Muito se falou sobre o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). Poucos leram o documento, mas criticaram o fato de o Brasil subir só uma posição no ranking global (84ª posição) de 187 países.
Alguns ignoraram a advertência do próprio Pnud de que “é enganoso comparar valores e classificações do IDH 2011 com os de relatórios publicados anteriormente. Isto porque, além da inclusão de 18 novos países e territórios, os dados e métodos sofreram ajustes e algumas mudanças”.
Em artigo publicado nesta Folha, um ex-economista do Pnud (Flavio Comim, “IDH, como uma onda no mar”, 6/11) desconsiderou o seguinte alerta da instituição em que trabalhou: o IDH 2011 “mostra que o Brasil faz parte do seleto grupo de apenas 36 dos 187 países que subiram no ranking entre 2010 e 2011, seguindo os dados recalculados para a nova base deste ano. Os outros 151 permaneceram na mesma posição ou caíram”.
O IDH reflete as alterações na renda nacional, na expectativa de vida e nos anos de estudo.
Em sua obra clássica, o economista Gunnar Myrdal sublinha o papel central da renda para o bem-estar social.
Entre 1980 e 2003, a renda per capita brasileira cresceu míseros 6%; na China, ela setuplicou; na Índia, dobrou. Isso explica “o vigor da juventude” do IDH desses países e o nosso atraso relativo.
Após 25 anos, desde 2006 voltamos a trilhar o caminho do crescimento, com reflexos positivos no mercado de trabalho e na redução da pobreza e da desigualdade.
Apesar das restrições financeiras e dos problemas estruturais da saúde, o SUS tem feito progressos.
A taxa de mortalidade infantil caiu de 47% para 16% entre 1990 e 2010 (Nordeste: de 76% para 24%). A expectativa de vida progrediu: “no caso brasileiro, essa evolução do IDH do ano passado para este ano contou com um impulso maior da dimensão saúde –medida pela expectativa de vida–, responsável por 40% da alta”, afirma o Pnud.
Na educação, universalizamos o acesso: 98% das crianças de seis a 14 anos estão na escola. O desafio presente é melhorar a qualidade.
A educação infantil poderá contribuir para isso. O filho do rico entra no ensino fundamental alfabetizado pela pré-escola. O filho do pobre deveria ter o mesmo direito.
Na última década, a proporção de crianças de zero a cinco anos que está na escola aumentou de 23% para 38%. A escolaridade média é baixa (7,4 anos), mas, desde 1999, a proporção de pessoas de 18 a 24 anos (PEA) com 11 anos de estudo subiu de 22% para 41%.
Em suma, a questão social no Brasil é uma chaga secular. Mudanças são processos lentos que exigem continuidade e investimentos – e, de fato, gastamos pouco em saúde e em educação. Porém, não vagamos “como uma onda no mar”, como afirma o especialista.
* Eduardo Fagnani é professor doutor do Instituto de Economia da Unicamp.
** Publicado originalmente no jornal Folha de S.Paulo e retirado do site IHU On-Line.