgar por sua atuação desde 1947, Washington exercerá pressão suficiente para conseguir o que quer de uma forma ou de outra”, afirmou Khalidi. “Seja vetando ou não alcançando os nove votos necessários por pressão norte-americana, o resultado será o mesmo: os Estados Unidos serão novamente um obstáculo”, ressaltou. Envolverde/IPS