“Perco meu sono sempre que alguém me vem com essa conversa de soluções de mercado para o problema da sustentabilidade”, atacou uma companheira de estrada, depois de ler uma notícia do Instituto CarbonoBrasil replicada no próprio Mercado Ético. O título era o seguinte: WWF divulga inovações comerciais em prol do ambiente. Fala do novo relatório da ONG sobre a implantação de ações verdes em certas companhias com o objetivo de incentivar uma economia mais sustentável.
Eu tendo a concordar com minha amiga, que diz que o foco dessa conversa deve ser nas pessoas. Mas inevitavelmente as soluções para um mundo mais sustentável vão passar sim por questões financeiras. Aliás, já estão passando.
Na quinta-feira (10), estive na Fimai (Feira e Seminário Internacional do Meio Ambiente Industrial e Sustentabilidade), em São Paulo, e percebi que muitas empresas estão apresentando novos negócios diante das crises que enfrentamos hoje. São soluções em energia limpa, saneamento, transporte, reciclagem, etc. As oportunidades certamente são tão grandes quanto os problemas. Nos Estados Unidos, por exemplo, os negócios verdes já empregam mais do que a indústria do combustível fóssil e do que grandes corporações tradicionais, segundo estudo do Brooking Institute, uma organização sem fins lucrativos focada em políticas públicas.
Para os negócios mais tradicionais e ainda pouco sensíveis a essa questão, o primeiro passo é mostrar como a degradação do meio ambiente ameaça a perenidade das suas operações. A conta é muito simples. Se os recursos que são utilizados no produto não são renováveis, ou não se renovam na velocidade em que são retirados da natureza, obviamente vai chegar um dia em que não estarão mais disponíveis, o que fará o sistema colapsar. Ou então, que tal colocar na conta os prejuízos com impactos socioambientais? Se por exemplo uma comunidade em algum canto da Argentina registra maior número de casos de câncer por conta do uso de agrotóxico nas culturas da redondeza (baseado em fatos reais), quanto isso custaria ao produtor em termos de tratamentos médicos e perda de mão de obra? Por que além dos recursos que utiliza, não cobrar dele também o prejuízo social que sua atividade causa?
É claro que não dá para deixar tudo na mão do mercado. No papel, tudo funciona muito bem! Mas quando essas coisas entram no mundo real, ninguém melhor do que os caubóis de Wall Street para mostrar que apesar da “rapadura ser doce, ela não é mole não”. E isso sim, vem tirando o sono de muita gente.
* Publicado originalmente no site Mercado Ético.